Díli, 02 set 2020 (Lusa) -- A
direção da petrolífera timorense Timor Gap negou hoje que haja qualquer estudo
de viabilidade do projeto petrolífera Tasi Mane, na costa sul do país,
desmentindo informação veiculada pelo ex-presidente da empresa.
"Nunca existiu um estudo de
viabilidade apropriado no decorrer dos anos que conduziram à implementação do
projeto Tasi Mane, na medida que o Governo naquela altura, com o senhor
Francisco Monteiro na direção da Timor Gap, criou um projeto e, posteriormente,
tentou justificá-lo com previsões e dados económicos falaciosos", referiu
um comunicado da direção da empresa enviado à Lusa.
A nota é uma reação da Timor Gap
a declarações proferidas à Lusa esta semana pelo ex-presidente da Timor Gap,
Francisco Monteiro que, por sua vez refutavam declarações anteriores do novo
ministro do Petróleo e Minerais, Victor Soares, também à Lusa.
O comunicado considerou que os
cenários de retorno do projeto avançados por Francisco Monteiro "não
correspondem à realidade" e que é ainda prematuro estimar as receitas
porque não é conhecido o custo de produção por barril.
"Monteiro sustenta que
existem retornos dos 15%, quando, na verdade, os valores reais correspondem a
metade disso, e isto num cenário otimista. Existem apenas estimativas que, no
mínimo, não correspondem à realidade", lê-se na nota.
"É muito prematuro e incerto
concluir, devido à composição dos fluidos, que detém uma implicação
significativa nos custos das instalações à superfície (capex e opex), os quais,
até à presente data, segundo os estudos da Timor Gap, ainda não foi capaz de
dar a conhecer os detalhes do custo de produção por barril de petróleo",
referiu.
No caso do 'downstream', explicou
o comunicado, a Timor Gap "ainda não foi capaz de efetuar uma análise de
conhecimento do mercado a fim de identificar os compradores de GNL", sendo
que o escoamento ('offtake') é "crucial para determinar o conceito de
desenvolvimento do projeto no 'upstream'".
Victor Soares tinha considera
que, até aqui, Timor-Leste meteu "a carroça à frente dos bois" na
estratégia para o setor petrolífero, com a política à frente das questões
técnicas e de viabilidade económica, algo que tem agora de ser revertido.
"Temos primeiro de ouvir dos
técnicos, ver o resultado da análise de viabilidade económica. Vamos aguardar
por esse parecer. Se não for viável não vamos perder dinheiro. Esse é o
princípio do negócio. Isso é que vamos defender. O que ocorreu até aqui, foi
colocar a carroça à frente dos bois", afirmou.
Monteiro respondeu acusando o
ministro de "ignorância" pelas críticas ao que foi feito até aqui.
"Os comentários e críticas do
ministro do Petróleo sobre a anterior gestão do setor petrolífero apenas expõem
a sua total ignorância sobre as questões do setor petrolífero e sobre como é
crucial assegurar o gasoduto para o desenvolvimento económico e social do
país", disse à Lusa Francisco Monteiro, ex-presidente da Timor Gap.
Pretendendo com o comunicado
"juntar-se ao debate" entre Soares e Monteiro, a "gestão da
Timor Gap" manifestou querer "corrigir comentários erróneos"
feitos pelo ex-presidente.
A empresa afirmou que apesar de
ter sido exonerado como presidente -- foi substituído em julho pelo seu antigo
vice-presidente António José Loiola de Sousa -- Francisco Monteiro continua
vinculado à empresa por contrato de trabalho.
"Não tem, neste momento,
qualquer estatuto para prestar declarações em nome da companhia, sem a
autorização prévia da gestão da mesma", sustentou.
A Timor Gap acusou Monteiro de
"divulgar segredos da companhia" -- pelos dados relativos ao projeto
que forneceu à Lusa, e "mais grave ainda, tratando-se de um conjunto de
números incorretos e erróneos" sobre o projeto.
"Ao envolver-se num debate
político com o ministro, está a incumprir com todas as políticas e
procedimentos internos que o próprio implementou na Timor Gap",
considerou.
Nas declarações à Lusa, Monteiro
referiu-se ao modelo económico do projeto -- que está diretamente ligado ao
desenvolvimento dos poços de Greater Sunrise -- apontando previsões de receitas
de Timor-Leste oscilam entre os "28 e os 54 mil milhões de dólares,
dependendo do preço do petróleo", com uma receita estimada de 32 mil
milhões a um preço de 70 dólares por barril.
"A Taxa Interna de Retorno
está entre 12 e 15 % para 'upstream' e cerca de 10% para 'downstream',
dependendo da tarifa acordada. Valores razoáveis dentro de projetos comercial e
economicamente viáveis para investimentos", apontou Monteiro.
A Timor Gap considerou os valores
referidos por Monteiro "incorretos e são, no mínimo, especulativos",
recordando o "constrangimento causado" à empresa quando Monteiro
"apresentou uma análise económica incorreta do projeto Tasi Mane durante
as negociações das Fronteiras Marítimas" com a Austrália.
Dados, explicou a empresa, que
"foram refutadas por consultores independentes conjuntamente nomeados
pelos Governos da Austrália e de Timor-Leste".
A empresa referiu o relatório
desses consultores que permite "verificar os 15 erros cometidos nos
pressupostos económicos baseados nos valores apresentados pela Timor Gap",
notando, como exemplo, que as receitas previstas de 32 mil milhões de dólares
se baseiam num preço de crude de 62,50 e não de 70 dólares por barril.
A direção da Timor Gap sustentou
que a sociedade timorense pode "ser induzida em erro ao sonharem com estes
montantes, quando, na verdade, se pode tornar um pesadelo antes de
acordarem".
Por isso, e "em vez de
destabilizar a população com números irreais, é melhor que preste atenção ao
que é necessário, limpando o nome da Timor Gap de várias investigações, e
clarificando com a Câmara de Contas o que decorreu durante os últimos anos da
sua gestão" na empresa.
A empresa considerou que ao
divulgar segredos sobre o setor -- "mesmo segredos falsos" -- está
"a cometer um crime ao abrigo da Lei das Atividades Petrolíferas".
A Timor Gap acrescentou que a
prova da falsidade dos números de Monteiro é demonstrada "pelos
bancos" e que o próprio Governo chinês "recusou financiar este
projeto devido à falta de valores económicos realistas".
ASP // LFS
Sem comentários:
Enviar um comentário