Lisboa,
24 mai (Lusa) -- O ministro dos Negócios Estrangeiros disse hoje desconhecer as
razões da oposição de Angola ao facto de Portugal não assumir o Secretariado
Executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), referindo-se a
uma interpretação dos estatutos.
"Não
conheço as razões da oposição, tinham-me dito que era uma interpretação dos
estatutos e a invocação de regras supostamente prevalecentes em organizações
internacionais", referiu Augusto Santos Silva em declarações à Lusa e
Antena 1, à margem do V Encontro "Triângulo Estratégico: América
Latina-Europa-África", que hoje terminou em Lisboa e onde participou na
sessão de encerramento.
O
dirigente nacional do PS, Vítor Ramalho, lamentou hoje o facto de Portugal não
assumir agora o Secretariado Executivo da CPLP e considerou que a oposição de
Angola se deveu a "problemas da banca".
"Posso
explicar a proposta que Portugal fez", assinalou o ministro.
"Quando
Portugal se deu conta de que o facto de o Brasil ocupar a presidência e
Portugal o secretariado executivo ao mesmo tempo, que pela primeira vez desde a
fundação da CPLP nenhum país africano teria posição de liderança na organização
durante um biénio e que isto podia constituir um problema para os nossos amigos
dos países africanos, Portugal imediatamente propôs uma solução que nos parece
simples, prática e que resolve esse problema. Simplesmente trocar a ordem com
São Tomé. Foi isso o decidido, é isso que se fará", explicou.
Numa
alusão à polémica sobre a data da próxima cimeira da CPLP, considerou a posição
de Lisboa muito simples: "Cabe ao Brasil organizar a próxima cimeira de
chefe de Estado e Governo da CPLP. O Brasil saberá quais são as datas que lhe
convêm mais, e fará a proposta dessas datas quando sentir que está em condições
de o fazer. E rapidamente chegaremos a uma data".
Numa
observação final, o ministro dos Negócios Estrangeiros referiu que a evolução
da situação política brasileira é seguida "com atenção" mas também
com "o respeito devido a decisões que são decisões internas do
Brasil".
A
função de Portugal no designado "Triângulo
América-Latina-Europa-África", tema que também abordou na sua intervenção,
deverá incluir na perspetiva do chefe da diplomacia três vetores fundamentais.
Assim
Portugal deve "manter o protagonismo ao mais alto nível que caracteriza a
participação portuguesa do ponto de vista político-diplomático", um país
que "sempre fez questão de se representar ao mais alto nível, isto é,
Presidente da República, primeiro-ministro e ministro dos Negócios
Estrangeiros, em todas as cimeiras da CPLP e em todas as cimeiras da
Conferência Ibero-americana".
"Tenho
o gosto de dizer, que é público, que essa linha continuará com este Governo e
este Presidente", frisou.
O
segundo segmento concreto deverá residir numa forte aposta na "cooperação
triangular, cooperar na cooperação", como assinalou: "Portugal, o
Chile e a Argentina cooperarem na cooperação com África, Portugal e o Brasil
reforçarem e estimularem a sua cooperação com África, Portugal e Angola
cooperarem na cooperação com países terceiros...".
Por
último, "apostar tudo na difusão das duas grandes línguas da
ibero-américa", com o Governo a privilegiar naturalmente o português, e
numa lógica adicional "de pensarmos que o bloco de duas línguas de
compreensão recíproca chamadas português e espanhol, ser o segundo bloco de
língua materna mais falado no mundo", mas sem que a língua portuguesa perca
a sua identidade.
As
perspetivas em torno da mobilidade académica foi outro aspeto abordar pelo
chefe da diplomacia, e num espaço triangular vasto e para o qual Portugal
também poderá contribuir.
"Como
qualquer país da UE, Portugal sabe por experiência feita o enorme salto para a
consolidação de um espaço que é a circulação dos seus estudantes e professores. Costumamos dizer na Europa, de uma forma engraçada, muito expressiva de dar
conta de uma realidade, no momento em que celebramos um aniversário redondo do
programa Erasmus. A comissária dessa área disse que já há um milhão de bebés na
Europa que nasceram do Erasmus, pais de diferentes países que se encontraram no
Erasmus", recordou.
"E
por isso já propusemos uma lógica de mobilidade intra-CPLP e acompanhamos vivamente
essa prioridade da organização ibero-americana que é paulatinamente ir criando
também um instrumento de mobilidade académica no universo
ibero-americano".
Numa
referência às celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades
Portuguesas, que se aproximam, Augusto Santos Silva concluiu com um desejo:
"Gostaria que fosse feita com muita alegria, muita festa, muito orgulho em
ser português, e muito empenho em todos nós contribuirmos onde quer que
estejamos e da forma que pudermos para o engrandecimento de Portugal no mundo".
PCR
// EL