Sydney,
Austrália, 11 jul (Lusa) -- A Austrália negou durante décadas conceder
cidadania a centenas de imigrantes que chegaram ao país após a II Guerra
Mundial devido a supostas atividades comunistas, noticiam hoje meios de
comunicação social locais.
Uma
equipa da cadeia televisiva SBS examinou milhares de documentos, anteriormente
classificados, do Arquivo Nacional da Austrália, os quais mostram que as
avaliações de segurança de centenas de pessoas supostamente ligadas a
organizações comunistas eram adversas e que, como consequência, lhes foi
recusada a cidadania durante décadas.
Ter
frequentado clubes ligados a países comunistas ou pertencido a sindicatos de
esquerda eram dois dos argumentos invocados pelos serviços de inteligência
(ASIO, na sigla em inglês) e pelo Ministério da Imigração para pôr os
imigrantes na lista negra.
Os
documentos oficiais não mencionam qualquer preocupação relativamente a uma
potencial conduta criminosa, por exemplo, com as objeções a ocorrerem apenas
com base na perceção dos pontos de vista políticos dos "australianos não
desejados".
Este
tratamento não resultou somente na recusa de cidadania, no ostracismo e na
exclusão social dos imigrantes, mas também na dificuldade em manterem um
emprego ou viajarem para fora do país, inclusive nos casos de emergências
familiares.
As
autoridades australianas também fizeram escutas aos seus telefones,
fotografaram-nos, vigiaram as suas contas bancárias e censuram a sua
correspondência.
"Disseram-nos
que vínhamos para um país livre", disse à SBS Giovanni Sgro, um imigrante
italiano que teve de esperar 20 anos para obter a cidadania e que teve de
cancelar uma viagem ao seu país de origem para visitar a mãe, que estava a
morrer, porque as autoridades australianas lhe recusaram a autorização para
regressar.
Claudio
Villegas, um espanhol opositor ao ditador Franco, contou, por seu turno, que
outros imigrantes lhe recomendaram que não se envolvesse em atividades
políticas na Austrália se pretendia obter a cidadania.
O
espanhol decidiu não seguir os conselhos e até hoje o Ministério da Imigração
recusa desclassificar os documentos ligados ao seu pedido rejeitado, segundo a
SBS.
Michael
Kirby, ex-juiz do Tribunal Superior da Austrália e que acabou de terminar uma
investigação para a ONU sobre os direitos humanos na Coreia do Norte, sublinhou
que o país oceânico deve "reconhecer os erros cometidos no Parlamento
nacional".
DM
// MP
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