Pequim, 05 set (Lusa) - A caixa
de comentários às notícias de que Pequim vai emprestar 60 mil milhões de
dólares aos países africanos está suspensa nos vários portais noticiosos
chineses, após internautas terem manifestado a sua insatisfação nas redes sociais
do país.
O Presidente chinês, Xi Jinping,
avançou esta semana com aquele valor, na abertura da terceira edição do Fórum
de Cooperação China-África (FOCAC), que reuniu, em Pequim, dezenas de chefes de
Estado e de Governo do continente africano.
Bancos estatais e outras
instituições da China estão a conceder enormes empréstimos, alguns isentos de
juros ou com condições preferenciais, para projetos lançados no âmbito daquela
iniciativa.
Segundo constatou a agência Lusa,
no portal de informação económica Caijing ou na versão 'online' do jornal
Beijing Evening News, a tentativa de colocar uma mensagem resulta no aviso de
que "estão proibidos comentários a esta notícia".
A assistência financeira da China
ao exterior é frequentemente alvo de críticas no país, onde dezenas de milhões
de pessoas continuam a viver abaixo do limiar da pobreza ou sem acesso ao
ensino e saúde.
No Weibo, o 'Twitter chinês',
vários internautas compararam o montante prometido por Xi com os gastos
domésticos em educação ou no apoio às populações mais pobres.
"Devias primeiro criar as
tuas próprias crianças", escreve um internauta. "Há tantas vítimas na
China em desastres naturais ou provocados pelo homem, poderias olhar pelos mais
pobres aqui por favor?".
Um 'meme' difundido na Internet
chinesa mostra o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, a prometer
que a China não vacilará nos seus compromissos económicos com África, ao lado
dos comentário do ministro da Educação, Chen Baosheng, que afirma que o país
tem escassez de fundos e "não pode exceder o seu estágio de
desenvolvimento".
A imprensa estatal, entretanto,
tem realçado os benefícios mútuos da cooperação com África, apontando o grande
potencial de consumo e abundantes recursos naturais do continente.
"China e África são altamente
complementares e o potencial de desenvolvimento de África irá criar um grande
mercado", lê-se num comentário no Diário do Povo, jornal oficial do
Partido Comunista Chinês, no qual se acrescenta que a China importa do
continente mais algodão e cobre do que produz internamente e que a exploração
de campos petrolíferos africanos, por empresas chinesas, "ajudou
muito" o país asiático a garantir a sua segurança energética.
Um outro artigo no Diário do Povo
lembra que, apesar de a assistência financeira de Pequim a África "não
implicar condições políticas", o continente tem expressado apoio às
reclamações territoriais de Pequim no Mar do Sul da China.
"Esta fraternidade não tem
preço", nota.
No FOCAC, Xi Jinping prometeu
ainda um perdão das dívidas que venceriam no final deste ano para os países
mais pobres do continente africano e 50 mil bolsas de estudos destinadas aos
jovens.
Os empréstimos chineses
inserem-se no projeto internacional de infraestruturas lançado pela China, a
Nova Rota da Seda, que inclui uma malha ferroviária intercontinental, novos
portos, aeroportos ou centrais elétricas, visando conectar Europa, Ásia
Central, África e sudeste Asiático.
Segunda maior economia mundial, a
China continua a ter quase 50 milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da
pobreza, estabelecido pelo Governo chinês em 2.300 yuan anuais (290 euros).
Em Pequim ou Xangai, as cidades
mais prósperas do país, o rendimento 'per capita' é dez vezes superior ao das
áreas rurais, onde quase metade dos cerca de 1.400 milhões de chineses continua
a viver.
JPI // JMC
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