Hong
Kong, China, 04 jan (Lusa) -- O chefe do executivo de Hong Kong afirmou hoje
estar "muito preocupado" com o desaparecimento de cinco livreiros
conhecidos por publicações críticas de Pequim, após um proeminente advogado ter
acusado as autoridades chinesas de os ter raptado.
Segundo
a fonte, todos trabalhavam para a mesma livraria e casa editora, com sede em
Hong Kong, receando-se que tenham sido ilegalmente detidos pelas autoridades da
China, agravando a crescente preocupação relativa à erosão das liberdades da
Região Administrativa Especial.
"Eu
e os departamentos governamentais relacionados estamos muito preocupados",
afirmou CY Leung, aos jornalistas.
Ao
abrigo da Lei Básica -- a miniconstituição -- Hong Kong goza de um determinado
grau de autonomia e de liberdades, incluindo de expressão e de imprensa, e as
autoridades da China não têm o direito de operar na cidade, sendo que, a
confirmar-se a suspeita entretanto generalizada, tal constituiria uma violação
do princípio "Um País, dois sistemas".
"O
Governo preocupa-se muito com os direitos e a segurança dos residentes de Hong
Kong", realçou, acrescentando que as liberdades de imprensa, publicação e
expressão estão protegidas por lei.
O
veterano deputado do Partido Democrático de Hong Kong e também advogado Albert
Ho afirmou, este domingo, acreditar que os livreiros foram raptados por agentes
de segurança da China.
Questionado
sobre essa possibilidade, CY Leung afirmou não haver indicações e apelou a quem
disponha de qualquer informação para a revelar.
Desconhece-se
onde se encontram os livreiros ou de que forma desapareceram.
CY
Leung é visto como próximo de Pequim e é uma figura altamente contestada pelos
ativistas pró-democracia que neste caso em particular o criticam por não ir
longe o suficiente na hora de pressionar as autoridades chinesas em busca de
informação.
"O
Governo de Hong Kong e Leung Chun-ying devem manifestar a preocupação de Hong
Kong ao mais alto nível da China, em vez de estar à espera de uma
resposta", disse o deputado pró-democrata Lee Cheuk-yan.
O
secretário para a Segurança em exercício John Lee disse no domingo que a
polícia de Hong Kong questionou a entidade homóloga chinesa e que estavam à
espera de uma resposta, segundo os 'media' locais.
Outros
deputados, incluindo a antiga chefe da Segurança e pró-Pequim Regina Ip, têm
instado o Governo da antiga colónia britânica a investigar.
Os
cinco homens trabalhavam para a empresa Mighty Current, que, segundo rumores,
estaria prestes a lançar um livro sobre uma antiga namorada do Presidente
chinês, Xi Jinping.
Trata-se
da proprietária da livraria Causeway Books -- onde se podem encontrar obras
críticas do regime e do Partido Comunista chinês e, portanto, popular entre muitos
turistas provenientes da China, dado que lhes veem vedado o acesso a este tipo
de leituras.
O
último livreiro a ser dado como desaparecido foi Lee Bo, de 65 anos, visto pela
última vez em Hong Kong na passada quarta-feira.
A
mulher de Lee Bo afirmou que o marido lhe telefonou a partir da cidade vizinha
de Shenzhen na noite em que desapareceu, tendo-lhe dito que "estava a
colaborar com a investigação" relativa aos colegas desaparecidos, e achou
estranho que tenha falado em mandarim em vez de cantonês (falado em Hong Kong),
tendo reportado o seu desaparecimento à polícia na sexta-feira.
A
polícia da antiga colónia britânica está a investigar o desaparecimento de Lee
e de outros três colegas que também se acredita que desapareceram na cidade
vizinha de Shenzhen.
Um
quinto, de passaporte sueco, foi dado como desaparecido em outubro, durante as
férias na Tailândia.
Antiga
colónia britânica, Hong Kong foi devolvida à República Popular da China em
1997, sob a fórmula "um país, dois sistemas", que promete manter os
sistemas sociais e económicos da cidade durante 50 anos, detendo o estatuto de
Região Administrativa Especial.
Macau,
cuja transferência do exercício de soberania de Portugal para a China teve
lugar dois anos depois, em 1999, detém o mesmo estatuto de Região
Administrativa Especial.
DM
// ARA