Díli, 20 jun (Lusa) - Taur Matan
Ruak, nomeado hoje como primeiro-ministro de Timor-Leste, com a tomada de posse
marcada para sexta-feira, dá um novo passo numa carreira em que praticamente
seguiu as pisadas do seu antecessor, Xanana Gusmão.
Tal como o líder histórico
timorense, Matan Ruak comandou o braço armado da resistência timorense, foi
Presidente da República e agora vai ser primeiro-ministro, assumindo a
liderança de um Governo que nasce, sem precedentes, de uma coligação
pré-eleitoral.
Um executivo que o próprio Xanana
Gusmão anunciou que iria encabeçar, mas no qual irá assumir afinal o papel de
'número dois', um ministro conselheiro do primeiro-ministro.
Mais do que a formalização da
vitória da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) - criada formalmente no
final de 2017 - a chegada de Taur Matan Ruak à chefia do Governo é uma vitória
para o Partido Libertação Popular (PLP), que lidera há apenas um ano.
Guerrilheiro durante uma grande
parte da sua vida, sindicalista, ex-chefe de Estado Maior General das Forças de
Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), Taur Matan Ruak optou por não se recandidatar à
Presidência da República, preferindo tentar um lugar mais executivo.
A biografia de Ruak - que chefiou
nos últimos anos da resistência os guerrilheiros das Falintil, o braço armado
da resistência - está ligada, intimamente, à história de Timor-Leste.
José Maria de Vasconcelos de seu
nome, Taur Matan Ruak como nome de guerra, nasceu em outubro de 1956 em Baguia,
distrito de Baucau, mas viveu em Díli, onde frequentou a escola primária.
Aos 15 anos, de regresso a
Baucau, trabalha na pousada da cidade, mas 18 meses depois organiza no local a
primeira greve, em reivindicação de melhores salários, melhor alimentação e
melhores condições de trabalho. Acaba no tribunal.
Dois anos depois, na capital
timorense, desta vez empregado num hotel, organiza nova reivindicação, pelos
mesmos motivos. Aguenta-se um ano no emprego e em 1974 organiza nova greve.
Volta ao tribunal.
É neste processo reivindicativo
que vive quando se dá o 25 de Abril de 1974. Ruak apoia a Fretilin e no ano
seguinte, quando acontece a invasão indonésia, foge para as montanhas e
junta-se ao recentemente formado exército das Falintil.
Participa como guerrilheiro em
batalhas contra o exército indonésio em sítios como Díli, Aileu, Maubisse,
Ossu, Venilale, Uatulari ou Laga e, a pouco e pouco, começa a assumir posições
de chefia no grupo de guerrilheiros.
A sua primeira nomeação oficial
foi feita após a reunião do Conselho Superior do Setor Centro-Leste, em
Venilale, no final do ano de 1976.
Foi aí comandante de companhias e
adjunto de comandantes entre 1976 e 1979.
Nesse ano, na sequência de sérios
reveses nas forças de resistência, foi atribuída a Matan Ruak a tarefa de
reagrupar as Falintil da região leste, tendo a incumbência também de localizar
sobreviventes de uma companhia.
É nessa altura que, traído, é
capturado pelos militares indonésios. Após 23 dias preso consegue fugir e
junta-se de novo às Falintil, nas montanhas.
Em 1981 é um dos criadores do
Conselho Nacional da Resistência Revolucionária (CRRN, antecessor do CNRM e
CNRT) e torna-se adjunto do Estado-Maior das Falintil, quando o Comandante em
Chefe do movimento era Xanana Gusmão.
Com funções na ponta leste em
1983, nos três anos seguintes é transferido para o setor ocidental. Em 1986
chega a vice Chefe do Estado-Maior e é por isso o responsável pelas operações
militares em todo o território.
A captura de Xanana Gusmão
lança-o para o cargo de Chefe de Estado-Maior das Falintil.
Após a captura do Comandante Mau
Huno, a 5 de abril de 1993, o Comissário Político Nino Konis Santana foi
nomeado Comandante das FALINTIL.
Daitula foi capturado e
assassinado pelos militares indonésios a 25 de junho de 1997 e a morte
acidental de Konis Santana, menos de um ano mais tarde, a 11 de Março de 1998,
deixou a liderança mais uma vez abalada. O Comandante Taur Matan Ruak torna-se
então o Comandante Operacional das Falintil.
A queda da ditadura de Suharto e
a abertura da Indonésia levam à consulta de 30 de agosto de 1999, quando as
Falintil estão sob a responsabilidade de Matan Ruak, o mesmo que impediu
confrontos com as milícias, mesmo quando o território era praticamente
destruído.
Xanana Gusmão retira-se das
Falintil na data do 25º aniversário da criação da força, a 20 de agosto de
2000, e Taur Matan Ruak é nomeado Comandante em Chefe.
Em fevereiro de 2001, a ONU
nomeia o brigadeiro-general para comandar a Força de Defesa de Timor-Leste
(FDTL), cargo de que se demite, em setembro de 2011, para se candidatar a chefe
de Estado, cargo que assume a 20 de maio de 2012.
No decorrer desse mandato, fez
história: tal como prometeu, conseguiu visitar cada um dos 442 sucos
(freguesias) do país.
ASP // JMC
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