sábado, 5 de agosto de 2017

A demissão da “raposa velha” da política timorense não é o fim da linha para Xanana

O ex-Presidente afastou-se da liderança do seu partido, após a derrota nas legislativas.

João Ruela Ribeiro*

Numa decisão surpreendente, o antigo primeiro-ministro timorense, e líder histórico da resistência, Xanana Gusmão apresentou a demissão da liderança do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), na sequência da derrota nas eleições legislativas do mês passado. O partido iniciou esta sexta-feira uma conferência à porta fechada para decidir se entra em negociações para integrar um Governo de coligação.

Descrevendo o segundo lugar nas legislativas – com uma diferença de mil votos em relação à Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin) – como um “fracasso”, Xanana anunciou o seu afastamento do partido que fundou há dez anos e instou os seus dirigentes a permanecerem na oposição. "A maioria do nosso povo não tem confiança no programa do partido. Este facto é, legitimamente, um direito dessa maioria e o partido tem que respeitar essa vontade, expressa no resultado das eleições", afirmou na abertura da conferência, citado pela agência Lusa.


Nas eleições de 22 de Julho, a Fretilin elegeu 23 deputados, mais um do que o CNRT – que tinha sido o partido mais votado nas eleições anteriores. Foram ainda eleitos oito deputados do recém-formado Partido Libertação Popular (PLP), fundado pelo ex-Presidente, Taur Matan Ruak, sete do Partido Democrático (PD) e cinco do KHUNTO. O Governo anterior era composto por uma coligação assente no CNRT e na Fretilin.

A decisão de Xanana não é, no entanto, uma despedida da vida política do ex-guerrilheiro e primeiro Presidente eleito de Timor-Leste. “Xanana é uma raposa velha”, diz ao PÚBLICO o seu ex-assessor presidencial, Rui Feijó. O investigador diz que é ainda incerto se o CNRT irá seguir a orientação deixada pelo líder demissionário, lembrando que “vem ao arrepio das declarações dos responsáveis do CNRT ao longo das últimas semanas”, que têm manifestado abertura para reeditarem a coligação com a Fretilin.

Quanto a Xanana Gusmão, uma das possibilidades é que o ex-primeiro-ministro entre num novo capítulo da sua carreira política e apareça como “uma voz crítica da acção governativa”, diz Feijó.

Foto: Xanana Gusmão durante um comício na campanha eleitoral | LUSA/ANTONIO DASIPARU

*Público

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