Díli,
10 ago (Lusa) - Cornélio Gama, conhecido como L-7, irmão do ex-comandante da
resistência timorense Mauk Moruk, morto em confrontos com as forças de
segurança no sábado, acusou hoje as autoridades timorenses de terem violado a
lei e assassinado o seu irmão.
Em
declarações à Lusa, L-7 exigiu ainda o cadáver de Mauk Moruk, que está desde a
noite de sábado na morgue do Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV),
afirmando que a morte do seu irmão foi "um ajuste de contas" antigo.
"Queremos
que nos entreguem o cadáver do Mauk Moruk. Não vamos reagir, mas queremos levar
o cadáver para Laga (a sul de Baucau)", disse em Díli.
"O
Estado não respeita o povo. Matou Mauk Moruk que estava desarmado. Recusou
dialogar e agora tem que assumir responsabilidade por isto. Sempre defendemos e
procurámos o diálogo", disse.
Líder
do movimento conhecido como Sagrada Família, L-7 acusou o Estado de "não
respeitar o povo" e de ter morto Mauk Moruk "que estava
desarmado" - informação que contradiz a versão das forças de segurança,
que dizem terem sido alvejadas por disparos.
"O
Estado agiu contra a lei, contra a constituição. Cometeu crimes de violência
contra o povo. As forças conjuntas atacaram, deu porrada e bateu ao povo. A
democracia é ter que respeitar o povo", afirmou.
L-7
visou diretamente três ex-comandantes da resistência timorense, Xanana Gusmão
(atual ministro do Planeamento), Lere Anan Timur (comandante das forças
armadas) e Taur Matan Ruak (Presidente da República).
"Xanana,
Taur, Lere, acabaram com a vida do irmão. Eles vieram todos do mato, mas foram
eles que acabaram com a vida do meu irmão. Antes comiam mandioca juntos, mas
agora matam-no", refere.
L-7
reiterou assim comentários anteriores argumentando que a morte foi o desfecho
de um "ódio" mútuo entre Xanana Gusmão e o seu irmão "que se
arrasta desde 1985".
"Foi
uma vingança que dura desde 1985 até agora, um conflito entre Mauk Moruk e
Xanana. Um ódio que não se revolveu até agora. Com esse ódio, o Xanana matou o
meu irmão", disse.
Mauk
Moruk é considerado pelos principais líderes timorenses como um traidor,
tendo-se entregado às forças de ocupação indonésias que posteriormente viria a
apoiar contra a resistência.
Nos
últimos anos da ocupação indonésia Mauk Moruk viveu na Holanda tendo regressado
nos últimos anos a Timor-Leste onde encabeçou o Conselho da Revolução Maubere
(CRM), tecendo duras críticas ao Governo timorense.
Alvo
de mandado de captura do Tribunal de Díli, Mauk Moruk foi responsável, segundo
o Governo, por liderar vários ataques contra as forças de segurança timorenses,
incluindo um ataque ao posto de polícia em Baguia e à equipa de segurança do
presidente do Parlamento Nacional.
Ângela
Freitas, líder do Partido Trabalhista de Timor-Leste e que nas últimas semanas
se apresentou como porta-voz de Mauk Moruk, insistiu hoje na culpabilização do
Governo, considerando que o executivo rejeitou o diálogo.
"A
família e o representante do Muak Moruk, tentámos muitas vezes chegar ao
diálogo. Mas o Governo não tomou iniciativas para resolver isto por meios de
diálogo. Encontrámo-nos com o PR, que tinha boa vontade para procurar um
caminho para uma solução pacífica, mas por outro lado o Governo não concordou
com isso", disse.
"Sentimos
profundamente a morte do comandante. Uma morte que tem que ser conhecida em
todo o mundo. Eles mataram o comandante em vez de o capturar. Dispararam
rajadas e mataram-no", disse.
Questionado
sobre as acusações contra Mauk Moruk, Ângela Freitas disse que se trata de
"uma história longa" e que chegou a altura de a liderança timorense
se sentar para contar a verdadeira história de Timor-Leste.
"É
tempo da liderança poder encontrar meios, pacificamente, para uma mesa redonda
e falar totalmente da história de Timor-Leste. Não tivemos só uma ou duas
pessoas heróis de Timor-Leste", afirmou.
"A
história foi toda distorcida pelo comandante Xanana Gusmão. É tempo da
liderança se sentar com cabeça fria e informar bem ao povo quem é quem. Não é
só Xanana, não é só Lere, não é só Taur", afirmou.
ASP
// PJA
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