O
ex-Presidente afastou-se da liderança do seu partido, após a derrota nas
legislativas.
João
Ruela Ribeiro*
Numa
decisão surpreendente, o antigo primeiro-ministro timorense, e líder histórico
da resistência, Xanana Gusmão
apresentou a demissão da liderança do Congresso Nacional da
Reconstrução Timorense (CNRT), na sequência da derrota nas eleições
legislativas do mês passado. O partido iniciou esta sexta-feira uma conferência
à porta fechada para decidir se entra em negociações para integrar um Governo
de coligação.
Descrevendo
o segundo lugar nas legislativas – com uma diferença de mil votos em relação à
Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin) – como um
“fracasso”, Xanana anunciou o seu afastamento do partido que fundou há dez anos
e instou os seus dirigentes a permanecerem na oposição. "A maioria do
nosso povo não tem confiança no programa do partido. Este facto é,
legitimamente, um direito dessa maioria e o partido tem que respeitar essa
vontade, expressa no resultado das eleições", afirmou na abertura da
conferência, citado pela agência Lusa.
Nas
eleições de 22 de Julho, a Fretilin elegeu 23 deputados, mais um do que o CNRT
– que tinha sido o partido mais votado nas eleições anteriores. Foram ainda
eleitos oito deputados do recém-formado Partido Libertação Popular (PLP),
fundado pelo ex-Presidente, Taur Matan Ruak, sete do Partido Democrático (PD) e
cinco do KHUNTO. O Governo anterior era composto por uma coligação assente no
CNRT e na Fretilin.
A
decisão de Xanana não é, no entanto, uma despedida da vida política do
ex-guerrilheiro e primeiro Presidente eleito de Timor-Leste. “Xanana é uma
raposa velha”, diz ao PÚBLICO o seu ex-assessor presidencial, Rui Feijó. O
investigador diz que é ainda incerto se o CNRT irá seguir a orientação deixada
pelo líder demissionário, lembrando que “vem ao arrepio das declarações dos
responsáveis do CNRT ao longo das últimas semanas”, que têm manifestado
abertura para reeditarem a coligação com a Fretilin.
Quanto
a Xanana Gusmão, uma das possibilidades é que o ex-primeiro-ministro entre num
novo capítulo da sua carreira política e apareça como “uma voz crítica da acção
governativa”, diz Feijó.
Foto:
Xanana Gusmão durante um comício na campanha eleitoral | LUSA/ANTONIO
DASIPARU
*Público
Sem comentários:
Enviar um comentário