sábado, 27 de fevereiro de 2016

ALGUNS QUÊS E PORQUÊS DA CRISE POLÍTICA QUE CRESCE EM TIMOR-LESTE


Beatriz Gamboa, opinião

Em Timor-Leste há uma crise política declarada e a subir de decibéis. Uma guerra de palavras e opções de índole política entre o Presidente da República e os líderes dos dois principais partidos (CNRT, de Xanana e Fretilin, de Alkatiri). Partidos políticos que há cerca de um ano se aliaram e formaram um governo conjunto a que o PR deu posse sem que realizasse eleições antecipadas, como devia.

O PR, Taur Matan Ruak, está abalançado na formação de um partido inspirado por si. Prepara-se para governar o país depois de terminar este mandato na presidência. Esse já é um problema. Nem Fretilin, nem CNRT, vêem com bons olhos a formação desse novo partido liderado por Taur. Fácil será perceber que o mais certo é ele vencer as eleições e vir a ser primeiro-ministro. Taur é muito bem quisto por grande parte dos timorenses, principalmente os do interior e mais carenciados. Ora, esses, são a maioria dos timorenses.

O pano de fundo é exatamente esse. O desagrado do CNRT e da Fretilin acerca dessa manobra política do atual PR. A crise por alguma circunstância tinha de acontecer. Foi agora. O pretexto serviu-se da exoneração do Chefe de Estado Maior das Forças de Defesa timorenses. O brigadeiro-general Lere Anan. Lere Anan atingiu os 60 anos de idade e parte para a reforma. É assim que mandam os regulamentos. O substituto, nomeado pelo PR foi o major general Filomeno Paixão. Só que o PR não cumpriu os trâmites necessários e obrigatórios na nomeação do novo CEMG. Constitucionalmente deve propor o nome do indigitado ao governo, que aceitará ou não. Ficando obrigados a encontrarem um consenso sobre quem ocupará o cargo.

Constata-se que as formalidades constitucionais não foram cumpridas por parte do PR Taur. Na verdade houve uma falha grave no seu procedimento. Essa foi a gota de água para o despoletar da crise. Foi o pretexto. A Fretilin e o CNRT viram aqui a grande oportunidade de desgastarem Taur Matan Ruak e combaterem o mentor do novo partido que temem, o de Taur. Desgastando politicamente Taur as consequências para o seu partido em formação podem vir a ser significativas ou até devastadoras. O que asseguraria à Fretilin e ao CNRT, aliados, a continuidade da detenção do poder governativo e outros. Para além de essa continuidade poder assegurar a manutenção da opacidade sobre “negócios” de Xanana Gusmão e CNRT, assim como também da grande família que é a Fretilin.

É voz corrente em Timor-Leste que predomina a opacidade acerca de vantagens proporcionadas à Fretilin e à família Alkatiri, assim como que é igualmente comentado sobre Xanana ter "metido no bolso a Fretilin" ao partilhar algumas vantagens. Esses são rumores em Timor-Leste. O que pode não corresponder à verdade. E isso é mau. Os rumores sempre foram uma das vertentes prejudiciais em TL. Não raras vezes se concluiu que não passavam de férteis imaginações a divagarem e a sujarem os nomes de gente honesta. Importa recolher provas e isso ainda está por fazer. A presunção de inocência é pomo de extrema importância em democracia.

Os receios sobre o alastrar da crise política que se desenha relembram 2006 e toda a espécie de crimes horrendos que Xanana provocou para se apoderar do poder governativo. Essa crise arrastou-se por cerca de dois anos. Muita destruição, muitas mortes, muitos feridos. Com o elevar de tom nesta chamada guerra entre Taur, Xanana e Alkatiri (entre PR e Governo) há quem tema uma nova cruzada de violência como em 2006. Isso mesmo pode constatar no título da peça escrita por António Veríssimo: LUTA DE GALOS. QUEM QUER O QUÊ DOS PODERES EM TIMOR-LESTE?

São receios legítimos de quem vive em Timor-Leste ou vive de coração e ama Timor-Leste, como esse meu bom irmão e colega nestas lides de blogues e da vida, o AV. Mas, sobre esses receios, caiu hoje uma certeza, uma garantia expressa por Xanana Gusmão, que diz que os “timorenses não permitirão repetição de crise de 2006”. Até onde podemos acreditar em Xanana? Haja bom senso.

O melhor é dizer à portuguesa o tradicional “ficamos à espera que assim seja, logo veremos”.

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