Díli,
13 out (Lusa) - O VII Governo constitucional timorense, minoritário, enfrenta
na próxima semana no Parlamento o primeiro grande teste com o debate do
programa do Executivo a poder condicionar a vida no país até meados de 2018.
Um
eventual chumbo do texto, para o qual são precisas duas moções de rejeição da
oposição que controla 35 dos 65 lugares do Parlamento Nacional, implica a queda
do Governo, que tomou posse há um mês, e abre o cenário a eventuais eleições
antecipadas, condicionando o orçamento do Estado do próximo ano e a
estabilidade política do país, de acordo com a legislação em vigor em
Timor-Leste.
Ainda
antes de receberem o documento preparado pela coligação da Frente
Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e do Partido Democrático
(PD), as restantes três forças parlamentares, Congresso Nacional da
Reconstrução Timorense (CNRT), Partido Libertação Popular (PLP) e Kmanek
Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), constituíram-se em bloco de
alternativa de governação.
Na
quinta-feira, as três forças consolidaram o acordo com a assinatura de um
documento sobre a "plataforma de Aliança de Maioria Parlamentar"
(AMP), o que faz regressar ao país os debates de há 10 anos, quando uma
coligação liderada pelo CNRT - segundo mais votado nessa altura como este ano -
liderou a primeira AMP para assumir o Governo.
Após semanas de negociações, o PLP e o KHUNTO acabaram por rejeitar fazer parte da coligação do Governo e o CNRT, cujo líder Xanana Gusmão tinha rejeitado qualquer coligação e garantido que daria estabilidade ao executivo, volta a liderar uma aliança contra a Fretilin.
Após semanas de negociações, o PLP e o KHUNTO acabaram por rejeitar fazer parte da coligação do Governo e o CNRT, cujo líder Xanana Gusmão tinha rejeitado qualquer coligação e garantido que daria estabilidade ao executivo, volta a liderar uma aliança contra a Fretilin.
A
Constituição e a legislação em vigor determinam que o Programa do Governo tem
que ser debatido durante um máximo de cinco dias consecutivos e não exige
sequer que o documento seja votado. O parlamento agendou para isso toda a
próxima semana.
A
votação só terá que se realizar caso o Governo apresente um voto de confiança -
pouco provável - ou da oposição apresentar uma moção de rejeição que terá que
ser aprovada pela maioria dos deputados.
Se
isso ocorrer - e a moção de rejeição pode ser apresentada em qualquer momento
ao longo dos cinco dias de debate - o Governo tem depois até um máximo de 30
dias para submeter um novo Programa do Governo que volta a ter cinco dias para
debate.
Caso
esse segundo programa seja alvo de uma nova moção de rejeição o Governo cai.
A
decisão sobre o que acontece a seguir está nas mãos do Presidente timorense que
terá de optar entre encontrar uma solução governativa dentro do atual
parlamento, ou convocar eleições antecipadas.
A
Constituição define que o parlamento não pode ser dissolvido nos seis meses
posteriores à sua eleição, que neste caso ocorreu a 22 de julho, o que
significa que isso só pode ocorrer depois de 22 de janeiro.
Os
prazos seguintes são ditados pela lei eleitoral que explica que em caso de
dissolução do Parlamento Nacional, o chefe de Estado "fixa, por decreto, a
data da eleição dos Deputados (...) com a antecedência mínima de sessenta
dias".
Este
prazo é necessário para cumprir todos os trâmites relacionados com o processo
eleitoral, desde o registo de partidos à campanha eleitoral, e implica que, no
mínimo, as eleições antecipadas só possam decorrer a partir de 22 de março.
No
caso das anteriores eleições, de 22 de julho passado, o Tribunal de Recurso só
validou os resultados definitivos oito dias depois (a 01 de agosto) e os
membros do parlamento só tomaram posse mais de um mês depois (a 05 de
setembro), sendo que só quase dois meses depois do voto é que o Governo tomou
posse, e só um mês depois disso é que o programa do executivo começa a ser debatido.
As
eventuais moções de rejeição adiariam o processo de eventual aprovação do
orçamento retificativo para este ano e condicionariam também o processo de
debate e aprovação do Orçamento do Estado para 2018 que, segundo a lei de
Orçamento e Gestão Financeira, teria que ser apresentado ao Parlamento Nacional
até domingo, 15 de outubro, prazo que não pode ser cumprido.
Sem
Orçamento do Estado aplica-se o regime duodecimal o que significa, na prática,
que em cada mês o Governo só pode gastar o máximo de um doze avos do Orçamento
do ano anterior, neste caso 2017.
Dado
o calendário eleitoral previsto, Timor-Leste poderá ter que viver com um
orçamento do Estado duodecimal durante grande parte do ano, já que todo o
processo - tomada de posse do Parlamento, formação de Governo, tomada de posse
do Governo, aprovação de Programa do Governo e do Orçamento do Estado -
demorará ainda vários meses.
Apesar
do crescente papel do setor privado, o setor público em Timor-Leste continua a
ter um peso dominante na economia pelo que prolongar os efeitos que têm sido a
grande desaceleração de gastos públicos este ano seria punitivo para todos os
setores económicos.
Ainda
que o Estado esteja a fazer uma gestão corrente em muitos dos casos, a fraca
execução orçamental real - era de apenas 51% no final do terceiro trimestre num
ano que já era de grande contenção orçamental - mostra que o grande
investimento e os grandes projetos estarão paralisados.
Com
vários setores de atividade a sentirem já os efeitos do período eleitoral e o
momento de instabilidade política, mais atrasos ampliaram ainda mais esses
efeitos.
ASP
// EJ
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