Díli,
05 ago (Lusa) - O setor empresarial timorense lamentou hoje os constantes
atrasos nos pagamentos do Estado, considerando que muitas empresas estão a
viver situações "muito complicadas" e que a economia nacional está a
ressentir-se da fala de liquidez.
Vários
empresários ouvidos pela Lusa queixam-se de atrasos de até um ano nos
pagamentos de projetos, referindo que isso tem "um efeito em cadeia"
porque os subcontratados também não recebem.
Jorge
Serrano, presidente de honra da Confederação Empresarial da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP) e presidente do Conselho de Administração do
grupo GMN-H, disse à Lusa que o problema é geral e que mesmo os atrasos do
passado foram agora amplamente ultrapassados.
"Há
atrasos grandes, não como no passado. Estamos com o peso dos salários, dos
custos operacionais que temos que cumprir e com estes atrasos de apagamentos, a
este ritmo, não ajuda os empresários", disse à Lusa.
"O
desenvolvimento do país está a sofrer, as lojas estão vazias, os comércios vazios
e os hotéis e restaurantes também. Isto normalmente acontece no primeiro
trimestre. Mas já estamos no segundo semestre do ano e os problemas continuam
assim", afirmou.
Sem
querer avançar números, disse que os empresários têm a haver "grandes
montantes" o que, para muitos, representa custos elevados com juros
bancários e outras despesas.
"Isto
prejudica tanto o negócio como a economia nacional de Timor-Leste. O Governo
diz que está tudo em processo, que faltam pareceres jurídicos. São muitos
pareceres. Mas nesta dimensão é a primeira vez que isto acontece. Antigamente
não havia tantos atrasos", afirmou.
Opinião
partilhada por Óscar Lima, presidente da Câmara de Comércio e Indústria de
Timor-Leste (que tem atualmente mais de mil associados em todo o país) e
proprietário da empresa Monte Veado Lda, dedicada ao ramo da construção e obras
públicos.
"Estamos
há mais de seis meses sem receber. Por isso estamos atrapalhados. A empresa não
pode viver sem pagamentos. Temos muitos pagamentos em atraso. Praticamente
ainda não recebemos dinheiro do Estado este ano", explicou à Lusa,
referindo que só em salários tem uma despesa mensal de mais de 40 mil dólares.
Várias
reuniões e contactos com o Governo, inclusive com o primeiro-ministro e com
vários ministros, não permitiram desbloquear a situação, disse, acrescentando
que tem mais de dois milhões de dólares de pagamentos em atraso.
Julio
Alfaro, um dos maiores empresários timorenses, disse que, este ano, ainda não
apresentou faturas ao Estado, apesar de ter projetos a decorrer, pelo que,
atualmente não sente "tantos problemas como os outros".
Também
Lino Lopes, diretor da EDS (Express Distribution Services), confirma à Lusa que
também tem sofrido atrasos significativos, com destaque para um projeto de uma
nova estrada em que participou e que ficou terminado em 2013 e pelo qual ainda
não foi pago.
"Ninguém
paga a ninguém e o balde está a secar. O preço do petróleo está a cair, há
menos dinheiro a entrar e tudo isso está a afetar as contas. E que tem grande
parte da origem do seu dinheiro no Estado está ainda pior", afirmou Lopes.
Considerando
que a culpa "é dividida parte a parte" entre os ministérios
responsáveis pelos projetos e as Finanças, Lino Lopes referiu que manter gastos
mensais de 150 empregados com estes atrasos "atrofia" as empresas.
Uma
situação agravada pela situação do setor bancário em Timor-Leste, em que a
falta de garantias torna mais complicado o acesso a empréstimos para dar
liquidez às empresas.
De
referir que o atraso nos pagamentos se evidencia não apenas para projetos ou
fornecedores de bens e serviços do Estado, mas também, em alguns setores para
salários e complementos salariais.
É
comum haver atrasos de três ou mais meses, o que torna a situação de muitos dos
funcionários bastante complicada.
Na
UNTL, a universidade pública timorense, por exemplo, há trabalhadores que ainda
não receberam nada este ano, situação que o reitor prometeu que será resolvida
este mês.
ASP
// VM