Díli, 12 jan (Lusa) --
Empresários estrangeiros com investimentos em Timor-Leste mostraram-se hoje
preocupados que a situação política no país possa este ano voltar a ter um
impacto negativo na economia nacional, afirmando que muitas empresas não vão
aguentar.
"Eu falo com os meus amigos
empresários. Não aguentamos mais. Eu próprio tenho estado a sofrer. Em 2018
perdi dinheiro e, a perder esses valores, se continuar este ano, estou
acabado", disse à Lusa Clarence Lim, responsável máximo do grupo Kmanek,
que conta com dois grandes supermercados na capital.
"Por isso peço por favor:
façam alguma coisa. Ajudem o setor privado a sobreviver", apelou aos
líderes políticos do país.
Timor-Leste voltou a começar 2019
em duodécimos depois do atraso na aprovação do Orçamento Geral do Estado (OGE)
que está agora com o Presidente da República, que tem até 23 de janeiro para
decidir se veta ou promulga o documento.
Apesar de ter um Governo com
maioria absoluta -- saído das eleições antecipadas do ano passado, convocadas
depois da dissolução do parlamento eleito em 2017 --, um veto presidencial
poderia causar grande instabilidade política e económica.
Isso agravaria a situação
económica do país onde o recuo nos gastos públicos -- o país esteve no ano
passado nove meses em duodécimos -- está a ter um impacto devastador no
emergente setor privado nacional.
Clarence Lim admite que a
situação tem sido "muito dura".
"As coisas têm sido muito
duras. Em 2018, comparativamente a 2017, recuámos mais 20% em média. Na primeira
metade do ano tivemos uma queda de 17%. Depois, no segundo semestre, foi ainda
maior, de cerca de 25%", disse.
"Este ano começou já com
quedas de 35% comparativamente a 2017", sublinhou o empresário que tem no
grupo 30 trabalhadores internacionais, 200 timorenses e compra a mais de 500
grupos de agricultores.
Aos políticos, Lim pede para que
"trabalhem para criar um ambiente mais favorável para o setor
privado" e explica que dificilmente conseguirá manter todos os
trabalhadores se a situação não mudar.
"Devem melhorar a
burocracia, desde o topo até alfândegas e demais. Para que os investidores, os
empresários não tenham que continua a enfrentar estes obstáculos
constantes", defendeu.
Tony Jape, responsável do maior
centro comercial de Timor-Leste, o Timor Plaza -- e que emprega mais de 350
pessoas -- concorda, afirmando que 2018 "foi o ano mais duro" para a
economia nacional.
"Vimos muitos negócios a fechar.
Felizmente aqui conseguimos manter os nossos inquilinos. Mas sabemos que eles
próprios estão a passar um mau bocado", disse.
Os que lidam com o Governo, em
especial, sentem grandes problemas e estão há sete ou oito meses sem receber.
Isso torna muito difícil que consigam pagar a renda e os seus custos",
sublinhou.
Jape diz que muitos dos
empresários com quem fala estão "a ter que despedir pessoas ou a usar
menos trabalhadores e isso não é um bom sinal".
"Toda a gente está a cortar
funcionários. Espero que isto não dure muito. Precisamos que o OGE seja
aprovado para que a economia avance. Há mais empresas a fechar do que a
abrir", declarou.
"É impossível aguentar outro
ano. Nenhum país aguentaria isso", afirmou.
Jape apela aos políticos para que
repitam o modelo do passado "em que trabalharam bem juntos",
sentando-se para "conversar e decidir o que fazer para o futuro" de
Timor-Leste.
"Eu continuo empenhado.
Temos planos a longo prazo e esperamos que isto se resolva. Mesmo em momentos
duros, temos que continuar a procurar oportunidades", concluiu.
ASP // JMC
Sem comentários:
Enviar um comentário