Acordo
Ortográfico, um "não-assunto" em Macau mas que já se vai ensinando
nas escolas
Macau,
China, 22 mai (Lusa) -- Em Macau, o Acordo Ortográfico continua a ser um
"não assunto", considerado "sem vantagens" para a maioria
dos operadores de português, mas o Governo admite que nas escolas oficiais se
"aplicam tanto as regras do antigo como do novo acordo".
Apesar
de o português ser um dos dois idiomas oficiais de Macau, onde é falado por
2,4% da população, a China não ratificou o Acordo Ortográfico e, assim, Macau
"não adotou as novas regras nos seus documentos oficiais", confirmou
à Lusa a Direção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ).
No
entanto, a DSEJ referiu que as escolas oficiais (as chamadas escolas
luso-chinesas), bem como no Centro de Difusão de Línguas "utilizam vários
tipos e fontes de materiais didáticos (...) incluindo versões que empregam,
quer as antigas, quer as novas regras de ortografia".
A
DSEJ referiu ainda que, além de incentivar alunos e professores a informarem-se
sobre as diferenças entre as duas grafias e de fornecer materiais e ações de
formação relativos às novas regras, desde 2010 que, com exceção de uma escola
de ensino infantil, as escolas oficiais "têm apresentado aos alunos as
novas regras de ortografia, assim como organizado, gradualmente, o respetivo
ensino e adaptação dos materiais didáticos".
Apesar
desta ambiguidade, a discussão sobre o tema não teve em Macau a amplitude
verificada em Portugal, onde o novo Presidente reacendeu recentemente o debate.
Em
abril, Macau recebeu a visita do linguista Malaca Casteleiro, por muitos tido
como o 'pai' do acordo, que se manifestou confiante relativamente a uma
eventual adoção por Macau. "Há de lá ir, a questão vai devagar. (...) O
acordo vai chegar lá", disse.
Não
se verifica, no entanto, qualquer mudança na comunicação institucional do
Governo ou nos tribunais -- ambos totalmente dependentes de uma pesada máquina
de tradução --, e nem o gabinete do chefe do executivo nem os Serviços de
Justiça quiseram pronunciar-se sobre uma eventual adoção ou uma rejeição
declarada do acordo.
Na
Universidade de Macau, com cursos de Português, não se ensina com o acordo e o
tema não foi discutido. "Alguns livros têm português com acordo. Mas não é
uma coisa que tenha ouvido falar, para nós é um não-assunto", disse à Lusa
Fernanda Gil, diretora do departamento de Estudos Portugueses.
Carlos
André, presidente do Centro Pedagógico e Científico de Língua Portuguesa do
Instituto Politécnico de Macau (IPM), que trabalha também com vários
professores e instituições na China continental, considerou que a não-adoção do
acordo não traz "qualquer inconveniente".
"Não
vejo vantagem nenhuma no Acordo Ortográfico. Eu não o adoto nos meus livros,
mesmo em Portugal", disse o académico.
"Trabalho
com o Interior da China e as duas grafias subsistem porque muitos professores
têm ligação ao Brasil. E nem é só a grafia mas também a semântica. Isso nunca
foi um problema. Não é um drama em Macau nem no Interior da China",
assegurou.
Além
de ter sido adotado no Instituto Português no Oriente, o acordo é também
ensinado na Escola Portuguesa de Macau. Apesar de não acusar dificuldades entre
os alunos, a vice-presidente da instituição, Zélia Mieiro, não considera
imperativo que a nova grafia seja generalizadamente adotada em Macau.
Por
seu lado, para Rui Rocha, diretor do Departamento de Língua Portuguesa e Cultura
dos Países de Língua portuguesa da Universidade Cidade de Macau, instituição
privada que desde 2012 ensina a língua com o novo acordo, a opção foi clara, já
que grande parte dos alunos que aprende português em Macau pretende trabalhar
noutros países lusófonos.
"Em
Macau isto é uma não-discussão, mas há uma clara posição da CPLP e creio que o
Fórum [para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de
Língua Portuguesa, sediado em Macau] podia ter essa missão", defende.
ISG
// VM
Na
comunicação social de Macau em português impera a grafia antiga, mas há
exceções
Macau,
China, 22 mai (Lusa) -- No panorama da comunicação social em português em
Macau, o Acordo Ortográfico é um tema quase esquecido: dos cinco jornais, rádio
e televisão, apenas um semanário, o mais recente, optou por usar a nova grafia.
João
Francisco Pinto, presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de
Macau, garante que não é uma questão que preocupe o setor.
"Nunca
falámos sobre o acordo, nem me parece que faça parte do caderno de encargos,
nunca foi levantado pelos sócios. Todos nós pertencemos a uma geração que foi
habituada a escrever de determinada forma e continuaremos a escrever à moda
antiga", explicou.
No
caso concreto do canal em português da TDM, de que é diretor de informação, há
uma "bi-posição": "Nos conteúdos produzidos para Macau, seguimos
a grafia antiga. No entanto, temos um projeto em curso que envolve cinco países
de língua portuguesa. Nos conteúdos para esses operadores, a legendagem tem o
novo acordo".
A
TDM transmite também conteúdos da RTP que incluem o acordo. "É um
bocadinho híbrido", concluiu.
O
Plataforma Macau, criado em 2014 com um foco especial no papel de Macau na
ligação entre a China e os países de língua portuguesa, foi o único a optar
pelo acordo.
"Não
tenho uma paixão em especial pelo português antigo ou pelo novo. Mas andarmos
no sentido da harmonização de coisas parece-me bem", comentou o diretor do
único jornal bilingue do território, Paulo Rego.
Para
o diretor do semanário, faz sentido a "harmonização da escrita", que
"facilita a produção de conteúdos, a internacionalização das vendas"
e permite "trocar mais letras".
"O
meu filho pega num jornal de Macau e o português não é o que ele aprende na
escola. Na China estão todos a aprender com o acordo. Acho bem que se discuta o
assunto, mas a questão costuma ser posta num plano emocional que não devia
ter", concluiu.
ISG
// VM
Sem comentários:
Enviar um comentário