Pequim,
18 mar (Lusa) - Familiares e amigos do jornalista chinês Jia Jia, que se
encontra desaparecido desde terça-feira, receiam que tenha sido detido devido
ao interesse por uma carta anónima que apela à demissão do Presidente chinês,
Xi Jinping.
Jia
Jia, 35 anos e uma figura conhecida dos meios de comunicação chineses, terá
desaparecido quando se preparava para viajar desde Pequim com destino a Hong
Kong.
Segundo
afirmou à agência EFE um conhecido jornalista próximo de Jia, Wang Wusi, o caso
poderá estar relacionado com o seu interesse por uma carta redigida por
"membros leais ao PCC" (Partido Comunista chinês) que apelam à
demissão de Xi.
O
documento foi publicado no portal oficial do Governo chinês "Wujie
News" a 4 de março, na véspera do início da sessão anual da Assembleia
Nacional Popular chinesa (órgão legislativo) e, entretanto, apagado.
Jia,
que soube da existência daquela missiva através de comentários de amigos na
rede social chinesa Wechat (WhatsApp chinês), contactou então o diretor
executivo do portal, Ouyang Hongliang, com quem trabalhou no passado, explica
Wang.
Questionado
pelas autoridades de censura da China, Ouyang terá dito que soube da publicação
da carta primeiro através de Jia, diz Wang, que revela ainda que pouco depois
os familiares de Jia foram também interrogados.
Citada
pelo jornal de Hong Kong Apple Daily, a mulher de Jia diz que o marido lhe
ligou a dizer que estava prestes a embarcar e que devia chegar àquela Região
Administrativa Especial chinesa às 11:30 (hora local).
Desde
então, o seu paradeiro é desconhecido.
O
jornalista, que já trabalhou como editor e colunista em várias publicações,
vive atualmente em Hong Kong. Até há pouco tempo, trabalhava também como
professor convidado numa universidade do sul da China.
A
referida carta começa por admitir algumas melhorias graças à campanha
anticorrupção lançada por Xi Jinping, mas de seguida ressalva que, devido à
centralização de poderes pelo atual presidente - o mais forte líder chinês das
últimas décadas -, se está "a assistir a problemas sem precedentes".
Politicamente,
Xi "debilitou o poder de todos os órgãos do Estado", inclusive a
autoridade do primeiro-ministro, Li Keqiang, lê-se naquela missiva.
A
mesma nota refere que a política externa chinesa abandonou o princípio ditado pelo
antigo líder Deng Xiaoping de "esconder a força" e aponta como
exemplo a crise na Coreia do Norte e a transferência de capacidade militar dos
EUA para a Ásia.
No
plano económico, cita a crise no mercado de capitais chinês e o excesso de
capacidade de produção na indústria pesada como sinais de fracasso e crítica
ainda, a nível ideológico e cultural, o recente apelo de Xi à lealdade dos
meios de comunicação oficiais para com o PCC.
"Em
resultado, camarada Xi Jinping, sentimos que não possui as qualidades
necessárias para liderar o Partido e a nação rumo ao futuro e que não está apto
para o cargo de secretário-geral" do PCC, conclui a carta.
JOYP
// MP
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