O deputado timorense David Dias Ximenes considerou hoje que a assinatura do acordo entre Portugal e a Indonésia, nas Nações Unidas, para a realização de um referendo sobre a autodeterminação de Timor-Leste foi uma "luz de esperança".
"Foi uma forma de a gente se libertar de uma opressão militar, significava que no fundo do túnel já havia uma luz de esperança, regozijo, como é evidente, mas era um processo", disse David Dias Ximenes, "Mandati", coordenador do referendo de 1999 e deputado da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin).
Em 05 de maio de 1999, Portugal e a Indonésia assinaram nas Nações Unidas o acordo que determinava um referendo sobre autodeterminação de Timor-Leste.
A parte portuguesa foi representada por Jaime Gama, na altura ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, e pelo seu homólogo indonésio, Ali Alatas, e por Kofi Annan, antigo secretário-geral das Nações Unidas.
O acordo determinou a realização do referendo, organizado pelas Nações Unidas, e os timorenses tinham de responder se aceitavam uma "autonomia especial" integrando a Indonésia ou se a rejeitavam, "levando à separação de Timor-Leste da Indonésia".
Mais de 78% dos timorenses rejeitaram a "autonomia especial", levando à restauração da independência do país.
O anúncio das discussões entre Portugal e a Indonésia levou a um aumento da violência em Timor-Leste, que se intensificou, mais ainda, após o anúncio do resultado do referendo.
"Sabíamos bem que quando a segurança do processo foi entregue à Indonésia era a mesma coisa que pôr o ladrão a fazer segurança na casa, mas, no entanto, era um processo a que nos tínhamos de agarrar para que a solução não fosse mais prolongada", disse o também antigo membro da Frente Clandestina timorense.
David Dias Ximenes salientou que os timorenses se agarraram ao "processo" e que apesar de ser uma "situação arriscada" tinham de aceitar.
"Habitualmente dizemos que quando queremos uma coisa é com suor e lágrimas, aqui foi com muito sangue, suor e lágrimas", lamentou o deputado, considerando, contudo, que era uma "oportunidade" e que não a podiam negar.
Com o resultado do referendo, a Indonésia abandonou Timor-Leste com as milícias pró-indonésias a deixarem um rasto de horror e violência e entrou a autoridade de transição das Nações Unidas, que geriu o país até à restauração da independência, em 20 de maio de 2002.
Sapo | Lusa