Díli,
20 nov (Lusa) - A oposição timorense, maioritária no Parlamento, chumbou hoje
um pedido de tramitação com urgência da proposta de lei do Orçamento Retificativo
apresentado pelo Governo, criticando o conteúdo e o momento de apresentação do
texto.
O
chumbo do pedido de urgência marcou uma tensa sessão plenária do Parlamento
Nacional que arrancou com a oposição a anunciar uma moção de censura ao
Executivo, que cairá se essa moção for aprovada. O debate da moção de censura
pode realizar-se já esta semana.
Nesta
sessão, a oposição apresentou também um recurso contra a decisão do presidente
do Parlamento Nacional, Aniceto Guterres Lopes, ter admitido a proposta de
orçamento.
O
pedido de urgência foi chumbado com 35 votos contra e 30 a favor e "o
Parlamento Nacional vai agora fazer a tramitação do orçamento de acordo com
calendário normal", explicou o presidente do Parlamento Nacional, Aniceto
Guterres Lopes.
"Apesar
de haver um recurso, a tramitação é um processo normal e o Orçamento vai agora
baixar às comissões especializadas", disse.
Um
parecer a defender essa tramitação urgente já tinha sido rejeitado, com seis
votos contra e cinco a favor, na semana passada, na Comissão de Finanças
Públicas, com a oposição a contestar a oportunidade e conteúdo do projeto de
lei do executivo.
A
proposta de orçamento retificativo do Governo prevê um aumento das contas
públicas de 1,34 mil para 1,6 mil milhões de dólares (cerca de 1,36 mil milhões
de euros) e inclui, entre outros elementos, cerca de 12 milhões de dólares para
a eventual realização de eleições antecipadas, opção que pode ser escolhida
pelo chefe de Estado se o Governo cair.
Durante
o debate, Merício Juvenal dos Reis, deputado do Partido Libertação Popular
(PLP), insistiu que falta muita informação ao Governo, inclusive para sustentar
os motivos que apresenta quer para a necessidade do Orçamento Retificativo,
quer para a sua tramitação com cariz de urgência.
Aspetos
como dívidas, falta de pagamento a hospitais em Singapura para onde são
transferidos pacientes timorenses, ou outras questões, deviam ser "mais
bem explicadas pelo Governo" que "não pode politizar" estes
assuntos.
Fernanda
Lay, deputada do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), disse ser
"claro que o retificativo é importante", mas acrescentou faltar muita
informação à proposta do Executivo, incluindo dados essenciais relativos aos
justificativos do Governo.
Como
exemplo citou o facto de que o executivo defendia ser necessário dinheiro para
salários, quando a execução deste capítulo nas contas públicas ainda ronda os
75%, questionando ainda não existir ainda a lei orgânica do Governo.
"A
lei orgânica é importante porque há Ministérios que são criados e outros que
desaparecem. É importante ter a lei orgânica para poder perceber os ajustes que
são necessários. Não estou aqui a questionar a legalidade do Governo, mas a
orgânica, que é crucial para o orçamento", disse.
A
posição global da oposição relativamente à proposta de orçamento retificativo
do Governo foi detalhada na declaração política lida pela bancada do CNRT, em
nome do bloco da Aliança de Maioria Parlamentar (AMP).
Essa
declaração, em que a oposição anunciou uma moção de censura ao Governo - cujo
texto não foi ainda divulgado - apontou várias falhas no orçamento retificativo
e contestou o momento em que foi entregue sem tempo para aprovação, na reta
final de 2017.
"Tendo
em conta a proposta de lei de Orçamento Retificativo, os deputados que integram
a AMP decidem que o Parlamento não pode discutir ou debater a proposta de
lei", referiu a declaração lida no arranque da sessão.
Entre
as falhas apontadas, a oposição referiu que ainda não está aprovada uma lei
orgânica do Governo - que justifique as despesas com a alteração da composição
do executivo -, que não há tabelas de execução orçamental de despesas ou
receitas, nem projeções até final do ano.
O
Governo não apresentou informação sobre ativo e passivo do Estado, sobre
empréstimos, não incluiu uma certidão dos levantamentos ou saldo do fundo
petrolífero e seu comportamento, informação sobre cumprimento de autonomia
departamental e sobre ajuste diretos e informação sobre fundos de reserva de
contingência, entre outros.
Além
disso, dado o calendário apertado, a oposição considerou que será impossível ao
Governo implementar ou executar o orçamento retificativo.
Em
defesa da posição do Governo, o ministro da Presidência de Conselho de
Ministros, Adriano do Nascimento, defendeu a urgência do orçamento retificativo
para resolver dívidas pelas quais o Estado pode ser multado e também questões
"humanitárias urgentes", como a transferência para o estrangeiro de
vários doentes graves.
Adriano
do Nascimento disse que o orçamento retificativo "é urgente para o Estado
e para o país" com problemas "que têm que ser resolvidos agora",
com dívidas acumuladas por vários projetos e que se não forem resolvidas até
final do ano podem ter "grande impacto orçamental".
Falta
de dinheiro para as forças de segurança, falta de dinheiro para um
transformador e manutenção da rede elétrica e outros aspetos são igualmente
urgentes, defendeu.
ASP
// EJ
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