O Partido Popular Indiano (BJP) é acusado de fomentar a intolerância religiosa. O presidente do partido do Congresso descreve os comentários de Narendra Modi como "discurso de ódio".
O principal partido da oposição da Índia, o Congresso, acusou o primeiro-ministro Narendra Modi de usar discurso de ódio depois de ter chamado aos muçulmanos “infiltrados”, dias depois do início da eleições gerais, que decorrem até junho.
No comício de domingo, no estado do Rajastão, Modi, nacionalista hindu, afirmou que quando o Partido do Congresso estava no governo “disseram que os muçulmanos tinham primazia sobre os recursos do país”, pelo que se a oposição regressar ao governo vai reunir as riquezas da população e “distribuí-las por aqueles que têm mais filhos”.
“Vão distribuí-lo pelos infiltrados”, continuou, perguntando à multidão que aplaudia o discurso: “Acham que o vosso dinheiro ganho arduamente deve ser dado aos infiltrados?”. As declarações referiam-se quando em 2006 o então primeiro-ministro Manmohan Singh, do Partido do Congresso, defendeu que as castas mais baixas, as tribos, as mulheres e, “em particular, a minoria muçulmana” deveriam ter o poder de partilhar igualmente o desenvolvimento do país.
“Eles devem ser os primeiros a reclamar os recursos”, afirmou Singh. Um dia depois, o gabinete esclareceu que as declarações se referiam a todos os grupos desfavorecidos.
Agora, o presidente do partido do Congresso, Mallikarjun Kharge, descreveu os comentários como “discurso de ódio”. “Na história da Índia, nenhum primeiro-ministro rebaixou tanto a dignidade do seu cargo como Modi”, escreveu Kharge na rede social X (antigo Twitter).
As palavras do chefe de Governo, que procura o terceiro mandato, foram recebidas por fortes críticas ao terem como alvo os muçulmanos e por terem violado as regras eleitorais, que proíbem os candidatos de se envolverem em qualquer atividade que agrave as tensões religiosas.
Sem ser juridicamente vinculativo, o código de conduta da Comissão Eleitoral da Índia proíbe os candidatos de “apelar a sentimentos de casta ou comunais” para obter votos e pode originar avisos e suspensões. Citado pela imprensa local, um porta-voz da comissão recusou comentar o caso.
Os críticos de Modi têm referido que a tradição de diversidade e secularismo da Índia está a ser atacada desde que o Partido Popular Indiano (Bharatiya Janata Party, BJP) subiu ao poder, em 2014.
O BJP é acusado de fomentar a intolerância religiosa e, por vezes, até a violência, o que o partido nega, afirmando que as suas políticas beneficiam todos os indianos.
Grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que os ataques contra as minorias se tornaram mais despudorados com Modi, nomeadamente com muçulmanos a serem linchados por multidões sob a alegação de comerem ou contrabandearem vacas, um animal considerado sagrado na religião hindu.
As empresas muçulmanas foram boicotadas, enquanto casas e negócios foram demolidos e locais de culto dos muçulmanos incendiados. Alguns têm apelado abertamente ao seu genocídio.
Anteriormente, o BJP já tinha apelidado os muçulmanos de infiltrados e migrantes ilegais, ao entrarem na Índia vindos do Bangladesh e Paquistão, além de vários estados governados pelo partido terem restringido o casamento inter-religioso, invocando o mito do “jihad do amor”, segundo o qual os muçulmanos convertem as mulheres hindus através do casamento.
Observador | Lusa