"Malai,
malai". Viajar pelo Timor Leste é ouvir sempre essas palavras dos
moradores, tanto da capital quanto das pequenas vilas.
Os
chamados e as expressões de curiosidade que acompanham o termo, que designa
qualquer estrangeiro, mostram quanto os timorenses ainda estão se acostumando a
receber visita.
Praticamente
invisível no mapa-múndi, o Timor Leste quer, agora, ser visto. Independente há
apenas 15 anos, o mais novo país da Ásia começa a entrar no roteiro turístico
da região.
O
país ocupa metade da ilha de Timor, na qual divide uma fronteira terrestre com
a Indonésia, e está ao norte da Austrália.
Nos
últimos seis anos, o número de turistas duplicou, atingindo 71,6 mil em 2016,
de acordo com o Ministério do Turismo timorense.
Segundo
o órgão, indonésios, australianos e portugueses são os que mais visitam o país.
Não há dados disponíveis sobre a posição que o Brasil ocupa neste ranking.
Com
praias paradisíacas pouco exploradas, alguns dos melhores pontos de mergulho do
mundo, trilhas por entre montanhas e uma forte história de resistência e luta,
o Timor Leste é um destino para quem gosta de aventura ou para quem quer
conhecer um país em formação.
A
ex-colônia portuguesa que, após sua libertação em 1975, foi ocupada pela
Indonésia por 25 anos e vivenciou uma sangrenta luta por independência,
experimenta nos últimos dez anos estabilidade política que dá condições para
que o país atraia investimentos estrangeiros, principalmente na área hoteleira.
O
turismo hoje é o terceiro maior setor da economia timorense, atrás da
agricultura e da exploração de petróleo e gás. Mas a queda dos preços e a
diminuição da produção de hidrocarbonetos tem obrigado o governo a diversificar
seus rendimentos.
Apesar
de o país ocupar uma área equivalente a apenas o dobro da região metropolitana
de São Paulo, viajar pelo Timor Leste demanda tempo e paciência.
A
rede rodoviária do país é bastante deficitária, dificultando a locomoção por
entre cidades. Para percorrer os cerca de 70 km entre Díli, a capital, e
Maubisse, nas montanhas, leva-se quase três horas por estradas cheias de curvas
que mesclam asfalto velho com trechos de terra. Pelo caminho, no entanto, obras
de infraestrutura e recapeamento são constantes.
Viajar
pelo Timor-Leste também não é tão barato em comparação a seus vizinhos
asiáticos, devido ao uso do dólar como moeda oficial.
SUSTENTABILIDADE
Situado
em uma das regiões turísticas mais competitivas do mundo, o Timor Leste
enfrenta o desafio de definir quais rumos a indústria turística deve ter no
país.
Uma
das diretrizes adotadas pelo governo, de acordo com a Política Nacional de
Turismo, lançada em março, é o desenvolvimento de atividades sustentáveis que
diferenciem o país de seus vizinhos. O objetivo é ter, até 2030, o
estabelecimento dessa indústria.
Conglomerados
internacionais da área hoteleira e de lazer, no entanto, já pressionam as
autoridades locais para permitirem a construção de grandes resorts e cassinos.
A
mudança de foco no desenvolvimento do turismo também é vista como estratégia
para alterar a visão que muitas pessoas têm do país: o de um lugar marcado pelas
atrocidades da guerra.
"Temos
de nos diferenciar, é nossa oportunidade. Vimos o que aconteceu em outros
países que não se preocuparam em manter seus recursos naturais, por isso temos
que explorá-los de forma sustentável", diz a empreendedora Mirabília Sarmento.
"O
governo precisa se comprometer com esse caminho sem ceder, mas estamos
apreensivos sobre se isso realmente irá acontecer."
Refugiada
em Portugal e na Espanha na época da invasão indonésia, a empresária decidiu
voltar ao seu país após quase 30 anos, com o intuito de ajudar em sua
reconstrução. Hoje, ela tem um restaurante e está montando uma agência de
turismo voltada a atividades que integrem as comunidades locais e o turismo de
aventura.
O
fotógrafo e cinegrafista britânico Max Stahl concorda com Sarmento. "Não
devemos ter um turismo de massa como em Bali, por exemplo. A intenção das
várias ações é formar no Timor um turismo sustentável, capaz de atrair os
visitantes e ao mesmo tempo preservar os lugares e a história", disse.
Stahl
tem uma longa relação com o Timor Leste. Ele filmou e divulgou ao mundo a
violência de indonésios contra timorenses.
Seu
vídeo mais famoso é o do massacre do cemitério de Santa Cruz, em Díli. Em 1991,
forças militares indonésias atacaram uma procissão e mataram mais de 200
pessoas. Em 2003, Stahl se mudou para o país e hoje coordena um centro de
documentação cinematográfica na capital.
Mariana
Haubert, em Díli | Folha de S. Paulo
Sem comentários:
Enviar um comentário