A
CPLP deve criar um banco ou agência multilateral de investimento para dar maior
apoio às empresas dos Estados-membros, consolidando assim o papel de
“intervenção económica” da organização, defendeu hoje o seu secretário
Executivo.
“A
CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) deve ser não um bloco
económico mas um bloco com intervenção económica. É um bloco essencialmente
político e diplomático mas com intervenção económica”, disse em Díli,
Timor-Leste, o embaixador Murade Isaac Murargy.
“O
papel da CPLP, do secretariado, dos Estados-membros, é apoiar o empresariado,
criar condições, criar um ambiente de negócios propício para que eles
livremente possam actuar, fomentando e promovendo os investimentos”, afirmou.
Murade
Isaac Murargy falava depois da XX reunião do Conselho de Ministros que analisou
estes e outros temas no âmbito do debate sobre a nova visão estratégica da
CPLP, com muitos sectores a defenderem que a organização deve procurar ser mais
prática e eficaz, com acções que beneficiem os seus cidadãos.
Os
responsáveis destacaram o desenvolvimento de maiores laços económicos,
capitalizando na marca CPLP e na sua posição geográfica em quatro continentes.
Como
exemplo das medidas que podem ser postas em prática, e já apresentada a Timor-Leste,
Murade Isaac Murargy referiu a “criação de um banco de investimento, uma
agência multilateral de investimentos, que possa permitir um apoio as empresas”.
“Criar
uma instituição dessa natureza ao nível da CPLP em que todos os
Estados-membros, os países, os bancos, sejam accionistas desse banco, e onde
podem entrar o Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD) ou outros. Algo que
permita colaborar com as empresas que queiram intervir nas nossas áreas”,
destacou.
O
objectivo principal da presença da CPLP na Ásia, por exemplo, é exactamente,
destacou, “atrair os empresários da ASEAN para que colaborem também com as
empresas” lusófonas.
No
que toca à visão estratégica, Murade Isaac Murargy disse que deve ter “uma
componente mais política, mais económica e empresarial”, procurando ouvir não
apenas as opiniões dos Estados-membros mas também a sociedade civil, o mundo
empresarial e os académicos.
“Uma
visão abrangente em que o cidadão da CPLP se sinta também envolvido no futuro
da CPLP”, disse.
Igualmente
importante, destacou, é fomentar a aproximação com o crescente número de
Estados que querem ser observadores associados. Já na mesa estão propostas do
Uruguai, Peru e Israel, juntando-se à mais antiga de Marrocos.
E
a Guiné-Equatorial goza com tudo
Os
chefes da diplomacia da CPLP avaliam positivamente o primeiro ano da adesão da
Guiné-Equatorial, considerando que tem havido progressos, inclusive no complexo
dossier do ensino do português, apesar de pretenderem mais envolvimento daquele
país na organização.
Estas
foram as opiniões expressas pelos representantes das diplomacias dos
Estados-membros da CPLP que participaram em Díli na XX reunião do Conselho de
Ministros.
Todos
consideram que o aspecto mais importante na agenda é a questão do ensino do
português, destacando os progressos que já ocorreram.
O
ministro das Relações Exteriores angolano, Georges Chikoti, faz uma avaliação
positiva da adesão e lamenta que a Guiné-Equatorial não tenha participado muito
activamente nas reuniões ministeriais – o seu ministro esteve ausente em Díli.
“É
bom que a Guiné-Equatorial tire proveito e possa mostrar o que a traz à
organização”, disse, considerando que “a questão do ensino do português é muito
mais importante” do que o debate sobre transformar a moratória sobre a pena de
morte numa legislação definitiva.
Georges
Chikoti recorda que a Guiné-Equatorial tem o espanhol como primeira língua e
que cabe à CPLP “mostrar disponibilidade para apoiar”.
“Eles
pretendem aumentar o ensino do português. Se nos mobilizarmos neste sentido
para que incluam isso no seu currículo escolar acho que já é uma boa
contribuição”, disse.
