Resgate por mergulho de crianças
e treinador em gruta na Tailândia "não é oportuno"
Chiang Rai, Tailândia, 06 jul
(Lusa) - O resgate, por mergulho, de 12 crianças e do seu treinador de futebol,
que estão retidos numa gruta na Tailândia, "não é oportuno", admitiu
hoje o chefe da equipa de salvamento.
"Os rapazes não podem fazer
mergulho neste momento", adiantou Narongsak Osottanakorn, que é também
governador da província tailandesa de Chiang Rai.
Porém, as equipas de resgate que
estão a tentar retirar 12 rapazes e o seu treinador de uma caverna inundada na
Tailândia têm "um tempo limitado" para os salvar, face ao agravamento
das condições climatéricas e diminuição do oxigénio.
"Pensávamos que os rapazes
ficariam seguros dentro da caverna por algum tempo, mas as circunstâncias
mudaram. Temos um tempo limitado", comentou o comandante dos fuzileiros
tailandeses Arpakorn Yookongkaew.
A operação que está a ser
realizada na gruta de Tham Luang Nang Non, no norte da Tailândia sofreu a
primeira baixa quando um antigo fuzileiro tailandês desmaiou debaixo de água
sem que fosse possível reanimá-lo.
Os níveis de oxigénio estão a
diminuir por causa dos trabalhadores que estão dentro da caverna e que estão a
tentar levar mais oxigénio para as câmaras, além das botijas de oxigénios
usadas pelos mergulhadores, segundo o governador da província de Chiang Rai.
Um comandante do Exército, o
major-general Chalongchai Chaiyakam, disse que a missão mais urgente é a
instalação de uma linha de oxigénio, ligada a uma linha telefónica que sirva de
canal de comunicação com as crianças, que estão presas no complexo, mas estão a
ser acompanhadas por quatro fuzileiros, incluindo um médico.
Os rapazes, com idades entre 11 e
16 anos, e o seu treinador de 25 anos foram explorar a caverna depois de um
jogo de futebol no dia 23 de junho.
As inundações resultantes das
monções bloquearam-lhes a saída e impediram que as equipas de resgate os
encontrassem durante nove dias, já que a única maneira de chegar até ao local
onde se encontram é mergulhando através de túneis escuros e estreitos, cheios
de água turva e correntes fortes.
As autoridades têm bombeado a
água da caverna antes que as tempestades previstas para os próximos dias
aumentem os níveis novamente.
As autoridades querem retirar as
crianças o mais rapidamente possível pois esperam-se chuvas fortes no sábado.
Especialistas em resgate de
cavernas disseram que poderia ser mais seguro fornecer mantimentos aos rapazes
no local e esperar que as inundações diminuam.
No entanto, isto pode levar
meses, dado que a estação das chuvas na Tailândia geralmente dura até outubro e
sem níveis adequados de oxigénio, ficar parado também pode ser fatal.
FC (RCR) // ARA
Saman Kunan: O mergulhador que
morreu a tentar salvar crianças da gruta
O mergulhador que morreu depois
de ter deixado uma reserva de oxigénio às 12 crianças e ao seu treinador de
futebol, presos numa gruta inundada no norte da Tailândia, é Saman Kunan, de 38
anos, proveniente de Roi Et e antigo membro da marinha tailandesa.
Saman Kunan era praticante de
triatlo e gostava muito de desportos de aventura.
Deixou a Marinha em 2006, quando
começou a trabalhar no aeroporto de Suvarnabhumi. Segundo explicaram alguns
membros da Marinha, num texto em forma de tributo após a sua morte, Saman nunca
perdeu a ligação com os colegas e ainda continuava a participar de algumas das
atividades da unidade onde tinha estado.
O antigo membro da Marinha
tailandesa é descrito pelos colegas como "talentoso" e determinado.
Mesmo estando já fora da Marinha,
resolveu ajudar nas operações de resgate das crianças presas na gruta, de forma
voluntária.
Antes de embarcar no avião que o
levou até ao local do incidente, em Chiang Rai, Saman gravou um vídeo em que
explicava que estava no aeroporto de Suvanahabhumi, "acompanhado por
médicos da Marinha e mergulhadores do Sea World, que tem doado muitos equipamentos
de mergulho". "Vejo-vos esta noite. Nós vamos trazer as crianças para
casa", disse o antigo membro da Marinha.
No entanto, durante a madrugada
desta sexta-feira, "depois de entregar uma reserva de oxigénio, ficou sem
oxigénio para regressar" à superfície, anunciou o vice-governador da
província de Chiang Rai, Passakorn Boonyaluck.
"Ficou inconsciente no
caminho de regresso, e o companheiro de mergulho tentou ajudar", disse o
chefe dos comandos da Marinha tailandesa, Apakorn Yookongkaew. Mas mesmo depois
de perdermos um homem, ainda temos fé de conseguir o nosso trabalho",
referiu, acrescentando que estão com o "tempo limitado".
O nível de oxigénio no interior
da gruta desceu para 15%, sendo normal estar nos 21%. A presença de centenas de
pessoas envolvidas no resgate está a diminuir o pouco oxigénio que ainda
existe. No total, são cerca de mil, entre mergulhadores da Marinha, militares e
civis que se voluntariaram para ajudar.
Este acidente ocorreu quando as
equipas de socorro e busca dos 12 rapazes e do seu treinador de futebol sub-16,
presos numa gruta há 13 dias, aceleravam os preparativos para a sua retirada,
antes do regresso anunciado da chuva.
Ainda é incerto como é que a
morte deste mergulhador irá afetar a operação de resgate, mas sabe-se que irão
ser tomadas mais precauções na retirada das crianças - que têm entre 11 e 16
anos - e do treinador de 25 anos, segundo explicou o comandante dos Seal's
tailandeses contra almirante Arpakorn. Eu posso garantir que nós não vamos
entrar em pânico, não vamos parar a nossa missão e não vamos deixar que o
sacrifício do nosso amigo seja desperdiçado", disse.
Nas últimas horas têm vindo a ser
prestados tributos a Saman, que tem sido considerado um herói nacional, e a
cerimónia de repatriação está a ter lugar no aeroporto internacional Mae Fah
Luang, em Chiang Rai.
As autoridades estão numa corrida
contra o tempo, uma vez que as monções estão a começar a afetar a zona e há
receio de que as tentativas de resgate que envolvam mergulhar para fora das
caves subterrâneas se tornem impossíveis.
Esta sexta-feira, o presidente da
FIFA, Gianni Infantino, emitiu um comunicado a convidar os rapazes e o treinador a assistirem à final do
Mundial 2018, em Moscovo, Rússia, no dia 15 de julho, esperando que se
possam juntar às suas famílias nos próximos dias e que a sua saúde lhes permita
viajar.
Ana Regina Ramos | Jornal de Notícias
(ontem)
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