Díli,
21 nov (Lusa) - Juventude e radicalismo próprio da época levaram a erros e
excessos no período à volta da proclamação unilateral da independência de
Timor-Leste, a 28 de novembro de 1975, disse em entrevista à Lusa o ex-ministro
timorense Rogério Lobato.
"Houve
excessos que poderiam muito bem ter sido evitados se não fossemos tão jovens e
com pouca experiência na política. Olhando para trás de facto posso dizer que
se cometeram alguns erros. Erros de um certo radicalismo, próprio daquele
tempo", disse.
"Foi
o 25 de abril e de certa forma essa revolução contagiou os jovens aqui em
Timor-Leste. E nós na altura eramos jovens, estávamos na faixa dos 20 a 25
anos, não se podia exigir muito de jovens com falta de experiência de política,
mas com grande empenho pela independência de Timor", sublinhou.
Irmão
do líder histórico timorense Nicolau Lobato - um dos 12 irmãos que perdeu -
Rogério Lobato foi ministro da Defesa do primeiro Governo, depois da
proclamação da independência a 28 de novembro de 1975 e ministro do Interior já
depois da restauração da independência.
Lobato
não se exime de responsabilidade e explica que hoje, sempre que intervém
publicamente, defende o diálogo e o entendimento, ingredientes que faltaram em
1975 e que levaram à perda de milhares de vidas.
"No
passado foi mesmo isto, a falta de diálogo, a falta de entendimento entre nós
conduziu a um processo muito doloroso em que se perderam milhares de vidas e eu
como parte dessa geração tenho de assumir essa responsabilidade", admite.
Na
altura oficial do exército português, admite que era difícil conciliar o
não-partidarismo exigido aos militares e o ser timorense, especialmente porque
havia dúvidas sobre o processo de descolonização e já pairava a ameaça
indonésia.
"Era
impossível não nos envolver porque o perigo era iminente. A Indonésia começou
com as suas transmissões radiofónicas a partir de Cupão e isso mexeu com a
maioria dos timorenses", explicou.
Lobato
insiste que os timorenses "não queriam de forma alguma ser
indonésios", sentiam "um certo abandono" de Portugal, na altura
a braços com uma lista infindável de problemas e que nunca tomou "uma
posição clara em relação a Timor".
"Timor
foi de certa forma relegado para um plano muito secundário, Portugal tinha os
seus problemas, que tinha de resolver e nós éramos para Portugal na altura, no
meu ponto de vista, um problema secundário e isso de certa forma teve
consequências", explica.
Lobato
rejeita que tenha sido um grupo de estudantes timorenses que voltou de Portugal
onde estava a estudar em 1974 a radicalizar a Associação Social Democrática de
Timor (ASDT) - que se transformaria depois na Frente Revolucionária do
Timor-Leste Independente (Fretilin).
Atribui
essa radicalização mais ao papel da Indonésia "de dividir os timorenses de
forma a não estarem unidos a defenderem a independência de Timor" já que a
Fretilin e a UDT (União Democrática Timorense, primeiro partido a ser criado no
território) juntos tinham muito mais força.
Lobato
considera que o golpe da UDT foi "um erro histórico" já que
"travou o processo de descolonização levado a cabo por Portugal" e
admite que se pensou, depois do contragolpe da Fretilin que "a guerra
seria curta, que em apenas duas semanas tudo ficaria resolvido" e a
descolonização seria concluída.
"Mas
isso não aconteceu, porque entretanto a Indonésia começou a fazer a infiltração
em profundidade dentro de Timor mas sempre dizendo que eram forças
anticomunistas, no fundo eram forças regulares da Indonésia que apoiavam
diretamente os elementos da UDT e da Apodeti (Associação Popular Democrática
Timorense, partido pró-integração na Indonésia), que entretanto se refugiaram
do outro lado de Timor indonésio", afirmou.
É
neste contexto de exageros e excessos que Lobato coloca os massacres cometidos
pela Fretilin e pela UDT, afirmando que "os massacres que houve foram
sempre em resposta a massacres" anteriores.
Antes
do massacre de Aileu, por exemplo, explica que houve o massacre de Betano,
cometido pela UDT contra jovens da Fretilin, em que morreram cerca de 10
pessoas incluindo o seu irmão, Domingos Lobato.
"Enfim,
são coisas que já passaram. Eu sempre digo que quando evoco estes
acontecimentos não é para deitar abaixo este ou aquele mas para olharmos um
pouco para o passado, para podermos viver o presente em paz e olharmos para o
futuro", frisou.
ASP
// EL
Sem comentários:
Enviar um comentário