Hong
Kong, China, 25 mar (Lusa) - Centenas de pessoas manifestaram-se hoje em Hong
Kong "em prol do sufrágio universal e contra a interferência de
Pequim" nos assuntos da cidade, um dia antes da eleição do novo chefe do
Executivo.
A
antiga número dois do governo Carrie Lam, o ex-secretário John Tsang e o juiz
jubilado Woo Kwok-hing são os três candidatos a chefe do Executivo de Hong
Kong.
"Seja
qual for o candidato que seja eleito, isto não é democracia, isto é apenas uma
eleição [feita] por um pequeno círculo", disse hoje aos jornalistas Au
Nok-hin, coordenador da Civic Human Rights Front, que organizou o protesto, em
referência ao facto de o direito de voto estar restrito a um comité eleitoral
composto por cerca de 1.200 pessoas.
O
atual chefe do Executivo, CY Leung, foi eleito em 2012 com apenas 689 votos.
A
manifestação de hoje juntou vários partidos políticos do campo pró-democrata, o
qual está maioritariamente dividido entre apoiantes do candidato John Tsang, e
outros que vão votar em branco, em protesto contra uma eleição restrita a
apenas cerca de 1.200 membros do comité eleitoral.
Alan
Leong, líder do Civic Party, marcou presença na manifestação "para
protestar contra a interferência do governo central na eleição do chefe do
Executivo de Hong Kong".
"Esta
eleição está dentro [das competências] da autonomia de Hong Kong e o Gabinete
de Ligação [do Governo Central da China] tem usado meios (...) para aumentar a
pressão sobre os membros do comité eleitoral para votarem em Carrie Lam",
disse à agência Lusa.
Pequim
prometeu deixar os residentes de Hong Kong escolherem o seu próximo líder em
2017 por voto direto - metodologia que colocaria fim ao atual sistema de
eleição do chefe do Executivo, assente no referido comité eleitoral - mas com a
condição de que os candidatos fossem aprovados por um comité de nomeação, algo
que os pró-democratas contestaram, alegando que assim só os candidatos
pró-Pequim teriam luz verde.
Essa
reforma política foi chumbada pelo Conselho Legislativo de Hong Kong em junho
de 2015, com o campo pró-democrata a votar em bloco contra a proposta.
Alan
Leong defendeu o chumbo da reforma política proposta por Pequim, tendo por
outro lado defendido o "posicionamento estratégico" de apoiar Tsang,
que até ser candidato a chefe do Executivo era membro da equipa do governo do
contestado atual líder da cidade, CY Leung.
"Se
tivéssemos aprovado a proposta de reforma política [proposta por Pequim], John
Tsang não poderia ser candidato. Pelo menos agora, o seu nome está no boletim
de voto", disse.
"Nos
últimos dois meses, com a aproximação da eleição e com a sua campanha, John
Tsang ganhou o 'coração' de muitos residentes de Hong Kong. Ele lidera as
sondagens, e as pessoas estão preparadas para lhe dar uma oportunidade de unir
Hong Kong", afirmou.
Também
na manifestação, Leung Kwok-Hung - conhecido como 'Long Hair' ou 'Cabelo
Comprido' - tem garantido, de forma automática, o direito de voto na eleição de
domingo pelo facto de ser deputado, mas vai usar "esse privilégio"
para "votar em branco".
"Hoje
é a véspera da eleição do chefe do Executivo. Penso que temos o dever de
mostrar às pessoas de Hong Kong e ao resto do mundo que estamos a pedir uma
verdadeira democracia, o sufrágio universal para Hong Kong", disse à Lusa.
'Long
Hair' contesta o apoio de grupos pró-democratas ao ex-secretário para as
Finanças: "Penso que é um pouco ridícula essa lógica. Parece que eles são
contra a pré-seleção dos candidatos por Pequim, e contra a candidatura
'pró-Pequim' de Carrie Lam, mas apoiam a candidatura de John Tsang".
A
também deputada Lau Siu-lai e outra das vozes do protesto de hoje também vai
votar em branco: "Eu vou votar, mas não em nenhum dos candidatos. (...)
Não queremos nenhum dos candidatos que eles escolheram para nós",
explicou.
"O
sufrágio universal não é possível por agora, mas vamos continuar a lutar por
ele", disse, antecipando que o resultado da eleição "é difícil de
prever".
O
jovem ativista político Joshua Wong, que ficou conhecido como o rosto da
"Umbrella Revolution" em 2014 em Hong Kong não tem direito de voto na
eleição do chefe do Executivo, mas se tivesse também votava em branco.
"Os
três candidatos concordam ou mantêm silêncio sobre a interferência do governo
de Hong Kong e também concordam com a implementação do artigo 23, por isso é
difícil para nós apoiar qualquer um dos candidatos pró-China", disse.
Para
Joshua Wong, "o processo de democratização em Hong Kong depende do
Presidente Xi Jiping e não de que for o próximo chefe do Executivo de Hong
Kong".
"Sobretudo
numa altura em que o Presidente Xi está a endurecer a linha em Hong Kong, é uma
batalha longa lutarmos pelo nosso futuro", disse.
FV
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