Coimbra,
09 dez (Lusa) - O jornalista inglês Max Stahl afirmou hoje em Coimbra que falar
português foi um ato de resistência mas também de sobrevivência do país,
considerando que, "sem a língua portuguesa, não há nação em
Timor-Leste".
Hoje,
os jovens em Timor-Leste questionam-se para que "serve a língua
portuguesa", num país tão distante de Portugal ou do Brasil, mas os
timorenses que lideraram a luta pela independência do país "continuam
muito conscientes de que a sobrevivência da nação depende da diferença, da
identidade única do povo", onde o português se assume como uma das
bandeiras, sublinhou Max Stahl.
O
jornalista filmou e divulgou o massacre de Santa Cruz, em 1991, quando o
exército indonésio abriu fogo sobre a população, matando 271 pessoas no local e
outras 127 que viriam a morrer nos dias seguintes.
Apesar
de a língua portuguesa continuar a ser "minoritária em Timor-Leste",
está no "meio de uma luta não só da língua, mas dos valores que
comunicava, especialmente através da Igreja, mas não só", sublinhou o
jornalista inglês, que apresenta em Coimbra, na terça-feira, a estreia do seu
mais recente documentário "A Língua, a Luta, a Nação", sobre o papel
do português na construção da nação timorense.
Para
ilustrar tal consideração, o jornalista inglês recordou que os ativistas
escreviam documentos em português durante a luta pela independência, assim como
os comandantes "que lutavam no mato" e faziam questão de enviar
mensagens em português, "apesar de os soldados não entenderem" a
língua.
"Mais
do que um papel simbólico, [a língua] estava na base da luta", vincou.
Max
Stahl recordou que Timor-Leste "tem muitas línguas e dialetos", sendo
que "a sobrevivência" de Timor-Leste enquanto nação "depende de
valores, mas também de algumas bandeiras e símbolos".
"Porque
é que os timorenses não são indonésios? É por isso que há uma determinação de
vários líderes de que esta língua vai sobreviver em Timor", notou,
sublinhando que o português "vai crescer" e que nunca houve
"tantos timorenses" a falá-la, apesar de ainda ser uma percentagem
reduzida.
Max
Stahl falava aos jornalistas à margem do colóquio que se realiza hoje em
Coimbra, intitulado "Timor: mil palavras, mil imagens", em que
participam investigadores que abordam a relação entre os 'media' e o processo
de independência de Timor-Leste e jornalistas que acompanharam esse mesmo
processo.
Depois
de muitos anos a procurar contar "a história de luta pelos valores da
dignidade humana" em vários países em guerra, o jornalista inglês
conseguiu recolher imagens em Timor Leste que acabaram por mudar o curso dos
acontecimentos.
"Foram
uma porta, uma janela para outros jornalistas contarem e fazerem a ponte entre
esses jovens e o mundo", numa altura em que, apesar da situação dramática
vivida no país, "ninguém estava interessado".
Max
Stahl estava "sozinho, com jovens sem qualquer poder ou perspetiva, mas
que nunca abandonaram os princípios que tinham", contou o repórter inglês
que considera que um jornalista sem valores e sem "uma base
consciente" é uma "pessoa muito perigosa".
"Não
acredito no jornalista neutral. O jornalista neutral é muito perigoso",
sublinhou.
A
Universidade de Coimbra assinala os 25 anos do massacre de Santa Cruz e os 20
anos do Nobel da Paz atribuído a Ximenes Belo e José Ramos-Horta, com a
presença dos laureados, exibição de documentários, exposição, debates, numa
iniciativa que decorre entre hoje e o dia 16.
JYGA
// VM
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