Essa
é a pergunta que milhares de angolanos fazem neste momento. Após o anúncio do
próprio Presidente José Eduardo dos Santos (JES), na 11.ª Sessão Ordinária do
Comité Central do MPLA, que vai deixar a vida política em 2018. JES está no
poder há sensivelmente 37 anos e ao mesmo tempo comanda o partido que governa a
Angola, desde a independência nacional. Contudo, a grande questão que se
levanta é porque razão o Presidente anuncia a sua saída da vida política em
2018 com as eleições em 2017?
As
reações ao anúncio desta notícia tornaram-se virais nas redes sociais. Há quem
tenha fé nas palavras do Presidente e acredite que ele vai mesmo reformar-se da
política e há outros que, simplesmente, não acreditam. O Rede Angola publicou a seguinte informação:
“ÚLTIMA
HORA: José Eduardo dos Santos vai deixar a vida política em 2018. O Presidente
aproveitou a reunião do Comité Central do MPLA para anunciar a sua decisão.”
E
as reações fizeram-se sentir, quase de imediato. Virgilio Santo disse:
"Depois
de nos deixar [de] rastos, os teus parentes estarem bem laifados, o país na
banca rota, porquê em 2018[?] (…). Vai só pah não precisas despedir já devias
ter ido [há] muito tempo…”
A DW África (Português), avançou da seguinte forma:
“PERGUNTA
DO DIA:
O que acha do anúncio feito esta sexta-feira (11.03) pelo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, de que vai sair da vida política ativa em 2018?”
O que acha do anúncio feito esta sexta-feira (11.03) pelo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, de que vai sair da vida política ativa em 2018?”
Domingos Razão responde que esta será a maior alegria
que José Eduardo dos Santos poderá dar ao povo Angolano:
“Acredita
sua Ex. que esta será a maior alegria (depois da paz) que o povo irá ter, ver o
Senhor e toda tua quadrilha fora do cenário político Angolano. Já agora
[agradecer-te] pelas “excelentes” condições que proporcionaste para o povo,
muitas universidades, muitos jovens formados e empregados, um sistema de saúde
invejável na qual 25 crianças morrem diariamente nos hospitais, as excelentes
estradas esburacadas, as centralidades que todo mundo pode pagar um
apartamento, a água amarela nas nossas torneiras, os preços “acessíveis” dos
bens da cesta básica que até alguém que ganha 10.000,00 kz (56,70€) pode
abastecer-se durante o mês.
[Agradecer]
também pela energia potável que temos, pelo excelente sistema de justiça que
manda prender pessoas que se reúnem para ler um livro, aos nossos atletas
olímpicos que passam o dia todo a dar corrida nas mamãs zungueiras, o abuso de
poder, as demolições, ao apoio “incondicional” que deste as zonas afectadas
pela seca, aos bilhões que dás para a tua filha (papai querido), a tua abertura
para ouvir opiniões e ao “excelente” governo que formaste durante estes 36 anos
que estás no poder.”
Rënëën Soarës Äëtërnüm acredita que o Presidente se
vai manter na política mas nos bastidores:
“Já
vai tarde, não tem [mais] nada para roubar mas isso não muda nada porque em
2018 [vais] ficar por trás das câmaras instruindo o novo governador que também
será do MPLA.”
Outros
falam em milagre de Deus:
“Isto
é milagre! Deus nos ouviu!!”
Há
quem prefira esperar para ver, Wal Mandavela disse:
“Eu
penso que é daquelas coisas que só temos que esperar para ver. Afinal, cá em
África já nos habituamos a pensar que enquanto chefes somos insubstituíveis e
intocáveis e incontestáveis…. Temos uma perspectiva muito errada de liderança e
abandonar isso pode ser o fim do mundo. Já aconteceu uma vez, por isso não
nutro esperança alguma de que isso não seja mais um truque na manga. Acho que
José Eduardo dos Santos sabe muito bem quais podem ser as consequências do
abandono da vida política. Facto que me deixa bastante duvidoso quanto a essa
possibilidade. Vou esperar pra ver.”
Mas
alguns leitores acreditam que se trata de um truque: Deixar o poder em 2018 depois de vencer as
eleições em 2017:
“Porque
só em 2018? R: A reposta é simples para essa pergunta. Quer dizer, em primeiro
pretende ganhar as eleições com a fraude e em seguida deixar alguém da sua
conveniência ou da sua inteira confiança para o cargo de presidente. O que
implica dizer que será ele indirectamente a governar. Esses truque nós
conhecemos.”
