Díli,
07 mar (Lusa) - Francisco Guterres Lu-Olo está confiante que há mesmo duas sem
três e que no próximo dia 20 de março vai vencer as eleições presidenciais
timorenses à primeira volta, mercê do apoio dos dois maiores partidos do país.
"Estou
a desfrutar de muito mais apoio do que há cinco anos atrás. Na altura a
situação era ainda muito agitada, com a candidatura do atual Presidente da
República, que saiu das forças armadas", explicou em entrevista à Lusa.
"Eram
duas figuras da resistência e havia até alguma tensão. E quem tinha andado
connosco na guerra não sabia em quem votar", refere.
Cinco
anos depois apoiantes mas também adversários admitem que este será o ano de
Lu-Olo, depois de duas tentativas falhadas, em 2007 e 2012, onde sempre ganhou
na primeira volta para acabar derrotado na segunda.
Em
2007 alcançou 28% dos votos na primeira volta mas acabou por perder para
José-Ramos Horta na segunda e cinco anos depois volta a ganhar à primeira para
perder na segunda, desta vez para Taur Matan Ruak.
Agora,
explica, as coisas serão diferentes, tanto pelo número de militantes que
garante que a Fretilin (Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente) já
registou - "são cerca de 290 mil" (num universo de 750 mil eleitores)
- como pelo apoio de Xanana Gusmão e do Congresso Nacional da Reconstrução
Timorense (CNRT). Em 2012 os dois partidos, juntos, tiveram quase 67% dos
votos.
"O
partido CNRT e outros partidos mais pequenos apoiam-me, os veteranos também
começam a movimentar-se, a falar sobre a minha candidatura e por isso penso que
poderei chegar à vitória. Estou confiante com base nos dados que tenho",
explicou.
Presidente
da Assembleia Constituinte e do Parlamento Nacional - período em que completou
o seu curso de direito - Lu-Olo, 62 anos, esteve ativo na luta contra a
ocupação indonésia desde 1975, tanto nas estruturas de liderança da Fretilin
como integrado nas Falintil, o braço armado da resistência.
Numa
conversa de antecipação da campanha, rejeitou que seja apenas um candidato da
velha geração mas, ao mesmo tempo, que se considere que os mais velhos deixaram
de ser necessários para o país.
"A
nova geração tem que começar a afirmar-se cada vez mais, mas isto não significa
que a nova geração negue a oportunidade aos velhos", defendeu.
Timor-Leste,
insistiu, ainda está a construir o seu Estado e nesse processo "a velha
geração ainda tem um papel muito importante", especialmente em
circunstâncias como as atuais em que, diz, os líderes históricos "estão
unidos" e empenhados em "garantir a paz e a estabilidade e
desenvolver o país".
O
homem que entregou a arma com que lutou contra os indonésios a 26 de novembro
de 2000, insiste que a busca de consenso continua a ser "a melhor solução
para Timor-Leste" onde, insiste, não há ainda condições para uma
democracia clássica e onde todos devem trabalhar juntos na busca de soluções.
"Diálogo
constante em busca de consenso é muito importante para este país. A democracia
às vezes divide-nos porque nem todos sabem assumir o valor desta
democracia", explicou. "Neste momento é ainda muito importante
unirmos as nossas vontades para continuar na construção do estado de direito e
desenvolver o país e depois, daqui a 10 ou 20 anos, a situação mudará e a outra
geração tentará situar e entender o significado da democracia no seu próprio
tempo", afirmou.
Considerando
que "não é normal" a tensão que tem havido nos últimos anos entre os
órgãos de soberania timorenses, Lu-Olo diz que os três presidentes desde a
restauração da independência (Xanana Gusmão, José Ramos-Horta e Taur Matan Ruak)
foram todos seus companheiros de luta.
Todos
tiveram modos de governar diferentes, disse, mas quem está nessas funções
"não pode exercer o poder político apenas com o seu próprio caracter"
porque há regras a respeitar.
E
garante que ao contrário de Xanana Gusmão e, ao que tudo indica Taur Matan,
Ruak, não precisa de estar na Presidência e pensar em criar um partido
político.
"Xanana
Gusmão criou o seu partido. Só Ramos-Horta é que não pensou criar um partido
dele. Já ouvimos dizer que o atual PR também ver ter o seu partido para
concorrer como candidato a primeiro-ministro", explicou.
"Eu
não preciso de ciar um partido meu. Já tenho o meu partido que é a Fretilin. E
não tenho que pensar em criar um partido no palácio presidencial",
referiu.
Lu-Olo
explica que vai incidir a sua mensagem de campanha a explicar à população que
será "o Presidente de todos e para todos", comprometido em
"assegurar a paz e a estabilidade e desenvolver o pais, juntamente com os
outros órgãos de soberania".
"E
vou dizer também que respeitarei a competência de outros órgãos de soberania e
cumprirei as minhas funções de acordo com a constituição", afirmou,
explicando que pedirá calma e um não à violência.
"E
direi que com um Presidente certo, um primeiro-ministro competente e um Parlamento
Nacional em busca de diálogo permanente e de consenso poderemos levar um país
para a frente", referiu.
ASP
// PJA
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