Lisboa,
08 abr (Lusa) - A manutenção do português como língua oficial em Timor-Leste é
fundamental para a identidade do território e "como forma de afirmação
contra o 'lobby' do inglês e do indonésio", disse à Lusa o investigador
timorense Luís Costa.
"Para
o bem de Timor-Leste, para a afirmação da sua identidade nacional e da sua
situação geoestratégica, ter o português como língua oficial afasta-o da
Austrália e da Indonésia e liga-o à CPLP, logo à América, à África e à
Europa", declarou à agência Lusa o autor de "Língua Tétum -
Contributos para uma Gramática", livro que é apresentado hoje, pelas
18:00, na Embaixada da República Democrática de Timor-Leste, em Lisboa, por
Margarita Correia, que trabalha com Luís Costa nas suas pesquisas na área da
linguística.
Luís
Costa acredita que "há uma vontade firme do Governo de Timor-Leste e dos
próprios timorenses em que o português e o tétum se afirmem como línguas
oficiais, ainda que isso leve o seu tempo e que deva ficar claro que o
português de Timor-Leste não será como o de Portugal ou o do Brasil ou o de
Angola, pois cada país tem o seu português".
"O
tétum e o português vão caminhar lado a lado, vão-se reforçando, e o português
vai-se afirmando cada vez mais em Timor-Leste conforme os seus termos técnicos
integrarem o tétum", língua que, por seu lado, progredirá "à medida
que o português se enraizar na sociedade timorense", explicou o docente de
língua e cultura timorenses, a residir em Portugal há 30 anos.
O
investigador reagiu ainda ao facto de o Parlamento Nacional timorense ter
voltado a adiar, a 23 de março, desta vez por falta de quórum, o debate sobre
os decretos dos currículos do pré-escolar e ensino básico, em que se privilegia
o uso das línguas maternas como componente curricular, num modelo que introduz
o tétum e o português, as duas línguas oficiais, de forma progressiva.
No
caso do português, só começará a ser língua de instrução a partir da 4.ª
classe, e o seu ensino terá apenas 25 minutos por semana no 1.º ano.
"Penso
que o desenvolvimento de uma língua materna é importante, nomeadamente para as
crianças poderem falar, mas, nesta fase da realidade de Timor, é mais relevante
dar atenção às línguas oficiais, o português e o tétum, pois serão elas a
afirmar a identidade do povo timorense. Se nos formos limitar às línguas
maternas, vamos estar a dividir a nossa sociedade", considerou Luís Costa.
"Além
disso, se as línguas timorenses são apenas de índole oral, como vamos fazer
quando quisermos trabalhar o abstrato? Que termos vamos, então, usar? Teremos
sempre de recorrer ao português", explicou à Lusa, sustentando que "o
tétum e o português devem ser ensinados desde a instrução primária ou até
pré-primária, para que as crianças as vão assimilando e conhecendo os termos,
de modo a poderem exprimir-se mais cedo e a possuírem um bom domínio do
português quando chegam a um nível de ensino mais avançado".
Foi
esta preocupação com o domínio dos idiomas que levou Luís Costa a escrever
"Língua Tétum - Contributos para uma Gramática", que resulta "de
uma reflexão e uma recolha iniciadas há vários anos", mas que apenas
agora, mediante apoios, sai do prelo, com a chancela das Edições Colibri.
"O
objetivo da obra é facultar o meu próprio conhecimento da língua tétum para que
ela, no futuro, possa ser uma língua de ensino. Até agora, a tradição do tétum
é apenas oral, sem estruturas e, embora haja já um projeto ortográfico
apresentado pelo Instituto Nacional de Linguística de Timor e aprovado pelo
Parlamento, não há propostas sobre como desenvolver a língua", esclareceu,
adiantando que o tétum tem de ser desenvolvido de modo a permitir "a abordagem
de conceitos de âmbito científico, filosófico e antropológico".
Luís
Costa é também autor do "Dicionário de Tétum-Português" (2000) e do
"Guia de Conversação Português-Tétum" (2001), bem como organizador do
volume "Borja da Costa - Selecção de poemas" (2010, em português e em
tétum), de homenagem ao irmão, morto a 07 de dezembro de 1975, dia da invasão
indonésia, tendo outras obras na gaveta, "à espera de tempo e de
apoios" para serem publicadas.
HSF
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