Para
o chefe da diplomacia moçambicana, Oldemiro Baloi, o encontro de Díli permitiu
ultrapassar alguma preocupação sobre o ritmo da adesão, sendo evidente um
“défice de comunicação sobre o que está a acontecer” na Guiné-Equatorial.
“Mas
tivemos uma informação positiva que terminou com um apelo da Guiné-Equatorial,
no sentido da CPLP destacar uma equipa que será financiada pela própria
Guiné-Equatorial para tornar o processo de adesão ou de consolidação de adesão
mais expedito”, disse.
Sobre
o ensino do português afirmou que o trabalho que tem sido feito “é notável” e
que as lacunas são “naturais”.
“Há
lacunas obviamente, porque não se vai fazer num ano aquilo que, como dizia um
colega meu, nós demoramos 20 anos a fazer. Estamos no bom caminho. A questão é
haver uma boa comunicação e nos continuarmos com a atitude que tivemos e que
viabilizou a adesão”, disse.
Para
Hernâni Coelho, ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, a
Guiné-Equatorial “está a participar activamente nas actividades da organização”
estando em curso vários projectos, inclusive na língua portuguesa.
“Mas
um ano não é um período suficiente de assuntos tão importantes e estratégicos.
Estamos a partilhar com a Guiné-Equatorial as nossas experiências, esforços e a
encorajar a que participe mais activamente nestas iniciativas”, adiantou.
Já
o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação português,
Luís Campos Ferreira, recordou que há um “roteiro” para a adesão da
Guiné-Equatorial e que os chefes de Estado e de Governo deliberaram que estava
a ser cumprido na cimeira de Díli de 2015.
Desde
aí, disse, tem havido algumas “evoluções” tendo o Conselho de Ministros ouvido
um relatório nomeadamente sobre o ensino e divulgação da língua portuguesa.
“Foi-nos
comunicado que inclusivamente havia um jornal informativo diário na televisão
em língua portuguesa, entre outros trabalhos que se estão a desenvolver”,
acrescentou.
“O
Conselho de Ministros no seu todo entende que continua a haver uma grande margem
de progressão para a que Guiné Equatorial, como noutros países, possa e deva
aproximar-se daquilo que é o acervo identitário dos países da CPLP”, disse
ainda.
Uma
avaliação completa, sustentou, cabe aos chefes de Estado e de Governo, que se
voltam a reunir em Brasília em 2016 ainda que, opine, a adesão tenha sido
positiva.
“Tudo
o que é inclusão é melhor do que a exclusão e o conseguirmos trazer até nós (…)
é bom para a Guiné-Equatorial e para o povo da Guiné-Equatorial”, disse.
“A
inclusão é sempre positiva e neste caso concreto tem permitido uma troca de
opiniões, de reflexões, uma abertura do país e por isso continuo a achar que
foi a decisão que tinha que ser tomada naquele momento, por estes e muitos
outros factores”, sublinhou.
Também
o secretário Executivo da CPLP, Murade Isaac Murargy, disse não estar
arrependido da adesão, afirmando que em temas como os da língua “não se deve
atirar pedras à Guiné-Equatorial quando alguns membros fundadores da CPLP têm
telhados de vidro”.
“A
Guiné-Equatorial vai levar o seu tempo. É um processo. Eles deram grandes
passos, há um noticiário em português, a parte empresarial está a andar com
muita velocidade”, considerou.
“O
que é importante é que os países da CPLP apoiem. Como temos que nos apoiar uns
aos outros. Não me arrependo de terem entrado. Não era por os deixar fora que
resolveríamos os problemas da Guiné-equatorial. Temos é que continuar a apoiar
a sua evolução”, advogou.
Finalmente,
o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, considerou que as
observações indicam que “o primeiro ano foi muito produtivo”.
“A
Guiné-Equatorial tem também uma porta aberta, uma contribuição importante, da
mesma forma que membros associados também trazem uma contribuição importante”,
defendeu.