Díli, 23 out (Lusa) - Timor-Leste
tem estado a negociar com empresas asiáticas o seu eventual envolvimento no
desenvolvimento dos campos de Greater Sunrise e na compra do gás produzido,
reduzindo os custos timorenses no projeto, disse à Lusa fonte envolvida nas
negociações.
"O que está a ser negociado
pode tornar realidade o sonho de um gasoduto para Timor-Leste com um custo
reduzido para os cofres timorenses e sem grandes danos para o Fundo
Petrolífero", disse a mesma fonte.
A estratégia em cima da mesa,
explicou a fonte, prevê o envolvimento de empresas asiáticas tanto na
componente relacionada com o 'upstream' dos poços do Greater Sunrise, como no
'downstream', até à costa sul de Timor-Leste e posterior tratamento em terra.
Em projetos petrolíferos, o
'upstream' abrange as atividades de exploração, perfuração e produção e o
'downstream' as atividades de transporte, distribuição e comercialização.
O acordo mais amplo incluiria
investimento nas operações nos poços em si, o financiamento bonificado através
de créditos com taxas de juro mínimas para o custo do 'downstream' e, na reta
final, garantias de compra do gás produzido na planta de GNL (Gás Natural
Liquefeito) em Timor-Leste.
A decisão de Timor-Leste acordar
com a petrolífera ConocoPhillips a compra da sua participação de 30% no
consórcio dos poços de Greater Sunrise fez parte desta estratégia.
Essa operação já foi aprovada em
Conselho de Ministros, terá de ser integrada no Orçamento Geral do Estado para
2019 e tem ainda de passar vários processos, incluindo autorização dos
reguladores e o crivo dos restantes parceiros do consórcio que podem exercer
direitos preferenciais.
Na semana passada em Lisboa,
Xanana Gusmão - que tem liderado as negociações sobre todo o processo em nome
de Timor-Leste - explicou que além da compra o Governo iniciou "um
calendário de atividades, em vários aspetos, e contactos também" porque o
país necessita "de outras companhias ou de parceiros".
A posição timorense é de que a
compra da posição da Conoco ajuda a avançar o objetivo de trazer o gasoduto
para o sul de Timor-Leste.
"Se tudo correr bem, nos
finais de 2021, arrancam as obras da plataforma no mar, do gasoduto e da planta
do GNL (Gás Natural Liquefeito) em Timor-Leste", disse Xanana Gusmão,
explicando que as obras estarão concluídas no final de 2025, para Timor
produzir gás a partir do ano seguinte.
Com o projeto de desenvolvimento
a custar, segundo estimativas, até 13 mil milhões de dólares - entre 6 e 7 mil
milhões no 'upstream' e entre 5,5 e 6 mil milhões no 'downstream' - a 'fatura'
para Timor-Leste pode ser significativa.
Xanana Gusmão notou que com
Timor-Leste a fazer parte do consórcio há uma parte do investimento que terá de
ser suportada pelo país - sem revelar o valor dessa parcela - explicando que os
cálculos sobre o que cada um vai pagar já estão feitos e os estudos técnicos de
viabilidade também concluídos.
A solução mais ampla, que
envolveria as empresas asiáticas, pretende conseguir que o custo para os cofres
timorenses seja "bastante mais reduzido", explicaram as fontes.
Esta solução, contornos dos quais
têm de permanecer para já confidenciais - segundo explicaram várias fontes
ouvidas pela Lusa - depende em grande parte de quem assumirá a titularidade da
equidade da participação de 30% no consórcio.
"Esta questão pode condicionar
a decisão de outros parceiros usar direitos preferenciais sobre a compra da
parte da Conoco", disse uma das fontes.
As petrolíferas envolvidas no
consórcio, explicou, mostram-se inquietas em que a equidade seja controlada
diretamente pelo Governo timorense, nomeadamente através da petrolífera
nacional.
Se isso ocorrer, disse uma das
fontes ouvidas pela Lusa, o projeto poderá acabar "bloqueado" já que
qualquer detentor de mais de 20% de controlo no consórcio tem poder de veto
sobre o modelo de desenvolvimento.
Note-se que o Ministério do
Petróleo e Minerais (MPM) timorense inscreveu os 350 milhões de dólares da
operação nas contas da Timor Gap para 2019, no âmbito da proposta para o
Orçamento Geral do Estado para 2019.
Esse valor faz parte dos 374 milhões
de dólares que o MPM orçamentou para si e para as instituições que tutela,
entre as quais a petrolífera timorense, a Timor Gap.
O consórcio do Greater Sunrise é
liderado pela australiana Woodside, a operadora (com 34,5% do capital), e
inclui a ConocoPhillips (30%), a Shell (28,5%) e a Osaka Gas (10%).
Esta semana o responsável da
Woodside, considerou que "desagregar" o investimento nos vários
componentes do projeto pode ajudar a resolver o impasse sobre o negócio.
"Se desagregar o projeto - o
que significa que a propriedade da unidade 'onshore' e do gasoduto é diferente
de um 'upstream' - então poderemos ver um caminho para investir no 'upstream' e
esse é um modelo que vemos na Indonésia e na Malásia e que funciona de forma
bastante eficaz", disse Coleman.
A diretora financeira da
petrolífera, Sherry Duhe, confirmou que a Woodside e os restantes parceiros do
consórcio decidirão "em breve" se vão ou não exercer os direitos de
preferência sobre a participação da Conoco.
ASP // JPF