Hong
Kong, China, 19 mar (Lusa) -- Organizações de direitos humanos criticaram hoje
a China, ligando o desaparecimento de um jornalista que trabalhava em Pequim a
uma invulgar carta aberta que pedia a resignação do Presidente Xi Jinping.
O
jornalista freelancer Jia Jia, de 35 anos, não é visto desde terça-feira, disse
o seu advogado, Yan Xin, à AFP. "Ele desapareceu no dia 15", afirmou,
citando a mulher do jornalista.
A
Amnistia Internacional disse que um amigo próximo de Jia Jia disse à organização
que ele desapareceu pouco depois de ter passado a imigração no aeroporto de
Pequim, de onde devia ter embarcado num voo para Hong Kong.
A
City University of Hong Kong também confirmou à AFP que Jia não compareceu no
seminário que era suposto dar naquela universidade na quinta-feira.
"Estamos
profundamente preocupados com o desaparecimento do jornalista chinês Jia
Jia", disse Bob Dietz, coordenador do programa para a Ásia do Comité para
a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
"Se
ele está sob custódia policial, as autoridades devem revelar onde é que ele
está detido e por que o detiveram. Se alguém sabe do seu paradeiro, deve falar
e clarificar este mistério preocupante", acrescentou.
Segundo
afirmou à agência EFE um conhecido jornalista próximo de Jia, Wang Wusi, o caso
poderá estar relacionado com o seu interesse por uma carta redigida por
"membros leais ao PCC" (Partido Comunista chinês) que apelam à
demissão de Xi.
Tanto
a Amnistia Internacional como o Comité para a Proteção dos Jornalistas
relacionaram o desaparecimento de Jia com essa carta aberta publicada no portal
oficial do Governo chinês Wujie News a 04 de março, na véspera do início da
sessão anual da Assembleia Nacional Popular chinesa (órgão legislativo) e,
entretanto, apagada.
Jia,
que soube da existência daquela missiva através de comentários de amigos na
rede social chinesa Wechat (WhatsApp chinês), contactou então o diretor
executivo do portal, Ouyang Hongliang, com quem trabalhou no passado, explica
Wang.
"O
seu desaparecimento está provavelmente relacionado com a publicação da carta e
talvez com a implicação pelas autoridades do seu envolvimento ou conhecimento
da carta", disse à AFP o investigador da Amnistia China William Nee.
"Os
jornalistas e ativistas são forçados a 'beber chá' a toda a hora com as
autoridades (...), mas geralmente isso não demora muito tempo", afirmou,
acrescentando que as autoridades habitualmente tentam extrair informação
durante estas reuniões.
No
entanto, o advogado de Jia disse que o seu desaparecimento pode não estar
relacionado com a carta.
Sob
a liderança do Presidente Xi Jinping, o Partido Comunista chinês aumentou o
controlo sobre a sociedade, detendo ou interrogando mais de 200 advogados de
direitos humanos e ativistas no ano passado, naquilo que tem sido apontado por
analistas como uma dos maiores repressões a dissidentes recentemente, escreve a
AFP.
Sophie
Richardson, diretora da Human Rights Watch para a China, expressou preocupação
sobre o desaparecimento de Jia na rede social Twitter.
"#China
Disapps journo - Já não basta simplesmente apagar todos os vestígios de
críticas. A tendência agora é apagar os críticos também", escreveu no
Twitter.
A
China tem estado no centro das atenções na sequência do desaparecimento no
final do ano passado de cinco livreiros de Hong Kong, ligados à mesma editora
que publicava títulos críticos do regime chinês.
As
autoridades do interior da China não podem operar em Hong Kong sem autorização.
A
maior parte dos livreiros desapareceu de Hong Kong sem que haja registo de
terem passado a fronteira para o interior da China.
No
início deste mês, alguns dos livreiros regressaram a Hong Kong e aproveitaram
para, junto das autoridades locais, cancelarem o respetivo estatuto de pessoa
desaparecida na antiga colónia britânica, tendo regressado ao interior da China
poucos dias depois.
FV
(JOYP) // MSF
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