Macau,
China, 02 set (Lusa) -- O candidato às eleições legislativas de Macau José
Pedruco Achiam, que viu a sua entrevista ao semanário Plataforma ser apagada
por ordem da comissão eleitoral, garantiu hoje que a sua lista não fez
"nada de ilegal".
"Não
sei porque é que aconteceu (...) Muitos leitores podem também ter a mesma
[dúvida]. Não fazemos nada ilegal por isso tenho a certeza de que o nosso
advogado vai lidar bem com o caso", disse hoje, à margem de uma
conferência de imprensa para apresentar a plataforma política da já deputada
Angela Leong, no dia em que começa o período de campanha.
José
Pedruco Achiam ocupa o lugar número 12 (o último) na lista Nova União para o
Desenvolvimento de Macau, liderada pela quarta mulher do magnata do jogo
Stanley Ho.
O
candidato não quis tecer comentários sobre o caso, frisando apenas que não
prevê consequências negativas para a lista: "A nossa equipa está sempre
confiante que tudo o que fazemos é legal e esperamos conseguir os melhores
resultados que merecemos".
Questionado
sobre se já foi contactado pela polícia, José Pedruco Achiam disse ter sido
"por isso" que o advogado "tomou conta do caso".
No
passado dia 18, o macaense deu uma entrevista ao semanário bilingue
(português-chinês) Plataforma Macau, em que falou sobre quais considerava serem
as possibilidades de ser eleito -- "mínimas" --, as preocupações em
relação à cidade e os temas fortes da futura campanha, prometendo
"centrar-se nos jovens e nos macaenses, para que tenham uma voz mais forte
na Assembleia Legislativa e na sociedade".
Na
altura, tinham já sido afixadas as listas definitivas, mas não iniciado o
período de campanha, e por isso a comissão considerou que o conteúdo constituía
propaganda eleitoral, não autorizada até duas semanas antes das eleições
legislativas, marcadas para 17 de setembro.
A
entrevista saiu em papel, mas após a ordem da Comissão de Assuntos Eleitorais
da Assembleia Legislativa (CAEAL) foi retirada da Internet.
Na
quarta-feira, o presidente da CAEAL, o juiz Tong Hio Fong, explicou que a
publicação da entrevista em causa não tem consequências para a lista, mas sim
para José Pedruco Achiam: "Relativamente a esse candidato, mandámos para a
PSP para tratamento subsequente. É um ato pessoal, é responsabilidade da
pessoa. Pode sofrer uma pena de multa de duas mil a 10 mil patacas (207 a 1.038
euros)".
Na
sexta-feira, o diretor do Plataforma Macau, Paulo Rego, escreveu um editorial
em que acusa o presidente da CAEAL de uma "perversa confusão entre
jornalismo e propaganda".
"Tong
Hio Fong acha que, em vésperas de eleições, os políticos não devem falar aos
jornais; se o fizerem que falem de futebol e do tempo", criticou,
considerando que "assim se atropela alegremente a Lei Básica, a Lei de
Imprensa e o Segundo Sistema".
"Na
China chama-se censura. Assumidamente, sem medo nem pruridos, por ser esse o
regime que lá vigora. Aqui mascara-se a coisa com uma falsa higiene pública e
de uma moral política que não cabe no espaço, no tempo e no regime que
vivemos", afirmou o diretor do Plataforma, que apagou a entrevista da sua
página na Internet "para sinalizar o respeito pela lei, pelas instituições
e por Macau", mas prometeu lutar "contra uma decisão que não tem
suporte legal.
A
ordem de retirada da entrevista levou a Associação de Imprensa em Português e
Inglês de Macau (AIPIM) a emitir, na segunda-feira, um comunicado no qual
repudiou a decisão, que classificou como "incompreensível".
"A
AIPIM repudia esta situação, considerando incompreensível que um conteúdo
jornalístico, neste caso uma entrevista, seja equiparado a propaganda. (...) A
AIPIM considera que é fundamental que em todas as ocasiões e períodos,
inclusive antes do início da campanha eleitoral, o exercício da liberdade de
imprensa e o direito à informação sejam integralmente respeitados, incluindo a
realização de entrevistas e cobertura noticiosa de ações envolvendo
candidatos", afirmou o comunicado.
ISG
// JPS
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