quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Um dos livreiros de Hong Kong desaparecidos tem cidadania britânica


Hong Kong, China, 05 jan (Lusa) -- Um dos cinco livreiros de Hong Kong desaparecidos tem cidadania britânica, confirmou hoje, em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico, manifestando-se "profundamente preocupado" com o seu paradeiro.

O caso desencadeou uma onda de indignação na antiga colónia britânica, que incluiu um protesto no domingo junto ao Gabinete da Ligação da China, em face da suspeita de que os desaparecimentos dos livreiros que trabalham na Causeway Books ou na casa editora associada, a Mighty Current, que publica obras banidas na China, tiveram a 'mão' de Pequim.

No comunicado da diplomacia britânica não se especifica qual dos cinco homens desaparecidos é britânico, mas acredita-se que seja Lee Bo, de 65 anos, o livreiro desaparecido mais recentemente.

"Estamos profundamente preocupados com as informações acerca do desaparecimento e detenção de indivíduos associados à livraria Causeway Bay Books em Hong Kong", refere-se no comunicado.

"Podemos confirmar que um dos indivíduos é um cidadão britânico e pedimos urgentemente a assistência das autoridades de Hong Kong e do interior da China em averiguar o bem-estar e paradeiro deste indivíduo", indicou a diplomacia britânica que instou o governo de Hong Kong a "honrar o seu compromisso" para com a liberdade de imprensa.

Acrescenta ainda que espera que as autoridades da China "continuem a fazer todos os esforços" para garantir o ambiente em que os 'media' e as casas editoras operam em Hong Kong.

O comunicado foi emitido pelo chefe da diplomacia britânica, Philip Hammond, em Pequim, onde se encontra de visita oficial de dois dias.

O caso de Lee Boo, de 65 anos, visto pela última vez na quarta-feira, não é o único em Hong Kong, mas tem tido maior atenção mediática, em particular hoje quando se ficou a saber que a sua mulher retirou a participação do desaparecimento que tinha apresentado junto da polícia, o que veio levantar ainda mais questões, na opinião de deputados da ala democrata.

A mulher de Lee Bo veio garantir que o fez depois de o marido ter entrado em contacto com um amigo, enviando uma carta por fax, escrita à mão, a um dos seus colegas da Causeway Books.

Na carta, datada de domingo, escreve que foi à China "pelo seu próprio método " e que atualmente está a trabalhar numa investigação que "pode levar tempo", e que teve de gerir o assunto de forma "urgente" para evitar que desconhecidos tomassem conhecimento.

Além disso, assegura que está bem e que "tudo decorre com normalidade", pedindo aos funcionários da Causeway Books que continuem a operar a livraria normalmente.

A carta surgiu depois de a mulher ter declarado que o marido lhe telefonou no dia em que desapareceu, a partir da cidade vizinha de Shenzhen, para lhe dizer que estava a colaborar numa investigação relacionada com os outros desaparecimentos, falando em mandarim, em vez de em cantonês, língua falada em Hong Kong.

A polícia confirmou hoje que a mulher de Lee Bo retirou a queixa, num gesto que a Amnistia diz apontar para intimidação.

A estes confusos factos, juntam-se as declarações do deputado democrata e advogado dos direitos humanos Albert Ho, segundo o qual estava em preparação um livro sobre a vida amorosa do Presidente chinês, Xi Jinping, em particular sobre uma namorada antiga, o que relacionou com os desaparecimentos.

O Presidente chinês tem levado a cabo uma intensa campanha anticorrupção para punir o alegado hedonismo no seio do Partido Comunista, o que inclui o que são considerados excessos na vida sentimental dos membros do partido, alguns publicados nas obras que a livraria Causeway Books e que estão proibidas na China, pelo que são populares entre muitos turistas que visitam Hong Kong.

Os outros desaparecidos, além de Lee Bo, são o editor com passaporte sueco Gui Minhai (desaparecido numa viagem à Tailândia), o gerente geral do estabelecimento Lu Bo, o principal gestor do negócio, Lin Rongji, e um funcionário, Zhang Zhiping.

Antiga colónia britânica, Hong Kong foi devolvida à República Popular da China em 1997, sob a fórmula "um país, dois sistemas", que promete manter os sistemas sociais e económicos da cidade durante 50 anos, detendo o estatuto de Região Administrativa Especial.

DM // APN

Sem comentários: