quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Direção da petrolífera timorense garante não haver estudo de viabilidade de Tasi Mane


Díli, 02 set 2020 (Lusa) -- A direção da petrolífera timorense Timor Gap negou hoje que haja qualquer estudo de viabilidade do projeto petrolífera Tasi Mane, na costa sul do país, desmentindo informação veiculada pelo ex-presidente da empresa.

"Nunca existiu um estudo de viabilidade apropriado no decorrer dos anos que conduziram à implementação do projeto Tasi Mane, na medida que o Governo naquela altura, com o senhor Francisco Monteiro na direção da Timor Gap, criou um projeto e, posteriormente, tentou justificá-lo com previsões e dados económicos falaciosos", referiu um comunicado da direção da empresa enviado à Lusa.

A nota é uma reação da Timor Gap a declarações proferidas à Lusa esta semana pelo ex-presidente da Timor Gap, Francisco Monteiro que, por sua vez refutavam declarações anteriores do novo ministro do Petróleo e Minerais, Victor Soares, também à Lusa.


O comunicado considerou que os cenários de retorno do projeto avançados por Francisco Monteiro "não correspondem à realidade" e que é ainda prematuro estimar as receitas porque não é conhecido o custo de produção por barril.

"Monteiro sustenta que existem retornos dos 15%, quando, na verdade, os valores reais correspondem a metade disso, e isto num cenário otimista. Existem apenas estimativas que, no mínimo, não correspondem à realidade", lê-se na nota.

"É muito prematuro e incerto concluir, devido à composição dos fluidos, que detém uma implicação significativa nos custos das instalações à superfície (capex e opex), os quais, até à presente data, segundo os estudos da Timor Gap, ainda não foi capaz de dar a conhecer os detalhes do custo de produção por barril de petróleo", referiu.

No caso do 'downstream', explicou o comunicado, a Timor Gap "ainda não foi capaz de efetuar uma análise de conhecimento do mercado a fim de identificar os compradores de GNL", sendo que o escoamento ('offtake') é "crucial para determinar o conceito de desenvolvimento do projeto no 'upstream'".

Victor Soares tinha considera que, até aqui, Timor-Leste meteu "a carroça à frente dos bois" na estratégia para o setor petrolífero, com a política à frente das questões técnicas e de viabilidade económica, algo que tem agora de ser revertido.

"Temos primeiro de ouvir dos técnicos, ver o resultado da análise de viabilidade económica. Vamos aguardar por esse parecer. Se não for viável não vamos perder dinheiro. Esse é o princípio do negócio. Isso é que vamos defender. O que ocorreu até aqui, foi colocar a carroça à frente dos bois", afirmou.

Monteiro respondeu acusando o ministro de "ignorância" pelas críticas ao que foi feito até aqui.

"Os comentários e críticas do ministro do Petróleo sobre a anterior gestão do setor petrolífero apenas expõem a sua total ignorância sobre as questões do setor petrolífero e sobre como é crucial assegurar o gasoduto para o desenvolvimento económico e social do país", disse à Lusa Francisco Monteiro, ex-presidente da Timor Gap.

Pretendendo com o comunicado "juntar-se ao debate" entre Soares e Monteiro, a "gestão da Timor Gap" manifestou querer "corrigir comentários erróneos" feitos pelo ex-presidente.

A empresa afirmou que apesar de ter sido exonerado como presidente -- foi substituído em julho pelo seu antigo vice-presidente António José Loiola de Sousa -- Francisco Monteiro continua vinculado à empresa por contrato de trabalho.

"Não tem, neste momento, qualquer estatuto para prestar declarações em nome da companhia, sem a autorização prévia da gestão da mesma", sustentou.

A Timor Gap acusou Monteiro de "divulgar segredos da companhia" -- pelos dados relativos ao projeto que forneceu à Lusa, e "mais grave ainda, tratando-se de um conjunto de números incorretos e erróneos" sobre o projeto.

"Ao envolver-se num debate político com o ministro, está a incumprir com todas as políticas e procedimentos internos que o próprio implementou na Timor Gap", considerou.

Nas declarações à Lusa, Monteiro referiu-se ao modelo económico do projeto -- que está diretamente ligado ao desenvolvimento dos poços de Greater Sunrise -- apontando previsões de receitas de Timor-Leste oscilam entre os "28 e os 54 mil milhões de dólares, dependendo do preço do petróleo", com uma receita estimada de 32 mil milhões a um preço de 70 dólares por barril.

"A Taxa Interna de Retorno está entre 12 e 15 % para 'upstream' e cerca de 10% para 'downstream', dependendo da tarifa acordada. Valores razoáveis dentro de projetos comercial e economicamente viáveis para investimentos", apontou Monteiro.

A Timor Gap considerou os valores referidos por Monteiro "incorretos e são, no mínimo, especulativos", recordando o "constrangimento causado" à empresa quando Monteiro "apresentou uma análise económica incorreta do projeto Tasi Mane durante as negociações das Fronteiras Marítimas" com a Austrália.

Dados, explicou a empresa, que "foram refutadas por consultores independentes conjuntamente nomeados pelos Governos da Austrália e de Timor-Leste".

A empresa referiu o relatório desses consultores que permite "verificar os 15 erros cometidos nos pressupostos económicos baseados nos valores apresentados pela Timor Gap", notando, como exemplo, que as receitas previstas de 32 mil milhões de dólares se baseiam num preço de crude de 62,50 e não de 70 dólares por barril.

A direção da Timor Gap sustentou que a sociedade timorense pode "ser induzida em erro ao sonharem com estes montantes, quando, na verdade, se pode tornar um pesadelo antes de acordarem".

Por isso, e "em vez de destabilizar a população com números irreais, é melhor que preste atenção ao que é necessário, limpando o nome da Timor Gap de várias investigações, e clarificando com a Câmara de Contas o que decorreu durante os últimos anos da sua gestão" na empresa.

A empresa considerou que ao divulgar segredos sobre o setor -- "mesmo segredos falsos" -- está "a cometer um crime ao abrigo da Lei das Atividades Petrolíferas".

A Timor Gap acrescentou que a prova da falsidade dos números de Monteiro é demonstrada "pelos bancos" e que o próprio Governo chinês "recusou financiar este projeto devido à falta de valores económicos realistas".

ASP // LFS 

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