Díli, 01 set 2020 (Lusa) - O
chefe das Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), major general Lere Anan
Timur, ameaçou capturar os dirigentes de um recém-criado movimento que pretende
manifestar-se esta semana contra o Presidente da República.
Lere Anan Timur reagia, em
declarações aos jornalistas, ao protesto que está a ser planeado por um novo
grupo timorense que defende a resignação do Presidente da República,
considerando que o chefe de Estado não respeitou a constituição e tem atuado em
defesa dos interesses da sua própria força política.
O grupo "Resistência
Nacional de Defesa da Justiça e Constituição de Timor-Leste", liderado por
Ângela Freitas e Antonio Aitan-Matak, tem a circular uma petição nesse sentido
e tem prevista uma "marcha pacífica", já autorizada pela polícia, na
próxima sexta-feira.
"O Presidente violou a
constituição e deve resignar", disse à Lusa Ângela Freitas, presidente do
Partido Trabalhista (PT) e porta-voz do movimento.
O grupo acusa Francisco Guterres
Lu-Olo de atuar mais em defesa do seu partido, a Frente Revolucionária do
Timor-Leste Independente (Fretilin), do que em defesa de toda a população, não
tendo dado posse a vários membros do maior partido da coligação vencedora das
eleições de 2018, o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), de
Xanana Gusmão.
"O Presidente deveria
comportar-se como chefe de Estado para todo o povo. Mas em vez disso atuou mais
em defesa do partido que lidera", acusou.
"O Presidente da República
violou as regras da democracia. Não aceitou a tomada de posse dos principais
quadros da CNRT, que era o maior partido da Aliança de Mudança para o Progresso
(AMP), que venceu as eleições de 2018", referiu.
Lere Anan Timur considera
inaceitáveis as exigências de destituição do Presidente.
"Enquanto veterano de 24
anos da resistência e comandante das FDTL, não permito que qualquer grupo ou
organização faça uma ação de golpe contra os líderes da resistência",
disse Lere Anan Timur, referindo alguns dos nomes históricos como Xanana
Gusmão, Taur Matan Ruak (atual primeiro-ministro) ou Francisco Guterres Lu-Olo
(Presidente).
Lere Anan Timur disse que o
"Governo não deveria receber uma pessoa" como Ângela Freitas,
recordando os problemas que o país viveu em 2006.
"Não vou deixar que qualquer
pessoa faça a destituição dos meus irmãos que comandaram a guerrilha",
disse.
"Se nesta ação pacifica do
grupo surgir algum crime, eu próprio vou levar as forças para prender toda a
liderança máxima que organizou esta ação. Eu vou mandar prender a Ângela e o
Aitahan Matak. Se eles querem destituir os 'katuas'[mais velhos] através de uma
manifestação, eu mando as forças atuarem e responsabilizo-me por responder em
tribunal e pelos direitos humanos", ameaçou.
O comandante das F-FDTL recordou
que o país foi constituído "com a morte e sofrimento de muita gente"
e afirmou que não permitirá a atuação de "qualquer grupo que venha
destruir a unidade dos líderes e da nação".
Lere Anan Timur acrescentou que o
Presidente da República foi eleito pelo voto e que qualquer destituição deve seguir
os parâmetros definidos na lei.
Os comentários do líder militar
têm suscitado alguns comentários críticos nas redes sociais, com várias pessoas
a defenderem o direito à manifestação e insistindo que a entidade responsável
por controlar este tipo de ações é a polícia, e não as forças armadas.
ASP // PTA
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