Lisboa,
13 out (Lusa) -- O presidente do Fórum Luso-Asiático, Arnaldo Gonçalves, acusou
hoje Portugal de se ter "desligado" da comunidade portuguesa em Macau
desde que este deixou de ser território português.
"Portugal
acompanhou as questões da China e de Macau enquanto Macau foi território
português", afirmou à Lusa Arnaldo Gonçalves.
O
Presidente daquela associação considera que, a partir desse momento, notou
"nos vários governos e presidentes da República" um
"desligamento relativamente à realidade" de Macau.
O
Fórum Luso-Asiático, uma associação de cooperação e intercâmbio de Portugal com
a Ásia e a China, organizou hoje uma palestra, em Lisboa, no âmbito do seu 20.º
aniversário, denominada "Construir Pontes -- derrubar muros -- A relação
especial Portugal/China".
Para
o responsável, a postura do governo português contrasta com o interesse de
outros países relativamente à região de Macau.
"Enquanto
outros países começam a relação, nós temos uma de 440 anos com a China e
deixamo-la fugir entre os dedos como areia", sublinhou, considerando a
situação "incompreensível".
"Por
um lado, Portugal está preocupado com o Brasil, e muito bem, está preocupado
com a nossa comunidade em Angola e Moçambique, e muito bem, mas depois não se
preocupa com Macau", referiu.
Segundo
Arnaldo Gonçalves, o número de emigrações para Macau "aumentou devido à
situação económica portuguesa" que levou muitos jovens para essa região à
procura de um "projeto completo de vida" e de "enraizamento
local".
O
responsável destacou que "nunca houve um acompanhamento dessas famílias
que, às vezes, vivem com enormes dificuldades".
"As
autoridades portuguesas só se interessam com o seguinte: há 2.000 expatriados
portugueses, brancos, em Macau e há mais 6.000 macaenses (filhos de mãe chinesa
e pai português)".
Para
Arnaldo Gonçalves, há ainda outros 10.000 habitantes, que são "um fenómeno
do fim dos anos (19)80", altura em que começou a ser discutida a aplicação
da declaração conjunta, e que são um grupo de chineses que "começou a
mexer-se para continuar com a nacionalidade portuguesa".
De
acordo com o sistema constitucional português, os nascidos de mãe portuguesa e
pai português, ou só de mãe portuguesa ou só de pai português, ou nascidos nas
províncias ultramarinas têm a nacionalidade portuguesa.
Arnaldo
Gonçalves considera também que, em termos económicos, Portugal deve atrair as
empresas chinesas para áreas mais variadas.
"Não
é dar o 'golden visa' para pessoas que vêm a Portugal, compram casa e ao fim de
seis meses a vendem com enorme lucro", apontou.
O
responsável destacou ainda a existência, desde 2000, de um fórum económico e
comercial da China para os países de língua portuguesa com um fundo de
investimento sediado em Macau.
"É
uma estrutura de diálogo e de troca de informações e impressões entre a China e
os vários países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e esse
fórum era também para facilitar os investimentos cruzados, quer da China nos
países da CPLP, quer dos países da CPLP na China", explicou.
No
entanto, Portugal nunca apresentou uma proposta para o financiamento,
contrariamente a Angola, Moçambique e ainda Timor-Leste, que já apresentaram
projetos.
"Portugal,
nestes anos todos que existem do fórum, nunca apresentou um projeto de uma
iniciativa, de uma empresa, de um investimento, qualquer coisa", lamentou,
acrescentando que "é uma oportunidade perdida".
O
presidente do Fórum Luso-Asiático disse ainda que a China tem mostrado
interesse em investir na comunicação social em Portugal, inclusive na Agência
Lusa, processo que, defendeu, "o governo português tem de acompanhar de
perto".
"Com
um grupo de 'media' português controlado pela China, tenho um bocado de receio
que haja uma triagem das notícias que sejam desfavoráveis" como se
verifica em órgãos de comunicação social chinesa, sublinhou.
JIM
// EL
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