Zhuhai, 02 dez (Lusa) - Prestes a
atravessar a megaponte Hong Kong-Zhuhai-Macau (HKZM), a maior travessia
marítima do mundo, o funcionário público aposentado Zhang Lei não tem dúvidas:
o Partido Comunista Chinês é "grandioso" e a China é "number
one".
"Hong Kong e Macau já estão
unidos à pátria; a seguir é Taiwan", descreve Zhang, de 60 anos, à agência
Lusa, junto à entrada para o posto fronteiriço em Zhuhai, cidade da China
continental que faz fronteira com Macau.
Hong Kong e Macau foram
integrados na República Popular da China em 1997 e em 1999, respetivamente, com
o estatuto de regiões administrativas especiais, sob a fórmula 'um país, dois
sistemas', que garante que as políticas socialistas em vigor no resto da China
não se aplicam nos territórios, que gozam de "um alto grau de
autonomia", à exceção da Defesa e das Relações Externas, que são da
competência exclusiva do governo central chinês.
Taiwan funciona como uma entidade
política soberana, desde que, em 1949, o antigo governo nacionalista chinês se
refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. No
entanto, Pequim considera Taiwan parte do seu território e ameaça usar a força
caso Taipé declare independência.
Inaugurada em 22 de outubro, a
ponte HKZM é um marco do projeto de integração regional da Grande Baía, que
visa criar uma metrópole mundial a partir dos territórios de Hong Kong, Macau e
nove localidades da província chinesa de Guangdong (Cantão, Shenzhen, Zhuhai,
Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing).
A ponte custou aos governos de
Macau e de Hong Kong e da província de Guangdong cerca de 1,9 mil milhões de
euros.
Mas para além de visar a integração
económica, a infraestrutura tem um simbolismo político, como ilustram os
comentários de Zhang Lei, que viajou milhares de quilómetros, desde o nordeste
da China, para atravessar a ponte.
"Tem um efeito psicológico:
une os três lugares", resume aos jornalistas Wei Dongqing, um dos
responsáveis pelo projeto, que liga as antigas colónias portuguesa e britânica
ao continente chinês. "Estamos confiantes no futuro: um mercado unido, um
povo unido", explica. "É esse o sonho".
Wu Ting, fundadora da escola de negócios
Jiabin, diz à agência Lusa que, apesar do retorno de Macau e Hong Kong à China,
faltava ainda uma ligação terrestre entre as partes.
"A nível político
precisávamos desta ligação", aponta. "Por outro lado, tem um
significado social: une o povo cantonês, que fala o mesmo dialeto e partilha da
mesma cultura e laços sanguíneos", acrescenta.
Trata-se da maior ponte do mundo
sobre o mar, com uma estrutura principal de 29,6 quilómetros -
uma secção em ponte de 22,9
quilómetros e um túnel subaquático de 6,7 quilómetros - ,
numa extensão total de 55
quilómetros.
A construção começou em 2011 e
previa-se a abertura para 2016, mas vários problemas, como acidentes de
trabalho, uma investigação de corrupção, obstáculos técnicos e derrapagens
orçamentais obrigaram a um adiamento da inauguração.
Segundo dados do ministério
chinês dos Transportes, no primeiro mês desde a abertura, a ponte serviu 1,79
milhão de passageiros.
"O volume de trânsito foi
baixo (...) aquém das expectativas", admite Yu Lie, vice-diretor da autoridade
para a ponte, que culpa o sistema de quotas.
Macau, por exemplo, tem direito a
apenas 600 quotas para veículos locais circularem entre a cidade e Hong Kong
através da nova ponte.
"Após um período inicial,
terá de ser feita uma avaliação, e há a possibilidade de aumentar o número de
quotas", explica Yu.
"Mas devido à atual política
'um país, dois sistemas', e diferentes regras de trânsito, este é um processo
preliminar. É preciso esperar que o projeto da Grande Baía esteja
implementado", explica.
"A longo prazo, existe a
possibilidade de todos os carros de Macau e Hong Kong poderem usar a
ponte", prevê.
JPI // PVJ