Macau,
China, 09 mar (Lusa) -- Um estudo sobre a mudança de instalações da
Universidade de Macau para território da China sugere que o novo espaço é
"simbólico de uma governação partilhada" e revela preocupações dos
envolvidos, como perda de liberdade e maior "continentalização".
O
estudo é da autoria de duas professoras da própria universidade, Jinting Wu e
Teresa Vong, que refletem sobre as consequências e questões em torno da mudança
da única universidade pública da cidade para um território fora da sua fronteira,
ainda que esteja sob a sua jurisdição durante os 40 anos do arrendamento.
"Sugerimos
que a relocalização da Universidade de Macau (UM) para a China, e a anexação do
novo campus à governação do território, projeta uma nova forma de simbolismo na
expansão do ensino superior. O campus da UM na Ilha da Montanha é um local de
experimentação, simbólico de uma governação partilhada entre [autoridade] local
e estatal, um híbrido espacial e territorial", indica o trabalho
académico.
A
UM mudou-se para a Ilha da Montanha em 2013, onde tem um espaço de um
quilómetro quadrado, algo que as autoridades garantem que seria impossível
dentro de Macau, onde há escassez de terras.
No
entanto, apesar da melhoria de condições, a mudança levantou sempre
preocupações entre professores e alunos e na população de Macau.
As
duas investigadoras -- que garantem não ter encontrado conflito de interesses
na elaboração do trabalho -- agregam alguns dos receios e dúvidas levantados.
Em
2008, quando vários locais foram propostos para a nova localização, "houve
debates constantes sobre se relocalizar a universidade para fora do território
iria diluir a identidade local".
Mas
o debate estendeu-se além-fronteiras: "Os 'media' em Hong Kong e Taiwan
descreveram o campus da Ilha da Montanha como a terceira Região Administrativa
Especial da República Popular da China e uma exibição do que seria o futuro de
Hong Kong e Taiwan".
O
Centro de Investigação de Hong Kong enumerou uma série de preocupações,
incluindo se a mudança para fora da cidade "indicava o sacrifício da
educação superior em detrimento da expansão dos casinos" e se a
universidade se "manteria uma instituição de Macau ou tornar-se-ia uma
universidade chinesa 'de facto'".
A
terceira preocupação vinda de Hong Kong prendeu-se com "uma iminente
incerteza quanto ao futuro e potencial perda de liberdade académica e autonomia
de gestão".
Já
alguns funcionários da UM expressaram apreensão que o "isolamento murado
da universidade" (a que se acede por um túnel a partir de Macau e tem uma
vedação em redor, não permitindo o acesso a partir da China continental)
"cortasse os laços orgânicos com a sociedade local e acabasse por prestar
um mau serviço aos alunos".
Quanto
aos observadores da China continental "questionaram se a liberdade de
expressão devia ser autorizada no campus da UM, dado as potenciais repercussões
que podia trazer à generalidade da comunidade da Ilha da Montanha".
Nem
todos os membros da UM contactados para este trabalho expressaram pontos de
vista críticos -- alguns mostraram satisfação com o espaço, a aproximação a
Pequim e a 'internacionalização' da UM --, mas "a coexistência de reações
positivas e negativas (...) revela a natureza da nova geografia do ensino
superior".
O
estudo indica que a mudança também "provocou apreensão" entre os
residentes de Macau e "críticas sobre a potencial perda de total
autonomia, e com o corte às suas relações orgânicas com a sociedade"
local.
As
autoras argumentam que o novo campus "representa uma zona híbrida de
governação" e reflete uma "sinergia local-nacional-global na produção
de espaço e na formação de uma nova dinâmica de relações entre escola e
sociedade".
Por
fim, as investigadoras lembram que é importante avaliar o impacto da geopolítica
e globalização económica de Macau na universidade, questionando se "a
mudança representa uma alteração no papel da UM de instituição local para
'agente do Estado'".
ISG
// VM
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