Pequim,
06 jul (Lusa) -- Os credores da Grécia deveriam ter em consideração a garantia
dos direitos humanos do povo para fechar um acordo financeiro, considera o
especialista da ONU Pablo Bohoslavsky, para quem maiores medidas de austeridade
não ajudarão o país.
"Tenho
a impressão de que a União Europeia (UE) se esqueceu que a lei internacional de
direitos humanos tem e deveria ter um papel chave nas finanças", declarou
numa conferência de imprensa em Pequim o argentino especialista das Nações
Unidas em dívida externa e direitos humanos.
Para
Bohoslavsky, se "as partes envolvidas na tragédia grega prestassem mais
atenção ao que a lei dos direitos humanos diz, tudo seria mais fácil, sobretudo
para o povo grego".
Após
a vitória do Não no referendo na Grécia sobre as últimas propostas dos credores
(Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), o
perito assinalou que a mensagem do povo grego foi clara: "Não a mais
medidas de austeridade".
"Na
verdade, se olhar para os dados, as medidas de austeridade não ajudaram à
recuperação do país", adiantou.
Bohoslavsky
encontra-se em visita à China para promover os direitos humanos nos empréstimos
internacionais, como os que irão ser realizados pelo recém-criado Banco
Asiático de Investimento em Infraestruturas (BAII) e o Novo Banco de
Desenvolvimento do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Para
garantir o respeito e a proteção dos direitos humanos nos países recetores dos
empréstimos, o analista aconselha a criação de um mecanismo independente que
controle o resultado das ações das instituições, "no qual a sociedade
civil deve ter um papel primordial", explicou à agência noticiosa
espanhola EFE.
Segundo
Bohoslavsky, quer o BAII quer o banco dos BRICS têm que gerir com cuidado um
"assunto importante": o que fazer quando um país tem problemas
económicos ou financeiros para devolver o dinheiro dos empréstimos.
O
especialista aconselha um alívio da dívida sem acrescentar "condições
dolorosas" que prejudiquem os direitos humanos no país recetor, para
evitar cair em erros cometidos por outras instituições semelhantes.
"O
BAII e o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS devem lutar por um bom
historial de gestão de riscos, de consulta com as pessoas e as comunidades e
mostrar que os projetos financiados por eles evitarão e atenuarão os impactos
sociais negativos melhor que outras (instituições)", defendeu.
PAL
// APN
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