Maputo,
03 nov (Lusa) - O presidente da Confederação Empresarial da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CE-CPLP), Salimo Abdula, acusou hoje os governos
da organização de colocarem barreiras ao investimento ao impedirem a livre
circulação de bens e pessoas entre os Estados-membros.
"Um
dos problemas que os empresários têm identificado é a livre circulação de
pessoas e bens e, que se existisse, o investimento [entre os Estados-membros]
podia aumentar exponencialmente", declarou à Lusa Salimo Abdula, à margem
de uma conferência hoje em Maputo sobre negócios entre Portugal e Moçambique,
promovida pela Ordem dos Contabilistas Certificados e rádio TSF.
Dando
o exemplo de Moçambique, onde é um destacado empresário, o presidente da
CE-CPLP salientou a necessidade de o seu país começar a produzir mais para
aumentar exportações, mas, para atingir esse objetivo, "a livre circulação
de pessoas e bens tem sido um grande handicap".
Na
sua intervenção durante a conferência, Salimo Abdula já tinha pedido aos
governos para porem "a mão na massa" e resolverem este assunto.
"Criem
'autoestradas' e os empresários tratam do resto", declarou, apelando ainda
aos governos para "eliminarem tabus" entre eles e que remetem para
"40 anos atrás".
O
investidor, antigo presidente da Confederação das Associações Económicas de
Moçambique (CTA), comentou também a atual instabilidade entre Governo e
oposição da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) estabelecendo a diferença
entre "bocas entre políticos" ou a resolução de problemas "com
uma arma à cabeça".
Para
Abdula, Moçambique "tem de resolver definitivamente este problema",
que diz ter mais eco no estrangeiro do que no próprio país.
"Incomoda-me
ter de fazer um esforço titânico lá fora para explicar que o país está
bem", declarou, referindo-se aos seus contactos com empresários
estrangeiros, embora tenha admitido que as recentes confrontações entre Governo
e Renamo já o tenham levado a encerrar temporariamente unidades dos seus
investimentos no país.
O
Banco de Moçambique e o chefe de Estado moçambicano assumiram na semana passada
que o país enfrenta várias dificuldades, traduzidas pela depreciação do metical
face ao dólar, diminuição de divisas, redução da ajuda externa e investimento
estrangeiro e aumento da dívida pública.
Na
mesma altura, o FMI confirmou a revisão em baixa da previsão de crescimento
económico para 6,3% este ano e 6,5% em 2016 e anunciou um empréstimo de 286
milhões de dólares (260 milhões de euros) a Moçambique até 2017.
Salimo
Abdula concordou hoje com o Presidente moçambicano quando disse que o país
consome mais do que produz e que este pode ser um bom ponto de partida para uma
nova atitude dos empresários.
"São
boas perspetivas porque obriga os empresários que têm dinheiro, ou fizeram
dinheiro sem saber como, a orientarem o negócio ocioso para o negócio
produtivo", arrastando o aumento do investimento, do emprego e das
exportações, sustentou.
Na
conferência de hoje, em que participou também José Augusto Duarte, embaixador
de Portugal em Maputo, Paulo Sousa, diretor-geral do banco BCI, Rodrigo Rocha,
representante da Câmara de Comércio Portugal-Moçambique, e Domingues Azevedo,
bastonário da Ordem dos Contabilistas Certificados, foi destacado por todos os
intervenientes a vantagem competitiva da língua portuguesa.
O
embaixador português advertiu porém que a língua pode servir para garantir uma
posição de vantagem à partida mas não à chegada e precisa de ser acompanhada de
outros fatores para se alcançar o sucesso.
A
agricultura, o agronegócio, piscicultura, serviços, turismo e também a educação
foram apontados como os setores mais necessitados de investimento e nos quais
Portugal pode ter uma vantagem competitiva.
A
conferência "Moçambique - Portugal, Reforçar as vantagens
competitivas" insere-se no ciclo "Negócios em Português" que a
Ordem dos Contabilistas Certificados e a TSF já realizaram em São Tomé e
Príncipe e Guiné-Bissau, e que, depois de Moçambique, deverá passar pelos
restantes países de língua portuguesa.
HB
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