Rojer
Rafael Tomás Soares* - Tempo Semanal ,
opinião
A
problemática do pedido de asilo dos refugiados aos países da Europa, incidindo
na União Europeia, tem gerado uma onda de solidariedade e protesto pelos atores políticos e populações desses países respetivamente. Por um lado, a forte
divulgação da situação dos refugiados, através dos meios de comunicação, tem exercido dois sentimentos totalmente oponentes pelos nacionais
dos países da Europa. Por outro lado, por de
trás desta onda migratória, sendo que o maior número
dos refugiados são oriundos da Síria, causado pelo conflito
e guerra, está uma série de questões de cariz político,
geoestratégico, violação de direitos humanos e
segurança envolvidas.
Reportando-me
ao final de 2010, altura em que se despoletaram revoltas civis pelo Norte de
África estendendo-se ao Médio Oriente em busca do derrube de regimes
autoritários para instauração de sistema político de cariz democrático,
denominada Primavera Árabe, fez emergir o sentimento de busca por uma maior
igualdade de direitos em prol de exigências económicas e sociais,
procurando-se assim uma maior abertura política, e consequentemente uma
maior participação dos cidadãos na esfera pública e processo de decisão nos
seus países. Ainda que alguns desses países contassem com a vitória após a
deposição dos seus dirigentes, o que é certo é o insucesso dessa luta
mergulhada em mortes, sofrimento, violações de direitos humanos, medo e guerra
face à repressão e desprezo dos regimes autoritários, respondendo com violência
às contestações populares. O apoio dos Estados Unidos e da União Europeia com
especial destaque do Reino Unido e da França, quer militar, quer com armamento
aos grupos da oposição daqueles países, com o objetivo de instaurar a
estabilidade regional, em virtude do radicalismo islâmico e terrorismo,
contribuiu para aumentar e alimentar o conflito, designadamente fortalecendo o
“poder” do grupo que se auto denomina de Estado Islâmico.
Não
podemos nos esquecer que ao nível interno dos países árabes, são organizados
por divisões étnicas e religiosas e minorias, tratando-se, por isso, de uma
situação sóciopolítica complexa.
Ao
nível das esferas regional e internacional e geopolítica, a posição geográfica
da Síria agrega uma série de fatores que as principais potências mundiais e
regionais se envolvem numa competição política de influência na região. A Síria
faz fronteira com a Turquia, o Iraque, o Líbano, a Jordânia e Israel, e como já
referenciei acima tratam-se de países com divisões étnico-religiosas e que por
isso envolvem questões complexas em matéria de segurança e paz no Médio
Oriente. Acresce, ainda, o conflito israelo-árabe, conflito de longa data, e o
medo que se alastre ao nível da região, bem como a dependência mundial no
âmbito da exploração do petróleo. Assim como, é “o ultimo bastião de projeção do
poder russo no Médio Oriente desde a Guerra Fria e um corredor crucial tanto de
transporte de gás e petróleo para toda a região, bem como de abastecimento de
material militar para o Líbano” (Santos:2014).
Por
um lado, os EUA e a União Europeia contam com apoio financeiro e militar de
aliados da região, nomeadamente da Arábia Saudita e do Catar, na oposição ao
regime Assad. Nota-se que estamos a falar de dois países – Catar e Arábia
Saudita – altamente autoritários no mundo. A ambição de influência política na
região pelos EUA e aliados da União Europeia sobrepõe-se aos valores
democráticos. Por outro lado, temos a China e a Rússia a apoiar o regime sírio,
defensores da soberania e não ingerência em assuntos internos.
E
assim se alimenta o conflito na Síria, aumentando exponencialmente o número de
refugiados, que se dirigem para a Europa. Uma Europa fragilizada com a crise
económica, e agora desunida na resolução da crise dos refugiados. E assim, a
União Europeia vem perdendo legitimidade enquanto União política e económica de
referência mundial.
Com
este “abalo”, EUA e União Europeia, como aliados na política externa,
confrontam-se com a perda de influência mundial, constituindo-se uma
oportunidade de ganho de influência geoestratégica para a China e Rússia.
*Rojer
Rafael Tomás Soares, Licenciado em Estudos Europeus, Pela Faculdade de Letras,
Universidade de Lisboa.
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