M.Azancot de Menezes*, Díli
No âmbito do XXVI Encontro da Associação das Universidades de Língua Portuguesa que começou ontem em Díli, vários dirigentes políticos e académicos do País têm-se referido à mobilidade académica do ensino superior no quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) com grande optimismo, a meu ver muito exagerado, transmitindo a ideia de que há imensa vontade política assumida, e passando a mensagem de que as Instituições de Ensino Superior timorenses têm planos de desenvolvimento estratégicos capazes de responder com essa aparente facilidade aos desafios que estão a ser propostos com a apregoada e desejada mobilidade académica no espaço da CPLP.
O
processo de mudança socioeconómico, cultural e ao nível da tecnologia, com o
andar dos anos, em todo o mundo, desenvolveu novas necessidades formativas para
todos os cidadãos que pretendem viver numa sociedade do conhecimento, mais
justa e solidária, em contexto de globalização.
Nesta
linha de raciocínio, parece de toda a conveniência analisar-se o processo de
internacionalização da educação superior em Timor-Leste evidenciando-se as
vantagens da cooperação internacional como mecanismo fundamental para o avanço
da ciência e da tecnologia, destacando-se o papel das instituições
internacionais em todo o processo, logo, não com o optimismo proclamado,
entendo que a mobilidade académica, nomeadamente, a estudantil, é uma das formas
de materialização da internacionalização da educação superior.
Esta
tese de que não devemos esperar sucessos imediatos resulta da problematização
em torno desta questão (mobilidade académica) no contexto nacional, porquanto,
basta pensarmos que as nossas Instituições de Ensino Superior (IES), na sua
maioria, não devem ter um Plano de Desenvolvimento Institucional que inclua um
diagnóstico de mobilidade académica, nem um plano estratégico de mobilidade
académica. Por outras palavras, Porquê a mobilidade académica? Para quê? Como
fazer? Quem são os protagonistas? São perguntas simples que requerem respostas
complexas.
As
IES deviam ser elas a tomar a iniciativa de conceber a mobilidade académica
como parte integrante das suas missões institucionais e deviam ter estruturas
para promover e organizar, fazendo levantamentos de mobilidade e de
dificuldades, com a identificação de fontes de financiamento.
Quando
tudo parte de cima, algo não está bem, suscita a ideia de que pode haver
interesses hegemónicos, inconfessos, de cima para baixo, em que a
internacionalização da educação, ao invés de salientar a vertente de justiça e
equidade, promove a mercadorização da educação, nomeadamente porque não haverá
uma reciprocidade nas trocas.
Por
outro lado, a mobilidade académica no espaço da CPLP, mesmo que por hipótese
académica seja apenas para estudantes timorenses de graduação se deslocarem por
períodos de dois semestres, para estágios no exterior ou para outros programas
de formação que não impliquem a concessão de grau académico por parte da
universidade acolhedora, exigirão ao estudante timorense conhecimentos
razoáveis de língua portuguesa. Este é um outro problema (muito) sério para
resolver, a adicionar a tantos outros relacionados com a nossa incapacidade de
proceder a inovações e mudanças no currículo universitário, e por termos
(ainda) uma visão muito redutora do ensino superior, e resistência à mudança.
A
maior parte dos professores que temos no País não dominam a língua portuguesa
porque foram formados no período da ocupação indonésia, principalmente nos anos
80, altura em que a Indonésia teve uma política mais agressiva no processo de
aniquilamento do português, e da imposição da língua utilizada pelo país
invasor.
A
verdade é que os nossos docentes, mesmo na Universidade Nacional de Timor
Loro´sae (UNTL) e na Universidade de Díli (UNDIL), muitos deles, leccionam em
tétum e em língua indonésia, e não há cumprimento cabal das orientações
superiores, por razões de ordem objectiva e subjectiva.
A
mobilidade académica não envolve apenas a deslocação física, inclui outras
dimensões e significados. A Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP),
o Fórum da Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa
(FORGES) e outras organizações da CPLP, sem dúvida, poderão ser uma mais-valia.
Contudo,
o nosso governo terá que ter a capacidade de compreender o processo de mobilidade
académica do ensino superior na sua plenitude, em relação à avaliação,
qualidade e pertinência da mobilidade académica, e as nossas instituições de
ensino superior terão que voluntariamente proceder à elaboração de
diagnósticos, e à definição de objectivos e planos de acção para a
concretização do processo de mobilidade no quadro do plano de desenvolvimento
institucional.
*Secretário-Geral
do Partido Socialista de Timor (PST)