Díli, 16 jun (Lusa) - Um
dirigente do Partido Libertação Popular (PLP), um dos três que integra a
coligação AMP que venceu as legislativas timorenses com maioria absoluta,
garantiu hoje que a ativista Bella Galhos "nunca foi seriamente
considerada" para o próximo Governo.
"Para ser honesto, Bella
Galhos nunca foi seriamente considerada para ser incluída no elenco do próximo
Governo", disse à Lusa um alto dirigente do PLP que pediu o anonimato.
"Estou envolvido no processo
de seleção dentro do PLP. Sei, com toda a certeza, que ela nunca foi uma forte
candidata para qualquer cargo", sublinhou.
Os comentários surgem depois de
Bella Galhos, uma das mais respeitadas ativistas timorenses, ter afirmado à
Lusa que o seu nome foi retirado do elenco ainda desconhecido do próximo Governo
de Timor-Leste, por questões "morais" relacionadas com a sua
orientação sexual.
"Esta é a informação interna
que me comunicaram, dentro do partido. O que me disseram é que, por ser LGBT,
moralmente isso não é aceitável", afirmou.
Bella Galhos é militante do
Partido Libertação Popular (PLP), liderado por Taur Matan Ruak, o ex-Presidente
da República, e que integra a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), a
coligação que venceu as eleições de 12 de maio com maioria absoluta.
Os dirigentes máximos da AMP -
Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense
(CNRT), Taur Matan Ruak e José Naimori (líder do Kmanek Haburas Unidade
Nacional Timor Oan (KHUNTO) - estão a fechar a composição do Governo.
"Não digo que esta posição
foi de Taur, mas fico desiludida que ele não tenha conseguido combater esta
posição", afirmou Galhos.
O dirigente do PLP ouvido pela
Lusa lamenta que o partido esteja a ser "injustamente acusado de a
discriminar no processo de seleção", insistindo que a sua força política
"apenas avalia as pessoas pelo seu trabalho ou contributo e por nada mais,
muito menos a orientação sexual".
A mesma fonte confirmou que
Galhos "tem estado muito ativa no PLP" mas que "muitas outras
mulheres estiveram mais ativas que ela desde 2015 e até à campanha".
Galhos, por seu lado, disse ficar
"bastante desiludida" com o facto da questão moral ser levantada
dentro do seu próprio partido, afirmando que se sente traída por ter convencido
jovens e outros membros da comunidade LGBT a apoiar o PLP.
"É um grande desapontamento.
Eu nunca quis fazer parte de partidos políticos. O PLP atraiu-me porque era uma
alternativa e eu dei o meu contributo, incluindo financeiramente. Ajudei na
campanha e a apelar a jovens e jovens LGBT para nos apoiar", disse.
"A esses jovens dei-lhes
esperança que com o PLP as coisas iam mudar mas parece que afinal não é assim.
Sinto-me discriminada", afirmou.
Já no sábado um dos principais
dirigentes do PLP, Fidelis Magalhães, insistiu que Bella Galhos é "uma
pessoa valiosa para o partido" com uma "obra e um contributo
comunitário bem reconhecidos".
Explicando não poder comentar o
caso ou a formação do Governo, cujas decisões "estão a ser tomadas pelos
líderes máximos dos partidos", Magalhães rejeitou que a questão da
orientação sexual possa ter sido um motivo.
"A Bella é uma pessoa
inteligente, pessoa respeitada e com um valioso contributo. Nos processos deste
tipo há muitos outros candidatos e eu nem sequer posso comentar o processo
porque não sei sequer se está ou não no Governo", disse.
"Quando se considera os
candidatos a qualquer lugar politico há muitas considerações e há muitos
candidatos. A Bella é sempre respeitada pelo próprio Taur e foi convidada como
conselheira para assuntos sociais durante anos na sua Presidência", afirmou.
Galhos, 46 anos, é uma das mais
conhecidas líderes da sociedade civil timorense, com um passado de violência
que começou dentro da família, às mãos do pai, que teve 18 mulheres e 45 filhos
e que aos três anos a vendeu por cinco dólares a um soldado indonésio.
Entre 2012 e 2017 foi conselheira
do então Presidente da República Taur Matan Ruak, período durante o qual
construiu e geriu a primeira 'Escola Verde' do país, em Leublora, a sul de
Díli, onde funciona hoje uma quinta e restaurante de comida orgânica e uma
cooperativa de mulheres.
Atualmente gere a Pousada de
Maubisse, no centro do país.
ASP // ACG