segunda-feira, 23 de maio de 2016

ACORDO ORTOGRÁFICO EM MACAU


Acordo Ortográfico, um "não-assunto" em Macau mas que já se vai ensinando nas escolas

Macau, China, 22 mai (Lusa) -- Em Macau, o Acordo Ortográfico continua a ser um "não assunto", considerado "sem vantagens" para a maioria dos operadores de português, mas o Governo admite que nas escolas oficiais se "aplicam tanto as regras do antigo como do novo acordo".

Apesar de o português ser um dos dois idiomas oficiais de Macau, onde é falado por 2,4% da população, a China não ratificou o Acordo Ortográfico e, assim, Macau "não adotou as novas regras nos seus documentos oficiais", confirmou à Lusa a Direção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ).

No entanto, a DSEJ referiu que as escolas oficiais (as chamadas escolas luso-chinesas), bem como no Centro de Difusão de Línguas "utilizam vários tipos e fontes de materiais didáticos (...) incluindo versões que empregam, quer as antigas, quer as novas regras de ortografia".

A DSEJ referiu ainda que, além de incentivar alunos e professores a informarem-se sobre as diferenças entre as duas grafias e de fornecer materiais e ações de formação relativos às novas regras, desde 2010 que, com exceção de uma escola de ensino infantil, as escolas oficiais "têm apresentado aos alunos as novas regras de ortografia, assim como organizado, gradualmente, o respetivo ensino e adaptação dos materiais didáticos".

Apesar desta ambiguidade, a discussão sobre o tema não teve em Macau a amplitude verificada em Portugal, onde o novo Presidente reacendeu recentemente o debate.

Em abril, Macau recebeu a visita do linguista Malaca Casteleiro, por muitos tido como o 'pai' do acordo, que se manifestou confiante relativamente a uma eventual adoção por Macau. "Há de lá ir, a questão vai devagar. (...) O acordo vai chegar lá", disse.

Não se verifica, no entanto, qualquer mudança na comunicação institucional do Governo ou nos tribunais -- ambos totalmente dependentes de uma pesada máquina de tradução --, e nem o gabinete do chefe do executivo nem os Serviços de Justiça quiseram pronunciar-se sobre uma eventual adoção ou uma rejeição declarada do acordo.

Na Universidade de Macau, com cursos de Português, não se ensina com o acordo e o tema não foi discutido. "Alguns livros têm português com acordo. Mas não é uma coisa que tenha ouvido falar, para nós é um não-assunto", disse à Lusa Fernanda Gil, diretora do departamento de Estudos Portugueses.

Carlos André, presidente do Centro Pedagógico e Científico de Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau (IPM), que trabalha também com vários professores e instituições na China continental, considerou que a não-adoção do acordo não traz "qualquer inconveniente".

"Não vejo vantagem nenhuma no Acordo Ortográfico. Eu não o adoto nos meus livros, mesmo em Portugal", disse o académico.

"Trabalho com o Interior da China e as duas grafias subsistem porque muitos professores têm ligação ao Brasil. E nem é só a grafia mas também a semântica. Isso nunca foi um problema. Não é um drama em Macau nem no Interior da China", assegurou.

Além de ter sido adotado no Instituto Português no Oriente, o acordo é também ensinado na Escola Portuguesa de Macau. Apesar de não acusar dificuldades entre os alunos, a vice-presidente da instituição, Zélia Mieiro, não considera imperativo que a nova grafia seja generalizadamente adotada em Macau.

Por seu lado, para Rui Rocha, diretor do Departamento de Língua Portuguesa e Cultura dos Países de Língua portuguesa da Universidade Cidade de Macau, instituição privada que desde 2012 ensina a língua com o novo acordo, a opção foi clara, já que grande parte dos alunos que aprende português em Macau pretende trabalhar noutros países lusófonos.

"Em Macau isto é uma não-discussão, mas há uma clara posição da CPLP e creio que o Fórum [para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, sediado em Macau] podia ter essa missão", defende.

ISG // VM

Na comunicação social de Macau em português impera a grafia antiga, mas há exceções

Macau, China, 22 mai (Lusa) -- No panorama da comunicação social em português em Macau, o Acordo Ortográfico é um tema quase esquecido: dos cinco jornais, rádio e televisão, apenas um semanário, o mais recente, optou por usar a nova grafia.

João Francisco Pinto, presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau, garante que não é uma questão que preocupe o setor.

"Nunca falámos sobre o acordo, nem me parece que faça parte do caderno de encargos, nunca foi levantado pelos sócios. Todos nós pertencemos a uma geração que foi habituada a escrever de determinada forma e continuaremos a escrever à moda antiga", explicou.

No caso concreto do canal em português da TDM, de que é diretor de informação, há uma "bi-posição": "Nos conteúdos produzidos para Macau, seguimos a grafia antiga. No entanto, temos um projeto em curso que envolve cinco países de língua portuguesa. Nos conteúdos para esses operadores, a legendagem tem o novo acordo".

A TDM transmite também conteúdos da RTP que incluem o acordo. "É um bocadinho híbrido", concluiu.

O Plataforma Macau, criado em 2014 com um foco especial no papel de Macau na ligação entre a China e os países de língua portuguesa, foi o único a optar pelo acordo.

"Não tenho uma paixão em especial pelo português antigo ou pelo novo. Mas andarmos no sentido da harmonização de coisas parece-me bem", comentou o diretor do único jornal bilingue do território, Paulo Rego.

Para o diretor do semanário, faz sentido a "harmonização da escrita", que "facilita a produção de conteúdos, a internacionalização das vendas" e permite "trocar mais letras".

"O meu filho pega num jornal de Macau e o português não é o que ele aprende na escola. Na China estão todos a aprender com o acordo. Acho bem que se discuta o assunto, mas a questão costuma ser posta num plano emocional que não devia ter", concluiu.

ISG // VM

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