domingo, 22 de novembro de 2015

Juventude e radicalismo levaram a erros e excessos - Rogério Lobato


Díli, 21 nov (Lusa) - Juventude e radicalismo próprio da época levaram a erros e excessos no período à volta da proclamação unilateral da independência de Timor-Leste, a 28 de novembro de 1975, disse em entrevista à Lusa o ex-ministro timorense Rogério Lobato.

"Houve excessos que poderiam muito bem ter sido evitados se não fossemos tão jovens e com pouca experiência na política. Olhando para trás de facto posso dizer que se cometeram alguns erros. Erros de um certo radicalismo, próprio daquele tempo", disse.

"Foi o 25 de abril e de certa forma essa revolução contagiou os jovens aqui em Timor-Leste. E nós na altura eramos jovens, estávamos na faixa dos 20 a 25 anos, não se podia exigir muito de jovens com falta de experiência de política, mas com grande empenho pela independência de Timor", sublinhou.

Irmão do líder histórico timorense Nicolau Lobato - um dos 12 irmãos que perdeu - Rogério Lobato foi ministro da Defesa do primeiro Governo, depois da proclamação da independência a 28 de novembro de 1975 e ministro do Interior já depois da restauração da independência.

Lobato não se exime de responsabilidade e explica que hoje, sempre que intervém publicamente, defende o diálogo e o entendimento, ingredientes que faltaram em 1975 e que levaram à perda de milhares de vidas.

"No passado foi mesmo isto, a falta de diálogo, a falta de entendimento entre nós conduziu a um processo muito doloroso em que se perderam milhares de vidas e eu como parte dessa geração tenho de assumir essa responsabilidade", admite.

Na altura oficial do exército português, admite que era difícil conciliar o não-partidarismo exigido aos militares e o ser timorense, especialmente porque havia dúvidas sobre o processo de descolonização e já pairava a ameaça indonésia.

"Era impossível não nos envolver porque o perigo era iminente. A Indonésia começou com as suas transmissões radiofónicas a partir de Cupão e isso mexeu com a maioria dos timorenses", explicou.

Lobato insiste que os timorenses "não queriam de forma alguma ser indonésios", sentiam "um certo abandono" de Portugal, na altura a braços com uma lista infindável de problemas e que nunca tomou "uma posição clara em relação a Timor".

"Timor foi de certa forma relegado para um plano muito secundário, Portugal tinha os seus problemas, que tinha de resolver e nós éramos para Portugal na altura, no meu ponto de vista, um problema secundário e isso de certa forma teve consequências", explica.

Lobato rejeita que tenha sido um grupo de estudantes timorenses que voltou de Portugal onde estava a estudar em 1974 a radicalizar a Associação Social Democrática de Timor (ASDT) - que se transformaria depois na Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin).

Atribui essa radicalização mais ao papel da Indonésia "de dividir os timorenses de forma a não estarem unidos a defenderem a independência de Timor" já que a Fretilin e a UDT (União Democrática Timorense, primeiro partido a ser criado no território) juntos tinham muito mais força.

Lobato considera que o golpe da UDT foi "um erro histórico" já que "travou o processo de descolonização levado a cabo por Portugal" e admite que se pensou, depois do contragolpe da Fretilin que "a guerra seria curta, que em apenas duas semanas tudo ficaria resolvido" e a descolonização seria concluída.

"Mas isso não aconteceu, porque entretanto a Indonésia começou a fazer a infiltração em profundidade dentro de Timor mas sempre dizendo que eram forças anticomunistas, no fundo eram forças regulares da Indonésia que apoiavam diretamente os elementos da UDT e da Apodeti (Associação Popular Democrática Timorense, partido pró-integração na Indonésia), que entretanto se refugiaram do outro lado de Timor indonésio", afirmou.

É neste contexto de exageros e excessos que Lobato coloca os massacres cometidos pela Fretilin e pela UDT, afirmando que "os massacres que houve foram sempre em resposta a massacres" anteriores.

Antes do massacre de Aileu, por exemplo, explica que houve o massacre de Betano, cometido pela UDT contra jovens da Fretilin, em que morreram cerca de 10 pessoas incluindo o seu irmão, Domingos Lobato.

"Enfim, são coisas que já passaram. Eu sempre digo que quando evoco estes acontecimentos não é para deitar abaixo este ou aquele mas para olharmos um pouco para o passado, para podermos viver o presente em paz e olharmos para o futuro", frisou.
ASP // EL

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