Sydney,
Austrália, 15 abr (Lusa) -- Cientistas alertaram hoje que a Grande Barreira de
Coral pode perder até um quarto dos recifes nos próximos 40 anos por os corais
estarem a perder capacidade de tolerar o branqueamento produzido pelo
aquecimento das águas.
"Com
um aumento da temperatura de meio grau centígrado, um quarto dos corais do
recife vai perder essa proteção (...) [nos próximos 40 anos] e 80% dentro de um
século", disse Juan Carlos Ortiz, especialista em ecologia marinha da
Universidade de Queensland, à agência Efe.
Ortiz
é o coautor, com Tracy Ainsworth, da Universidade James Cook, de um estudo
publicado na revista Science centrado nas respostas dos corais ao aquecimento
global.
O
estudo, que também contou com especialistas da Administração Nacional Oceânica
e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), revela que os corais têm respondido a
fenómenos de branqueamento ativando um sinal metabólico que lhes permite
preparem-se, com uma antecedência de dias, para o 'stress' térmico produzido
pelo aquecimento da água do mar.
Os
corais geralmente começam a preparar-se para a tensão térmica quando a
temperatura aumenta em um grau.
Este
mecanismo de proteção reduz para metade a mortalidade dos corais durante os
episódios de branqueamento.
Contudo,
se a atual temperatura dos oceanos sobe mais meio grau centígrado, "esse
primeiro pico de temperatura" já não vai ser um sinal e "os corais
não vão ter a capacidade de se preparem para responder", explicou o
cientista venezuelano.
O
cientista defende que sejam tomadas medidas para reduzir a emissão de gases
poluentes porque, caso contrário, "os recifes vão degradar-se 20 anos
antes do que seria normal se não perdessem esse mecanismo" de proteção
contra o 'stress' térmico.
Segundo
Ortiz, a Grande Barreira de Coral perderia todos os valores pelos quais foi
declarada Património da Humanidade, ainda que as implicações afetem todo o
planeta, porque o atual branqueamento de corais está a ter efeitos devastadores
em lugares como Havai, Nova Caledónia e, previsivelmente no próximo ano, na
região do Caribe.
"A
longo prazo, globalmente, os recifes estão em perigo de desaparecer como
ecossistema operacional", lamentou.
O
fenómeno do branqueamento acontece quando, devido à subida da temperatura da
água do oceano, os corais expelem as algas simbióticas que vivem nos seus
tecidos, que lhes imprimem coloração e lhes fornecem nutrientes.
A
ausência prolongada desse tipo de alga leva à morte dos pólipos de coral.
A
Grande Barreira de Coral, declarada Património da Humanidade em 1981, com 2.500
recifes individuais que albergam corais únicos, 1.500 espécies de peixe e
milhares de tipos de moluscos, começou a deteriorar-se na década de 1990 devido
ao duplo impacto do aquecimento da água do mar e do aumento do grau de acidez
por causa de uma presença maior de dióxido de carbono na atmosfera.
O
local, com uma área superior a 345 mil quilómetros quadrados ao largo da costa
leste da Austrália, escapou, no ano passado, de ser classificado pela UNESCO
como estando em perigo, tendo Camberra anunciando um plano de preservação para
as próximas décadas.
DM
(ANC) // MP
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