Lisboa,
08 mar (Lusa) -- A antiga embaixadora em Jacarta Ana Gomes considera que a
missão do navio Lusitânia Expresso, há 25 anos, não conseguiu mobilizar a
atenção internacional para a causa timorense, defendendo que os ativistas
deveriam ter forçado um incidente com a Indonésia.
No
dia 11 de março de 1992, a marinha indonésia impediu o 'ferry-boat' Lusitânia
Expresso de avançar em direção a Timor-Leste, onde os participantes na missão
"Paz em Timor" pretendiam chegar para depositar flores no cemitério
de Santa Cruz, em Díli, homenageando as mais de 200 vítimas do massacre
perpetrado pelas forças indonésias em novembro anterior.
A
bordo, seguiam mais de uma centena de pessoas, incluindo o antigo Presidente
português Ramalho Eanes, estudantes de 23 países, e 25 jornalistas portugueses
e 34 estrangeiros.
A
iniciativa, recordou a primeira embaixadora portuguesa em Jacarta, "foi
saudável e ajudou a mobilizar a sociedade portuguesa", mas não teve
repercussão no resto do mundo.
"Não
consigo deixar de pensar que poderia ter tido mais impacto se tivesse havido
mais ousadia", disse à Lusa Ana Gomes.
"Mesmo
que os indonésios se atrevessem a tomar uma medida repressiva, isso só teria
beneficiado a causa de Timor. É difícil dizer isto, mas quando nos metemos numa
aventura dessas, é para desafiar até ao fim", considerou a antiga
diplomata.
A
atual eurodeputada recorda que a causa timorense mobilizou a opinião pública
portuguesa, sublinhando que Portugal tinha "uma responsabilidade histórica
dupla" para com Timor-Leste.
Por
um lado, como antiga "potência colonial, bastante negligente" e pelo
"comportamento miserável" que teve na descolonização, em 1975, o
mesmo ano em que a Indonésia anexou o país como a sua 27.ª província.
Além
disso, dias antes do massacre de Santa Cruz, deputados portugueses cancelaram
uma visita que estava prevista a Timor-Leste.
"À
última, Portugal recuou miseravelmente. Miseravelmente. Tinha de mandar a
missão, os estudantes timorenses estavam à espera para fazer
manifestações", uma forma de chamar a atenção internacional para a
ocupação indonésia, criticou Ana Gomes.
Na
opinião da ex-diplomata, o que realmente captou a atenção da opinião pública
foi o massacre de Díli, a 12 de novembro de 1992, que foi filmado pelo
jornalista Max Stahl, e em que se vê timorenses a rezarem em português.
"Durante
anos e anos e anos ninguém falava de Timor. Muitos diplomatas e políticos
diziam que o tempo resolveria, para não se resolver", afirmou, destacando
que se tratava de um problema "de direitos humanos e uma questão de honra
para Portugal".
Os
25 anos da viagem do navio Lusitânia Expresso são assinalados este sábado em
Lisboa, com a presença de antigos participantes na missão.
JH.
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