Trump e Kim Jong-un fizeram
história esta terça-feira e comprometeram-se a avançar para uma solução de paz.
EUA garantem fim de exercícios militares na península, Coreia do Norte compromete-se
com desnuclearização. A comunidade internacional manifesta otimismo com os
resultados da cimeira, mas mantém a precaução perante a imprevisibilidade do
acordo.
Depois de muitos apertos de mão, sorrisos mútuos e trocas de elogios,
pautados por pompa e circunstância numa cimeira pensada ao pormenor, Donald
Trump e Kim Jong-un abandonaram Singapura com um documento conjunto para mostrar não só internamente como
ao resto do mundo.
Apesar de ainda ser cedo para
perceber as reais dimensões do encontro dos líderes norte-americano e norte-coreanopara o
futuro, e até que ponto os compromissos serão cumpridos, da cimeira histórica desta terça-feira já é possível retirar
algumas conclusões, ou pelo menos perceber qual o ponto de partida para futuras
conversações entre dois países que mantêm relações conturbadas há cerca de 70
anos, data da Guerra da Coreia que dividiu a península em dois.
Kim Jong-un foi perentório ao
dizer que os dois países pretendem “deixar o passado para trás” e
prosseguir o caminho do diálogo.
Horas após o final do encontro,
já Kim regressava a Pyongyang, Trump apareceu perante os jornalistas para
uma conferência de imprensa em que desvendou os principais detalhes da conversa
que manteve com o seu homólogo norte-coreano.
Visivelmente bem disposto, o
presidente norte-americano revelou que os Estados Unidos vão terminar as
manobras militares conjuntas com a Coreia do Sul na península coreana, uma das
reivindicações principais de Pyongyang. Trump falou no “fim dos jogos de
guerra”, apesar de as sanções contra o regime norte-coreano continuarem em
vigor.
Além disso, de acordo com o
documento captado pelos fotógrafos, Estados Unidos e Coreia do Norte comprometem-se
“a estabelecer novas relações de acordo com o desejo do povo das duas nações
quanto à paz e à prosperidade”. Pyongyang manifestou a disponibilidade de
trabalhar na total desnuclearização da península coreana”, a maior ambição de
Washington nestas negociações, sendo que Trump garantiu aos jornalistas que o
processo de destruição de armas nucleares será acompanhado por observadores
internacionais, contando, segundo o próprio, com as garantias de Kim.
Otimismo internacional… mas com
cautela
As reações da comunidade
internacional à cimeira de Singapura têm sido sobretudo de otimismo, apesar de
o ceticismo pairar no ar, não estivessem os destinos das negociações na mão de
um presidente que rasga acordos internacionais pelo Twitter.
Para Moon Jae-in, a "cimeira
histórica" de 12 de junho "pôs termo à Guerra Fria". O presidente da Coreia
do Sul elogiou a “coragem e determinação” dos seus homólogos
norte-coreano e norte-americano, manifestando a intenção de prosseguir o
diálogo na península coreana.
No mesmo sentido, embora com mais
elogios aos Estados Unidos, o Japão elogiou a “liderança” do presidente Trump e pediu responsabilidade ao regime norte-coreano. De Pequim
veio igualmente entusiasmo, tendo o porta-voz do ministério dos negócios
estrangeiros sublinhado a criação “de uma nova história”.
Com a cimeira do G7 ainda a causar desconforto, a União
Europeia, pela voz de Federica Mogherini salientou o "passo crucial e necessário" para a estabilidade da
região. A chefe da diplomacia da União Europeia elogiou ainda a “liderança,
sabedoria e determinação do presidente da República da Coreia, Moon
Jae-in".
Já a Rússia fez um balanço positivo da cimeira, mas sublinhou que “o
diabo está nos detalhes”, ou seja, Moscovo espera por mais pormenores para
perceber até que ponto as relações entre Estados Unidos e Coreia do Norte podem
dar o salto para o degrau seguinte. No entanto, a diplomacia russa garante
estar pronta a implementar o acordo estabelecido entre Kim e Trump.
A reação mais crítica veio do Irão, país que recentemente
sentiu na pele a imprevisibilidade e falta de compromisso de Trump no
que diz respeito a acordos internacionais. No passado mês de maio, recorde-se,
o presidente norte-americano rasgou o acordo nuclear iraniano, estabelecido
durante o mandato de Barack Obama, criando enorme expectativa e tensão nas
relações internacionais. Por isso, Teerão, através de um porta-voz do
governo, avisou Kim que Trump é “um homem que revoga a sua assinatura",
pelo que Pyongyang deve ficar alerta, porque nada é certo com a atual
diplomacia norte-americana.
Pedro Bastos Reis | Notícias ao
Minuto
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