M.Azancot de Menezes*, Díli
O
crocodilo, desde tempos desandados, tornou-se um animal sagrado muito
respeitado pelos timorenses, a que chamam de “Avô”.
Este
ser é tão respeitado e admirado pela população timorense que embeleza numerosos
motivos tradicionais de esculturas ou tecidos, sendo um personagem habitual em
lendas e contos infantis de Timor-Leste.
A
evidência desse respeito é particularmente visível na encantadora «lenda do
crocodilo» que retrata uma história linda de fascinar sobre o nascimento da
amizade entre este animal sublime e um certo rapaz.
“Em
tempos que já lá vão, vivia na ilha de Celebes um crocodilo muito velho, tão
velho que não conseguia caçar os peixes do rio.
Certo
dia, morto de fome, decidiu aventurar-se pelas margens em busca de algum porco
ou cão distraído que lhe servisse de refeição. Andou, andou, até cair exausto e
desesperado, sem forças para regressar à água.
Quem
lhe valeu foi um rapaz simpático e robusto que teve pena dele e o arrastou pela
cauda.
Em
retribuição pelo serviço prestado, o crocodilo ofereceu-se para o transportar
às costas sempre que ele quisesse navegar. Foi assim que começaram a viajar
juntos.
Mas,
apesar da amizade que sentia pelo rapaz, quando o crocodilo teve novamente fome
lembrou-se de o comer. Antes, porém, quis ouvir a opinião dos outros animais e
todos se mostraram indignados. Devorar quem o salvara? Que terrível ingratidão!
Envergonhado e cheio de remorsos, o crocodilo resolveu partir para longe e
recomeçar a sua vida onde ninguém o conhecesse.
Como
o rapaz[1] era o único amigo que tinha, chamou-o e disse-lhe assim:
–
Vem comigo à procura de um disco de ouro, que flutua nas ondas perto do sítio
onde nasce o Sol. Quando o encontrarmos seremos felizes.
Mais
uma vez viajaram juntos, agora sulcando o mar que parecia não ter fim, mas a
certa altura o crocodilo percebeu que não podia continuar. Exausto, deteve-se
na intenção de descansar apenas um instante mas, logo que parou, o corpo
transformou-se numa ilha maravilhosa!
O
rapaz, que se viu homem feito de um momento para o outro, verificou, encantado,
que trazia ao peito o disco de ouro com que o crocodilo sonhara.
Percorreu
então as praias, as colinas e as montanhas e compreendeu que aquela era a ilha
dos seus sonhos. Instalou-se e escolheu o nome para a ilha. Chamou-lhe Timor, que
significa “Oriente”».
M. Azancot de
Menezes – Jornal Tornado
*Secretário-Geral
do Partido Socialista de Timor (PST) e Professor Universitário
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