quarta-feira, 20 de junho de 2018

Ex-Presidente e novo primeiro-ministro de Timor segue as pisadas de Xanana Gusmão


Díli, 20 jun (Lusa) - Taur Matan Ruak, nomeado hoje como primeiro-ministro de Timor-Leste, com a tomada de posse marcada para sexta-feira, dá um novo passo numa carreira em que praticamente seguiu as pisadas do seu antecessor, Xanana Gusmão.

Tal como o líder histórico timorense, Matan Ruak comandou o braço armado da resistência timorense, foi Presidente da República e agora vai ser primeiro-ministro, assumindo a liderança de um Governo que nasce, sem precedentes, de uma coligação pré-eleitoral.

Um executivo que o próprio Xanana Gusmão anunciou que iria encabeçar, mas no qual irá assumir afinal o papel de 'número dois', um ministro conselheiro do primeiro-ministro.

Mais do que a formalização da vitória da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) - criada formalmente no final de 2017 - a chegada de Taur Matan Ruak à chefia do Governo é uma vitória para o Partido Libertação Popular (PLP), que lidera há apenas um ano.

Guerrilheiro durante uma grande parte da sua vida, sindicalista, ex-chefe de Estado Maior General das Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), Taur Matan Ruak optou por não se recandidatar à Presidência da República, preferindo tentar um lugar mais executivo.

A biografia de Ruak - que chefiou nos últimos anos da resistência os guerrilheiros das Falintil, o braço armado da resistência - está ligada, intimamente, à história de Timor-Leste.

José Maria de Vasconcelos de seu nome, Taur Matan Ruak como nome de guerra, nasceu em outubro de 1956 em Baguia, distrito de Baucau, mas viveu em Díli, onde frequentou a escola primária.

Aos 15 anos, de regresso a Baucau, trabalha na pousada da cidade, mas 18 meses depois organiza no local a primeira greve, em reivindicação de melhores salários, melhor alimentação e melhores condições de trabalho. Acaba no tribunal.

Dois anos depois, na capital timorense, desta vez empregado num hotel, organiza nova reivindicação, pelos mesmos motivos. Aguenta-se um ano no emprego e em 1974 organiza nova greve. Volta ao tribunal.

É neste processo reivindicativo que vive quando se dá o 25 de Abril de 1974. Ruak apoia a Fretilin e no ano seguinte, quando acontece a invasão indonésia, foge para as montanhas e junta-se ao recentemente formado exército das Falintil.

Participa como guerrilheiro em batalhas contra o exército indonésio em sítios como Díli, Aileu, Maubisse, Ossu, Venilale, Uatulari ou Laga e, a pouco e pouco, começa a assumir posições de chefia no grupo de guerrilheiros.

A sua primeira nomeação oficial foi feita após a reunião do Conselho Superior do Setor Centro-Leste, em Venilale, no final do ano de 1976.

Foi aí comandante de companhias e adjunto de comandantes entre 1976 e 1979.

Nesse ano, na sequência de sérios reveses nas forças de resistência, foi atribuída a Matan Ruak a tarefa de reagrupar as Falintil da região leste, tendo a incumbência também de localizar sobreviventes de uma companhia.

É nessa altura que, traído, é capturado pelos militares indonésios. Após 23 dias preso consegue fugir e junta-se de novo às Falintil, nas montanhas.

Em 1981 é um dos criadores do Conselho Nacional da Resistência Revolucionária (CRRN, antecessor do CNRM e CNRT) e torna-se adjunto do Estado-Maior das Falintil, quando o Comandante em Chefe do movimento era Xanana Gusmão.

Com funções na ponta leste em 1983, nos três anos seguintes é transferido para o setor ocidental. Em 1986 chega a vice Chefe do Estado-Maior e é por isso o responsável pelas operações militares em todo o território.

A captura de Xanana Gusmão lança-o para o cargo de Chefe de Estado-Maior das Falintil.
Após a captura do Comandante Mau Huno, a 5 de abril de 1993, o Comissário Político Nino Konis Santana foi nomeado Comandante das FALINTIL.

Daitula foi capturado e assassinado pelos militares indonésios a 25 de junho de 1997 e a morte acidental de Konis Santana, menos de um ano mais tarde, a 11 de Março de 1998, deixou a liderança mais uma vez abalada. O Comandante Taur Matan Ruak torna-se então o Comandante Operacional das Falintil.

A queda da ditadura de Suharto e a abertura da Indonésia levam à consulta de 30 de agosto de 1999, quando as Falintil estão sob a responsabilidade de Matan Ruak, o mesmo que impediu confrontos com as milícias, mesmo quando o território era praticamente destruído.

Xanana Gusmão retira-se das Falintil na data do 25º aniversário da criação da força, a 20 de agosto de 2000, e Taur Matan Ruak é nomeado Comandante em Chefe.

Em fevereiro de 2001, a ONU nomeia o brigadeiro-general para comandar a Força de Defesa de Timor-Leste (FDTL), cargo de que se demite, em setembro de 2011, para se candidatar a chefe de Estado, cargo que assume a 20 de maio de 2012.

No decorrer desse mandato, fez história: tal como prometeu, conseguiu visitar cada um dos 442 sucos (freguesias) do país.

ASP // JMC

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