Pequim, 04 jan (Lusa) - Apoiada
no braço de uma amiga, Fang Bing atravessou a mais longa ponte de vidro do
mundo, suspensa num desfiladeiro no noroeste da China, numa experiência de
"adrenalina", onde o truque é "não olhar para baixo".
"Arrependi-me quando cheguei
a meio", admite à agência Lusa Fang, uma das curiosas que viajou até ao
parque natural de Hongyagu, para caminhar a quase 218 metros de altitude sobre
uma plataforma transparente.
Inaugurada em dezembro passado, a
ponte de Hongyagu é constituída por 1.077 placas de vidro - cada uma com quatro
centímetros de espessura -, e tem 488 metros de comprimento.
Fang Bing, que se deslocou cerca
de 80 quilómetros desde Shijiazhuang, a capital da província de Hebei, assume
ter sentido "muito medo" ao caminhar sobre a ponte.
"Mas também se não tivesse
sentido, não tinha valido a pena gastar 398 yuan (50 euros)", acrescenta,
referindo-se ao preço do bilhete de acesso à plataforma.
Para alcançar a ponte é
necessário subir 2.000 degraus, num percurso de quase uma hora, que poderá ser
evitado a partir de maio, quando a organização inaugurar um teleférico.
Em redor da estrutura, erguem-se
até perder de vista dezenas de montanhas, áridas devido ao inverno seco do
noroeste chinês.
Outros visitantes revelam-se mais
corajosos: "No início senti medo, mas quando cheguei a meio já estava
bem", conta Sheng Yuxiao, que vive a poucos quilómetros do parque.
Sentada ao lado de uma amiga
sobre a plataforma, Sheng diverte-se a tirar 'selfies', indiferente à vertigem
sentida por outros visitantes.
Pontes de vidro não são novidade
na China, que conta já com 60 estruturas deste género, segundo a imprensa
local.
É também no país asiático que se
encontra a ponte de vidro mais alta do mundo, suspensa a 300 metros do solo, no
parque de Zhangjiajie, que inspirou as Montanhas Aleluia do filme
"Avatar".
"As pontes de vidro são
muito populares na China", explica à Lusa Liu Qiqi, engenheiro-chefe da
estrutura em Hongyagu.
Sentado num dos restaurantes da
cidade antiga de Hongyagu, onde são servidos pratos típicos da região,
incluindo massa com carne de javali, Liu revela que o vidro usado nesta obra é
de "tecnologia militar".
"Cada bloco de um metro tem
capacidade para suportar 500 quilos", diz. "Este tipo de vidro é
apenas frágil ao impacto de objetos pequenos: varas com pontas de ferro,
bengalas, ou objetos bicudos".
Liu revela que o custo de
construção da ponte fixou-se em 150 milhões de yuan (19 milhões de euros).
Hongyagu pertence ao condado de
Pingshan, no extremo noroeste de Hebei, junto à fronteira com a província de
Shanxi.
Hebei produz mais aço do que
qualquer país no mundo - com exceção da própria China. Shanxi é o núcleo da
indústria do carvão no gigante asiático - o maior consumidor de carvão do
planeta.
No dia em que a agência Lusa
esteve em Hongyagu, um espesso manto de poluição cobria ambas as províncias e
persistia no ar o cheiro a carvão.
Na autoestrada que liga
Shijiazhuang e Hongyagu, a circulação de camiões carregados daquele minério
negro era constante, num fluxo que o Governo chinês espera diminuir, através da
promoção de outras fontes energéticas, como o gás natural ou as renováveis,
parte da sua "guerra à poluição".
Só nas indústrias do aço e do
carvão, a China deverá extinguir 1,8 milhão de empregos ao longo dos próximos
anos.
A ponte de vidro de Hongyagu
parece assim ligar uma região pobre e isolada à emergente indústria do turismo
chinesa, que só no ano passado faturou 5,4 biliões de yuan (695 mil milhões de
euros).
"Queremos dinamizar o
turismo na região, torna-lo mais competitivo", afirma Liu. "Por isso,
erguemos aqui esta ponte".
JOYP // PJA
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