Díli,
23 nov (Lusa) - Os principais partidos da oposição e organizações da sociedade
civil timorense criticaram hoje comentários do ministro da Defesa e Segurança
que acusam de estar a tentar politizar as forças de segurança do país, num
momento de grande tensão política.
Em
causa estão declarações que José Somotxo proferiu na terça-feira aos
jornalistas depois de um encontro com o Presidente da República, Francisco
Guterres Lu-Olo. "Se ocorrerem grandes problemas no nosso país devido à
situação política, os militares e a polícia não vão intervir, para que os 35
membros do Parlamento [da oposição] possam eles resolver as coisas", afirmou.
Os
comentários foram hoje criticados pelo Congresso Nacional da Reconstrução
Timorense (CNRT), maior partido da oposição, que num curto comentário publicado
na sua página do Facebook considera que o ministro "não entende as suas
competências e responsabilidades".
O
CNRT diz que Somotxo "não parece ter conhecimento da separação de
poderes" que existe entre os vários órgãos de soberania.
Fidelis
Magalhães, chefe da bancada do Partido Libertação Popular (PLP), disse que a
Aliança de Maioria Parlamentar (AMP) - bloco que reúne as forças da oposição -
está a estudar uma posição comum sobre os comentários do governante.
"Timor-Leste
é um Estado de direito democrático, sabemos bem as responsabilidades e funções
dos órgãos de Estado e do papel de cada órgão de soberania", afirmou.
"O
que não queremos é continuar a politizar ainda mais as nossas instituições de
Estado, especialmente as forças de defesa e de segurança. É altura de por fim à
ingerência política nessas instituições", disse.
Ao
coro de críticas juntaram-se várias organizações da sociedade civil, entre elas
a Fundasaun Mahein (FM), que "condena inequivocamente" o comentário
que "implicitamente sugere que as forças de segurança abdicariam da sua
responsabilidade de proteger o povo de Timor-Leste".
A
declaração, considera, "atribui responsabilidade pela segurança pública
aos 35 deputados da oposição" e parece "sugerir que porque estes
legisladores não aceitaram o programa do Governo devem assumir responsabilidade
por qualquer conflito político que ocorra".
"A
FM ficou triste por ouvir o ministro da defesa e Segurança a falar como se a
segurança da população fosse uma moeda de troca para usar em política. Este
tipo de declaração pode gerar pânico e aumentar a possibilidade de que o
conflito ocorra mesmo", considera o comunicado.
Não
foi possível à Lusa ouvir o ministro da Defesa e Segurança.
Timor-Leste
vive atualmente o seu momento de maior tensão política em quase 10 anos com a
oposição, maioritária, a apresentar esta semana uma moção de censura ao Governo.
O
Governo minoritário é apoiado pelos 23 deputados da Frente Revolucionária do
Timor-Leste Independente (Fretilin) e pelos sete do Partido Democrático (PD) e
viu, no passado dia 19, o seu programa chumbado por uma moção de rejeição.
Se
a moção de censura for aprovada, o Governo é demitido e o Presidente da
República, Francisco Guterres Lu-Olo, tem que escolher entre uma nova solução
governativa no atual cenário parlamentar ou convocar eleições antecipadas.
ASP
// DM
Na foto: Somotxo, ministro da Defesa e Segurança
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