Hong
Kong, China, 17 out (Lusa) -- O investigador da Universidade de Macau Newman
Lam manifestou hoje preocupação em relação à estabilidade do território, que
considerou uma "bomba" que a queda das receitas dos casinos pode
fazer rebentar.
Lam,
que falava na Conferência Anual da Associação de Ciência Política de Hong Kong,
acredita que Macau está à beira de uma crise, mas defende que isso pode não ser
mau.
O
investigador traçou um cenário de descontentamento crescente e de quebra da
legitimidade do Governo de Macau que, juntamente com a descida das receitas dos
casinos, principal fonte de receita pública e setor em que assenta a economia
da região, pode pressionar a população a agir.
Lam
apontou números do Programa de Opinião Pública de Hong Kong, relativos a 2014,
segundo os quais a satisfação da população de Macau em relação ao
desenvolvimento democrático atingiu 26,5% em 2014, o valor mais baixo desde que
os dados começaram a ser recolhidos.
Também
a confiança na fórmula chinesa "um país, dois sistemas" atingiu os
seus mínimos: 69,6%. E apenas 37,6% disseram no ano passado estar satisfeitos
com a proteção dos direitos humanos e 56,2% aprovaram o trabalho do chefe do
Executivo, segundo o mesmo inquérito.
"Qual
é o motivo para a descida da confiança? Depois da liberalização do jogo, o
fosso salarial aumentou, os ricos ficaram mais ricos, os pobres mais pobres. Os
preços do imobiliário subiram a pique, 28,2% da mão-de-obra é importada, o
Governo não consegue resolver o problema do trânsito. Macau está cheia, já nem
queremos ir até ao Senado, são demasiados turistas", resumiu.
O
investigador chamou também a atenção para o surgimento de novos "grupos
críticos" além da Associação Novo Macau, como a Juventude Dinâmica e a
Macau Civic Power, que, apesar de "poucos e pouco efetivos", são
"um sinal do que vem aí".
Ainda
assim, sublinhou que Macau tem sido uma cidade pacífica, com poucos protestos e
uma resposta moderada da sociedade civil. Mas a "crise do jogo" pode
vir a acabar com este cenário: "As pessoas de Macau põem muita ênfase na
harmonia. Não as temos visto agir como em Hong Kong. O que as pessoas pensam e
o que manifestam são coisas diferentes, elas inibem-se. A harmonia é uma coisa
boa, mas pode tornar-se uma bomba", afirmou.
O
académico acredita que há um sentimento de saturação que, aliado a uma
juventude "mais informada e que não aceita com tanta facilidade as
decisões da autoridade", pode fazer tremer a estabilidade social.
O
professor deu o exemplo da associação de estudantes de Macau que, "quando
se assinalou o fim da guerra, com uma enorme parada pela vitória [da China]
contra o Japão", disse que a data deveria ser lembrada com flores,
discursos e visitas aos túmulos dos que morreram.
"Nunca
vi nada assim acontecer na associação de estudantes. Acho que é um sinal claro
que estamos a olhar para uma geração com uma mente independente, que não aceita
apenas o que lhe dão, que pensa e que talvez até se atreva a falar",
acrescentou.
Lam
prevê também consequências para os bolsos dos residentes de Macau em 2016,
antecipando o fim dos cheques anuais à população, cortes no orçamento e
despedimentos nos casinos.
"Não
acreditem nos jornais que dizem que estamos no caminho da recuperação, os
jornais são controlados pelo Governo. Não vejo a China a amenizar a política
anticorrupção e, por isso, a recuperação de Macau não vai acontecer",
alertou.
O
que Macau precisa, defendeu, é de uma reforma económica, que reduza a
dependência do jogo e, acima de tudo, garanta acesso à habitação: "Acho
que esta crise vai pressionar o Governo e isso pode ser uma coisa boa. Quando
as pessoas se aperceberem que há uma bomba prestes a rebentar, talvez façam
alguma coisa para a impedir de explodir".
ISG
// ZO/JLG
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