Díli,
06 ago (Lusa) - O ex-Presidente da República timorense José Ramos-Horta
considerou hoje que "não há razão nenhuma" para o primeiro-ministro
da Guiné-Bissau ser demitido, apelando ao chefe de Estado guineense para que
seja uma força "conciliadora e de estabilidade" no país.
"Das
informações que me chegam, e conheço intimamente a situação na Guiné-Bissau,
não há razão nenhuma para que o primeiro-ministro Domingos Simões Pereira possa
ser substituído", afirmou, em entrevista à Lusa, o enviado especial do
presidente da República de Timor-Leste para a Guiné-Bissau e Guiné Equatorial.
A
possibilidade de o chefe de Estado demitir o executivo é admitida por fontes
partidárias e diplomáticas ouvidas pela Lusa em Bissau, na sequência de
dificuldades de relacionamento entre o Presidente, José Mário Vaz, e o
primeiro-ministro.
O
chefe de Estado iniciou na quarta-feira, como previsto na Constituição, uma
série de audições, que continuam hoje, antes de uma prevista declaração à
nação.
Ramos-Horta
considera "natural" que o primeiro-ministro possa querer levar a cabo
uma remodelação no elenco governativo, "porque é sua competência
constitucional" mas não que "venha do PR uma iniciativa do género
quando não há a mais pequena razão para tal".
Para
o Nobel da Paz, o papel do chefe de Estado é promover o diálogo e a
estabilidade, "não é interferir constantemente na governação".
"Aparentemente,
apesar dos meus apelos, da conversa que tive com o Presidente, o diálogo e a
solidariedade institucional não têm sido a realidade e a prática ao longo
destes 12 meses desde a formação do primeiro Governo após o golpe de
2012", explicou.
O
líder timorense manifestou-se esperançado que o Presidente guineense, José
Mário Vaz, siga os conselhos que lhe deu mesmo ainda antes de tomar posse, quando
se reuniram nas Nações Unidas.
"Eu
disse que nas circunstâncias da Guiné-Bissau, como era o meu país quando era
presidente, eu via o papel do Presidente da República de conciliador, de
reconciliador, de um homem que procura sarar as feridas, de criar condições de
estabilidade, de paz para que o Governo possa governar", afirmou.
"Foi
o que eu fiz em Timor, de 2007 a 2012 e esperava que na Guiné-Bissau o
Presidente eleito viesse a fazer isso. No fim do seu mandato de cinco anos
poderá deixar como legado ao país ser visto como o pai do diálogo, da
reconciliação, de unir a família guineense", disse.
Ramos-Horta
destacou as grandes melhorias nos indicadores económicos e nas condições de
vida da população guineense, com a melhoria no fornecimento elétrico e de água,
nomeadamente em Bissau.
"A
cidade começou a ser mais habitável, mais limpa. Em pouco tempo. Nem no meu
país, em Timor-Leste, com muitos mais recursos conseguíamos fazer isso",
disse, congratulando o chefe do Governo e o seu executivo por esses progressos.
"Por
isso, quando ouvimos de repente essas informações, ficamos surpreendidos que
possa haver queda do Governo dirigido pelo PM Domingos Simões Pereira",
afirmou.
Explicando
que a situação está a preocupar o atual chefe de Estado timorense, Taur Matan
Ruak, Ramos-Horta recordou todo o apoio dado por Timor-Leste e pela comunidade
internacional, afirmando que qualquer alteração repentina no Governo terá
efeitos na relação.
"Não
se pense na Guiné-Bissau que depois de uma alteração repentina de um Governo
democraticamente constituído, de um primeiro-ministro eleito com mandato
popular e que depois a situação vai continuar como habitual. Haverá uma revisão
de toda a nossa estratégia, de todo o nosso relacionamento com a
Guiné-Bissau", afirmou.
Ramos-Horta
recordou que só Timor-Leste deu 10 milhões de dólares para apoio à
Guiné-Bissau, a que se somam milhões de dólares de apoio para o processo
eleitoral, especialmente da Comunidade Económica dos Estados da África
Ocidental (CEDEAO), da União Europeia (EU), da China e de Portugal.
"Depois
de tanto investimento feito por Timor-Leste e pela comunidade internacional
(...) para incentivar também a estabilidade naquele país (...), Face a todo
este sacrifício realizado pelo meu país, face aos esforços realizados por
outros países, vamos agora deitar isto tudo por terra", questionou.
ASP
(LFO) // VM
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