Díli,
10 nov (Lusa) - A maioria da comunidade LGBTI em Timor-Leste sofreu violência e
abuso psicológico e físico, incluindo casamentos forçados e violações para
'corrigir' a identidade sexual, segundo o primeiro estudo sobre esta comunidade
timorense.
O
relatório, divulgado esta semana, documenta vários testemunhos de abuso
psicológico e físico, incluindo violência doméstica, casamentos forçados e
tentativas, por membros da família, de mudar a orientação sexual e identidade
de género das pessoas.
Examina
ainda outros fatores sociais e económicos, como a dependência financeira das
famílias, e como isso afeta as suas vidas na sociedade timorense, recomendando
ao Governo e à sociedade civil mais apoio às mulheres lésbicas e bissexuais e
aos homens transexuais, criando "oportunidades para aumentar suas próprias
capacidades de forma a ajudá-los a ser os principais defensores dos seus
próprios direitos".
O primeiro estudo sobre as vidas de mulheres lésbicas e bissexuais e sobre homens transexuais em Timor-Leste foi realizado em conjunto pela organização timorense Rede Feto (Rede Mulher) e pela organização ASEAN SOGIE Caucus, que luta por direitos LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexo) no sudeste asiático.
O primeiro estudo sobre as vidas de mulheres lésbicas e bissexuais e sobre homens transexuais em Timor-Leste foi realizado em conjunto pela organização timorense Rede Feto (Rede Mulher) e pela organização ASEAN SOGIE Caucus, que luta por direitos LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexo) no sudeste asiático.
Mulheres
e homens ouvidos para o estudo relataram ter sido alvo de atos de violência
homofóbica extrema, muitas vezes às mãos de membros da sua própria família que
além dos abusos físicos os humilhou junto de vizinhos e comunidade em geral.
"Ataram-me
às traseira de um carro e arrastaram-me pela estrada para que todos
vissem", contou uma das pessoas entrevistadas.
"O
meu irmão atou-me, arrastou-me, tentou enforcar-me com uma mangueira e
manteve-me num tanque cheio de água durante horas. Várias vezes tentei
matar-me", confessa outra.
Muitos
dos entrevistados tiveram de ser hospitalizados várias vezes e outros a têm,
ainda hoje, cicatrizes da violência que sofreram.
Comum
a muitos dos relatos, especialmente de mulheres, é o facto de descreverem
tentativas das suas famílias as 'converterem' à heterossexualidade com medidas
"crueis", incluindo serem obrigadas a beber sangue de galinha para
"as limpar".
Muitas
mulheres relatam ter sido violadas por familiares com o objetivo de as
'corrigir'.
"Fui
violada pelo meu próprio tio que dizia que assim podia mudar a minha orientação
sexual, forçando-me a relacionamento heterossexual. Eu fiquei grávida, mas
consegui medicina tradicional e tive um aborto. Depois disso tive que fugir de
casa e viver com amigos", conta outra das mulheres ouvidas.
O
estudo mostra que muitos dos membros da comunidade LGBT timorense ganham menos
ou têm dificuldades em encontrar emprego, com as mulheres - já alvo de
violência em Timor-Leste - a sentirem ainda mais na pela as dficuldades.
Ryan
Silveiro, coordenador regional da ASEAN SOGIE Caucus, diz que este relatório
sem precedentes quer ajudar a reforçar o movimento LGBTI em Timor-Leste, país
que este ano realizou a sua primeira marcha do Orgulho.
"Embora
existam esforços de advocacia em curso para promover os direitos das pessoas
LGBTI, percebemos que as mulheres lésbicas, bissexuais e os homens transexuais
são marginalizados. Este relatório coloca uma luz sobre seus problemas e
procura ampliar os espaços políticos futuros para eles se envolverem",
explicou.
Iram
Saeed, um dos autores do relatório, considerou a investigação um "esforço
pioneiro na história de Timor Leste" que serve para dar a conhecer a
realidade de uma comunidade que continua a sofrer violações aos seus direitos
humanos.
"Está
previsto utilizar os resultados em várias plataformas nacionais e regionais
para aumentar a conscientização sobre questões de direitos LGBTI",
explicou.
ASP//ISG
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