No
Twitter o assunto também foi destaque:
Luaty
Beirão diz que se repete "filme" sobre saída de José Eduardo dos
Santos http://bit.ly/1YFssUY (SIC)
*Dércio Tsandzana em Global Voices (Fim)
MAIS SOBRE "A SAÍDA DE EDUARDO DOS SANTOS"
O
anúncio da saída de José Eduardo dos Santos força a que em Timor Agora nos
debrucemos com um pouco mais de atenção para aquele país integrante da CPLP e
da lusofonia. Decidimos ir espreitar o que o jornal angolano Folha 8 contém
sobre as declarações do presidente da Angola. O Folha 8 é um jornal mal-quisto
pelo regime de Angola. O diretor do Folha 8, William Tonet, tem mais de 100
processos judiciais no seu “palmarés”, movidos pelo regime do ditador angolano
que já está no poder há quase quatro décadas. Exatamente no Folha 8 fomos
encontrar um artigo de Orlando Castro que aborda a anunciada saída de Eduardo
dos Santos da “política ativa”, o que pressupõe deixar a presidência e libertar
Angola do seu jugo. Contrariamente, em entrevista, o investigador luso-angolano, Eugénio Costa
Almeida, alertou Orlando Castro nas suas declarações, esclarecendo que Eduardo
dos Santos afirmou que ia “abandonar a política ativa” mas que isso “não
significa abandonar a presidência”, como pode conferir em seguida. (TA)
“ABANDONAR
A POLÍTICA ACTIVA NÃO SIGNIFICA ABANDONAR A PRESIDÊNCIA”
Eugénio
Costa Almeida, investigador angolano-português, alerta que o tempo até à
eventual saída do Presidente de Angola (no poder desde 1979 sem nunca ter sido
nominalmente eleito), José Eduardo dos Santos, da política activa, hoje
anunciada para 2018, poderá não chegar para preparar um sucessor, com riscos
para a estabilidade.
Orlando
Castro*
Eugénio
Costa Almeida, investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL,
falava à Lusa após o anúncio de que o Presidente de Angola deixará a vida política
activa em 2018, ano em que completará 76 anos.
Em
reacção, Eugénio Costa Almeida disse temer que não haja tempo para preparar um
sucessor: “Não estou a ver que ano e meio seja suficiente para apresentar uma
figura que se torne consensual, abrangente e aglutinadora, salvo se, no
interior do partido e dos gabinetes da Cidade Alta, essa situação já esteja a
ser preparada há muito tempo sem ser do conhecimento dos angolanos”.
Que
os angolanos são sempre os últimos a saber, sobretudo os que são considerados
pelo regime como de segunda, não é propriamente uma novidade. Mas, para além
disso, um ano e meio, na melhor das hipóteses, é tempo de sobra. Desde logo
porque se sabe que as eleições estão marcadas, mas não se sabe se se
realizarão. Poderão, por isso, ser adiadas segundo a conveniência do regime,
não faltando meios e justificações para que tal possa acontecer.
Quando
um regime que está no poder há 40 anos tem a desfaçatez de acusar um pequeno
grupo de jovens activistas de rebelião e tentativa de golpe de Estado, é bem
capaz de tudo.
Para
o investigador, o risco de não estar preparada a sucessão “é haver alguma
desestabilização política que possa provocar uma desestabilização social”, numa
altura em que Angola vive “uma crise profunda, económica e financeira”.
Esta
correcta análise de Eugénio Costa Almeida dá, só por si, corpo a um cenário
indiciador de que as eleições serão quando o líder supremo do país assim
entender. “Desestabilização política” e “desestabilização social” são
possibilidades mais do que suficientes para que, com a cobertura internacional,
o regime determine quando e como se realizarão eleições.
Eugénio
Costa Almeida, um dos mais reputados especialistas em questões africanas, com
realce para Angola, afirmou ainda não ser claro o significado das palavras de
José Eduardo dos Santos no anúncio de hoje.
“Deixa-me
duas questões prévias: vai abandonar a política no geral e simultaneamente a
presidência, caso seja o número um e o MPLA ganhe as eleições em 2017; ou na
perspectiva de que vai deixar a política em 2018 já não se candidatará?”,
questionou, acrescentando aquela que é a verdade das verdades: Mesmo que
“abandone a política activa não significa que abandonará a presidência”.
Pois
é. O mais certo é José Eduardo dos Santos ser o candidato do MPLA na eleição
indirecta (cabeça-de-lista do partido), em 2017 ou noutra data qualquer, ganhar
folgadamente (como é timbre nas ditaduras) e depois calmamente passar o
testemunho a um outro qualquer “Eduardo dos Santos”, devidamente formatado,
domesticado e controlado.
Caso
se concretize a saída da Presidência, diz Eugénio Costa Almeida, o MPLA deve
começar a preparar alguém que efectivamente mereça a credibilidade junto da
população e, principalmente, do bureau político do MPLA.
Como
especialista em questões angolanas, Eugénio Costa Almeida sabe que, na versão
factual, tal como o MPLA é Angola e Angola é o MPLA, José Eduardo dos Santos é
o MPLA e o MPLA é José Eduardo dos Santos. Dizer-se que o MPLA deve começar a
preparar alguém é tapar o Sol com uma peneira. Quem prepara, quem determina, o
sucessor é Eduardo dos Santos. Tudo o resto é paisagem.
“Isto
já devia ter sido anunciado há mais tempo e devia ter começado a ser preparada
a continuidade dentro do partido com maior calma, maior ponderação”, afirma
ainda Eugénio Costa Almeida com aquela ingenuidade que nos caracteriza a todos:
pensamos que Angola é aquilo que não é – Um Estado de Direito Democrático.
*No
Folha 8 por Orlando Castro, diretor-adjunto do Folha 8