Díli,
06 mar (Lusa) - A boina preta com estrela dourada que Fatuk Mutin tem sobre o
joelho dá a tónica revolucionária ao 'quase padre' que trocou a formação religiosa
pela política e quer agora ser "um presidente para o povo" timorense.
"Nós
fomos formados nesses dois aspetos: religião e política. Na altura a escolha
era ser padre porque a igreja católica era o único defensor do povo. Ser padre
era ser defensor do povo, era ser político", explica António Maher Lopes,
(conhecido como Fatuk Mutin ou Rocha Branca), numa entrevista à Lusa.
Antonio
Maher Lopes (- um dos oito candidatos às eleições presidenciais de 20 de março
em Timor-Leste e o primeiro no boletim de voto - passou de uma formação
maioritariamente religiosa para o papel de ativista e depois formador político.
"A
religião católica ensinou-nos bastante, para a formação integral e humana deste
povo. E claro que estas são as bases fundamentais, o que tem a corelação mais
próxima com a nossa tradição. Em que se cria uma coesão entre o individuo e as
instituições criadas e estabelecidas no seio deste povo. Estas são as bases
fundamentais que podem ser alicerce da edificação do Estado", explica.
Diz-se
"um ex-padre revolucionário" que quer ajudar a fazer "uma
revolução mental, adequada para a formação de uma sociedade justa e
fraterna". Uma revolução sem sangue, pacífica, "em que o povo se
sinta livre" mas sem guerra e armas porque isso "já não faz
sentido" e os timorenses já estão "fartos disso".
Depois
do secundário no Seminário Menor de Nossa Senhora de Fátima em Díli e do
Externato de São José continuou os estudos num seminário diocesano e no
Instituto Superior de Filosofia e Teologia Widya Sasana, em Java, na Indonésia:
"queria ir para Portugal, mas não era possível".
Depois
do massacre de Santa Cruz, a 12 de novembro de 1991, junta-se com um grupo de
estudantes e uma semana depois organiza a o primeiro protesto contra a
Indonésia em Jacarta. "Eram 72 pessoas. Setenta fomos capturados. Dois
safaram-se. Estive detido na polícia em Jacarta e fiquei preso até março de
1992. E quando saí e já estava envolvido no processo não deixei nunca
mais", recorda.
A
conversa com a Lusa decorre na sede da campanha, praticamente ao lado da
Catedral de Díli, onde um grupo de jovens voluntários prepara o material de
campanha: alguns milhares de cartazes, autocolantes e um folheto com a
biografia e o manifesto político.
Libertar
o povo, criar uma assembleia popular e fomentar o estado participativo são os
pilares de um discurso político que quer combater a corrupção e nepotismo,
lutar contra "o regime capitalista crónico" e acabar com a cooperação
de agências internacionais.
Desde
a independência, em 2002, tem-se dedicado à vida política, percorrendo vários
pontos do país "para estar junto do povo a dar formação política e a
trabalhar", referindo que trabalhou na formação da cidadania "na
perspetiva de libertar o povo".
"É
preciso porque o povo não é uma ovelha. É um ser que é preciso educar, explicar
cidadania e o direito cívico. É preciso envolver o povo no processo
democrático", afirmou.
"É
a festa da democracia mas queremos que esta festa seja viva, que o povo
expresse a supremacia do poder. Se não o povo é apenas a ovelha atrás do
pastor. Que o povo seja o sujeito deste processo e manifeste o poder real
delegado aos seus líderes. Para que os líderes não se sintam que são alguém.
Nós não somos nada, O povo merece este respeito", insiste.
Declarando-se
"servidor, orientador e guia do povo" e empenhando em educar para "o
sentido de Nação e de Estado", Fatuk Mutin considera que o próximo chefe
de Estado dever ser um homem que envolva os timorenses no desenvolvimento do
país.
Xanana
Gusmão, primeiro Presidente pós-independência, fez o "equilíbrio
político", sendo uma figura do interior com um Governo "liderado por
pessoas do exterior".
O
seu sucessor, José Ramos-Horta "colocou Timor-Leste no mundo em pé de
igualdade com qualquer outro país" e o atual chefe de Estado, Taur Matan
Ruak "quis aproximar-se do povo, levar o Estado à base da sociedade".
"Eu
se for presidente terei estas três bases fundamentais para incentivar, criar o
sentido de estado, envolver o povo para participar inteiramente no processo de
construção do Estado", explicou.
Um
compromisso "de libertar o povo" e de "libertar a consciência
esmagada pelo obscurantismo intelectual, o obscurantismo estrutural que ainda
existe" mas em que considera que a igreja pode ser um bom parceiro de
formação.
Fatuk
Mutin declara-se candidato independente mas confirma o apoio do Partido
Socialista de Timor (PST), força política que formou e de que ainda é membro
"não ativo", e também do Movimento de Libertação Popular do Povo
Maubere (MLPPM).
E
explica ter a base de apoio em Ainaro, de onde era o pai, e em Díli, de onde é
natural a mãe e onde todos o conhecem "desde a criancice até ao
envolvimento no processo de luta" e aos dias de hoje.
Numa
relação 'de facto' com uma portuguesa, Fatuk Mutin diz que ainda não casaram
porque "quem casa quer casa" e isso ainda não é possível ter.
ASP
// PJA
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