Díli,
10 mai (Lusa) - Timor-Leste continua mergulhado no debate sobre a conveniência
de ensinar e aprender o português e ainda longe de temas sobre "a finura"
da língua, como os do Acordo Ortográfico (AO), disse à Lusa um dos principais
linguistas timorenses.
"Não
se chegou ainda aos níveis de debate de subtileza da língua. Ainda estamos
muito longe. A grande prioridade é a disseminação da língua em si e não se é a
antiga ou a nova", explicou à Lusa Benjamim Corte-Real, diretor-geral do
Instituto Nacional de Linguística (INL) da Universidade Nacional de Timor
Lorosae (UNTL).
Corte-Real
considerou que, em Timor-Leste, temas como os debates relacionados com o Acordo
continuam distantes, apesar do INL estar já a trabalhar no sentido da sua
implementação.
"Na
comissão nacional do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP),
trabalhamos já em perfeita sintonia com o AO, embora alguns membros não tenham o
domínio perfeito", afirmou.
"O
estado de espírito, mesmo a nível do ministério é no sentido de implementar o
AO", sublinhou.
Mas
esses debates mais técnicos ainda estão longe, até porque importa é disseminar
o português por Timor-Leste, processo, disse, que exige "que se
intensifique a leitura, se cultive a leitura, a sensibilidade artística da
língua".
"Temos
que criar um espírito competitivo. Uma campanha forte para se ter noções mais
finas do uso da língua. A minha perceção é que há disposição, prontidão por
parte da população em geral sobre o português. Basta ir injetando incentivos
para as pessoas poderem começar essa nova aposta", afirmou.
Timor-Leste
ratificou o AO em 2009, com três resoluções do Parlamento Nacional sobre a
matéria: 14/2009 que aprova a adesão, a 18/2009 que aprova o segundo protocolo
modificativo e a 19/2009 que aprova o protocolo modificativo.
O
tema voltou a suscitar alguma atenção só no ano passado quando se deslocou a
Timor-Leste uma delegação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa
(IILP) para ajudar a promover a o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua
Portuguesa (VOC), o Portal do Professor de Português (PPPLE) e o Vocabulário
Ortográfico Nacional de Timor-Leste (VON-TL).
Tal
com ocorre em Portugal ou noutros países, em Timor-Leste também se ouvem vozes
com opiniões discordantes sobre vantagens e desvantagens do AO, ainda que, pela
situação do país, este seja um debate "muito prematuro".
Sobre
aspetos mais técnicos, como um maior recurso á fonética que o AO implica, Corte-Real
admitiu que simplificações como retirar letras mudas pode ajudar em palavras
'importadas' do português para o tétum, como 'ação'.
"O
tétum segue o princípio de que para começar é melhor começar simples e fácil.
Não é sempre fonética, nem fonémica. Mas retirar as consoantes silenciosas, por
exemplo, pode, na correspondência, ser uma coincidência feliz", afirmou.
"É
maior vantagem para o tétum escrever hospital sem H. Do ponto de vista do
tétum. Mas isto não significa que vamos escrever em português sem 'h'. Já
retirar o 'c' mudo de uma palavra portuguesa faz muito sentido, no caso das
palavras importadas", referiu.
Corte-Real
recordou que, nos primeiros anos da ocupação indonésia, quando o indonésio era
imposto aos timorenses, muitos também tinha alguma resistência, mas que hoje a
realidade é outra.
"O
indonésio não foi logo aprendido nos primeiros anos. Foi muita criticado.
Aprendiam palavras soltas para passar a mensagem falsa de submissão, para
assegurar a sobrevivência. Mas foi sempre visto como algo inferior ao estatuto
das línguas já conhecidas em Timor na altura, nomeadamente o português",
afirmou.
O
Acordo Ortográfico foi ratificado pela maioria dos países lusófonos, à exceção
de Angola e Moçambique. Em Angola ainda nem foi aprovado pelo Governo e em
Moçambique aguarda a ratificação pelo parlamento.
Portugal
e Brasil estabeleceram moratórias para a aplicação do acordo, estando prevista
a entrada em vigor efetiva a 13 de maio e a 01 de janeiro próximos,
respetivamente.
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// VM
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